TAMANDARÉ E PORTO DE GALINHAS, PE (FOLHAPRESS) – Um estudo feito por pesquisadores e ambientalistas aponta que os recifes de corais geram até R$ 167 bilhões ao Brasil em economia ao atuar na proteção costeira e na promoção do turismo. O levantamento inédito foi feito pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e divulgado nesta terça-feira (31).
A estimativa do estudo é que cerca de R$ 7 bilhões são gerados anualmente pelo turismo nos recifes, enquanto R$ 160 bilhões na proteção da costa.
Os recifes de corais são verdadeiros condomínios imersos na água que abrigam ou são meios de deslocamento de espécies marinhas, além de acumular algas. Nos recifes, são encontrados 65% dos peixes do mar.
Os recifes de corais se conectam por meio de um esqueleto de carbonato de cálcio. Eles estão concentrados no Nordeste do Brasil e espalhados por cerca de 3.000 quilômetros ao longo da costa, ocupando uma área de aproximadamente 170 quilômetros quadrados na região Nordeste, entre o sul da Bahia e o Maranhão.
Essas estruturas marinhas possibilitam redução de danos causados por ressacas em cidades litorâneas, alagamentos e erosões em regiões costeiras.
Segundo os organizadores, o objetivo do estudo é contribuir para a elaboração de políticas públicas em prol da conservação dos recifes de corais e incentivar a proteção à zona costeira do Brasil.
Eles estimam que, para cada quilômetro quadrado de recifes, R$ 941 milhões são economizados em danos evitados.
“A degradação de recifes de corais aumenta a vulnerabilidade da costa, principalmente em situações de eventos extremos que podem gerar grandes danos e perdas materiais e imateriais. Se o atual quadro de deterioração dos recifes de corais permanecer inalterado, as regiões costeiras estarão ainda mais expostas à inundação e erosão”, afirma Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo.
O estudo indica que as mudanças climáticas podem ampliar a intensidade de chuvas, ressacas e furacões, aumentando a energia das ondas. Com isso, os recifes podem ter valor econômico maior na proteção das comunidades marinhas.
“Os investimentos na conservação e restauração de recifes de corais, além de todos os benefícios ecológicos, representam uma parcela muito pequena em comparação aos custos que podem ser gerados pela falta de proteção costeira. Não há dúvidas de que a infraestrutura convencional de proteção costeira, com quebra-mares, diques, muros e paredões, traz custos muito maiores”, diz Christofoletti.
O estudo selecionou quatro cidades com população em escala diferente –Recife, Ipojuca (PE), Maragogi (AL) e São Miguel dos Milagres (AL)– para analisar os recifes de corais.
A partir disso, foram abalisados os prejuízos evitados em áreas residenciais, comerciais, industriais e na infraestrutura pública urbana, como estradas, rodovias, pavimentos e calçadas nessas quatro cidades.
Em seguida, os cientistas fizeram uma projeção para as demais cidades com recifes de corais, levando em conta a área ocupada pelas espécies, a infraestrutura de cada cidade e a população de cada município.
Cada quilômetro quadrado de recife de coral saudável é capaz de gerar até R$ 62,7 milhões ao ano em receitas ligadas ao turismo de sol e praia e mergulho, segundo a projeção.
O estudo indica que o valor relativo à proteção costeira fornecida pelos recifes de corais no Brasil é mais elevado que o de outros países do mundo, por representar um retrato atual das áreas vulneráveis.
O Brasil possui mais de 60 espécies de corais, algumas delas exclusivas do país. Parte desses ecossistemas é protegida por 21 unidades de conservação marinha.
Os impactos chegam ao cotidiano das pessoas, pois os recifes de corais são fontes de matéria-prima para medicamentos, melhoram a qualidade da água e contribuem para a provisão de alimentos e meios de subsistência, como a pesca artesanal
“Apesar de ocuparem menos de 0,1% do fundo do oceano, os recifes de corais têm papéis ecológicos essenciais, oferecendo abrigo e alimentos para cerca de 25% das espécies marinhas”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
Após a divulgação, os pesquisadores pretendem procurar o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, governos estaduais e as prefeituras cujos municípios possuem recifes de corais nas costas marinhas.
As principais ameaças aos recifes de corais são as mudanças climáticas, a poluição dos mares, turismo desordenado, pesca predatória, especulação imobiliária e espécies invasoras. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), até 90% dos recifes de coral podem ser perdidos até 2050.
Uma das principais ameaças é o branqueamento provocado pelo aquecimento e acidificação do oceano, revelando o esqueleto de carbonato de cálcio da espécie, o que reduz a capacidade reprodutiva. A redução da calcificação pode provocar a morte dos corais.
O estudo demonstra que é mais eficiente economicamente a promoção da conservação dos recifes de corais do que ceder às pressões que podem afetar ainda mais esse ecossistema, como a especulação imobiliária e o turismo predatório.
Quanto ao turismo, as receitas geradas foram calculadas a partir de informações de mercado e análise das atividades de turismo nos cinco principais destinos turísticos ligados a recifes de corais no país: Fernando de Noronha e Ipojuca (Porto de Galinhas), em Pernambuco; Maragogi e São Miguel dos Milagres, em Alagoas; e Caravelas (Abrolhos), na Bahia.
O estudo ainda alerta que, em caso de deterioração do cenário, os destinos com poucas opções de roteiro turístico, como São Miguel dos Milagres e Caravelas (BA), podem ser mais impactados caso haja uma diminuição do turismo devido ao declínio da saúde dos recifes de coral.
“Municípios com economias locais mais sólidas, onde os recifes de coral não são a principal ou única razão para visita, podem não sentir o mesmo impacto econômico da ausência dos mesmos”, afirma trecho do estudo. A prática de mergulho é comum em parte dos municípios da costa brasileira que contam com os recifes de corais.
JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress