SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Forças rebeldes pró-Irã houthis do Iêmen abateram, na quarta (8), um drone de ataque americano MQ-9 Reaper no mar Vermelho, na primeira ação do tipo desde que a guerra Israel-Hamas começou, há pouco mais de um mês.
Os houthis são uma minoria xiita do país árabe, em guerra civil desde 2014 contra o governo central. São apoiados e financiados pelo Irã, em oposição às forças oficiais de maioria sunita, que têm suporte da Arábia Saudita.
O mar Vermelho é um perigoso e instável teatro secundário do conflito iniciado quando o Hamas palestino lançou o mega-ataque terrorista de 7 de outubro, respondido por Tel Aviv com maior operação militar da história da Faixa de Gaza.
Os houthis, assim como o Hezbollah libanês ao norte, declararam apoio aos palestinos. Com recursos limitados pela distância e pelo fato de o território que controlam estar do outro lado do mar em relação a Israel, iniciaram uma campanha com mísseis e drones.
Até aqui, promoveram ao menos cinco ataques contra a costa sul israelense. Nesta quinta (9), um drone atingiu pela primeira vez na guerra a principal cidade israelense na região, Eilat, e os houthis são os principais suspeitos de terem lançado o aparelho. Não houve feridos.
Logo que o conflito começou em Israel, os Estados Unidos mobilizaram formidável poder de fogo no Oriente Médio para apoiar o aliado. O alvo da dissuasão é o Irã, que manteve uma postura ambígua, incentivando seus prepostos regionais a manter Tel Aviv sob pressão, mas sem uma escalada ampla do conflito para não se chocar com os americanos.
Mas incidentes como o de quarta estão na conta do risco do ambiente saturado de ativos militares. O mar Vermelho tem hoje um grupo de porta-aviões, liderado pelo USS Dwight Eisenhower e sua escolta de três navios, além de outras quatro embarcações e um submarino nuclear americano.
É uma área de operação relativamente pequena, e o fato de os houthis poderem atingir Eilat, a 1.500 km de distância de suas bases, dá a noção do perigo para navios americanos. Há duas semanas, um deles, o destróier USS Carney, abateu uma leva de mísseis de cruzeiro e drones que rumava a Israel.
Todas essas embarcações têm meios de defesa sofisticados, mas não está fora do radar a possibilidade de serem atacadas. A assimetria na guerra naval moderna é bem conhecida: em 1998 um destróier americano, o USS Cole, foi atacado no porto de Áden (Iêmen) por um barco-bomba da rede Al Qaeda, e navios russos são alvo de drones marítimos da Ucrânia no mar Negro constantemente na guerra ora em curso.
Já a derrubada do drone Reaper, principal modelo de ataque dos EUA que já teve uma unidade derrubada no choque com um caça russo no mar Negro neste ano e outras assediadas sobre a Síria por Moscou, adiciona tensão ao cenário. Os houthis divulgaram um vídeo, que não tem como ser validado como verdadeiro, mostrando a ação. Para executá-la, provavelmente usaram sistemas antiaéreos soviéticos 2K12 Kub.
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Modelos inicialmente produzidos nos anos 1970, eles eram operados pelo Iêmen e foram capturados pelos rebeldes. Em 2019, os houthis já haviam abatido um Reaper americano com a bateria de mísseis, além de diversos drones da Arábia Saudita em operação na região. Cada drone desse tipo custa cerca de R$ 150 milhões.
O mar Vermelho não é a única preocupação dos americanos. Desde o começo da guerra, suas bases no Iraque e na Síria passaram a sofrer ataques constantes de drones, nenhum com muita gravidade. Em retaliação, na noite de quarta caças americanos bombardearam uma base ligada à Guarda Republicana do Irã na Síria.
Já no Mediterrâneo, a presença do grupo de porta-aviões liderado pelo USS Gerald Ford, maior e mais novo modelo do tipo do mundo, serve de lembrança ao Hezbollah para não entrar com tudo no conflito. Em discurso na semana passada, o líder do grupo, Hassan Nasrallah, fez uma ameaça à frota dos EUA, dizendo que ela era vulnerável.
Especula-se que o grupo, que tem um sofisticado arsenal de foguetes e mísseis, tenha tido acesso a modelos antinavio russos por meio do Irã, com capacidade de atingir alvos a 300 km de distância. Não há, contudo, confirmação disso.
O Hezbollah, contudo, teria muito a perder em caso de uma confrontação direta com os americanos: a chance de obliteração de suas bases pelo poder de fogo dos EUA seria muito grande, maior mesmo do que em uma guerra aberta com Israel, que o grupo e seus padrinhos em Teerã não desejam no momento.
Mas, como o abate do Reaper lembra, incidentes isolados podem levar a escaladas imprevisíveis.
ISRAEL DIVULGA BALANÇO DE ATAQUES
As Forças de Defesa de Israel divulgaram nesta quinta (9) um balanço dos ataques sofridos durante a guerra com o Hamas, incluindo na contagem ações do Hezbollah e dos houthis.
Foram 9.500 lançamentos de foguetes, mísseis, morteiros e drones, 3.000 dos quais no ataque inicial do Hamas, em 7 de outubro. Em comparação, em todas as guerras de 2008 contra o Hezbollah e na operação contra o Hamas em 2014, foram lançados contra Israel 4.000 foguetes.
Na categoria foguetes e morteiros, 2.000 foram abatidos em voo, segundo Israel, com uma proporção não divulgada caindo sem danos e outra, com vítimas e destruição.
Os israelenses dizem que 12% dos artefatos lançados de dentro de Gaza pelo Hamas e pela Jihad Islâmica falharam e caíram dentro do território palestino. Não há uma avaliação independente desses dados.
IGOR GIELOW / Folhapress