RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Censo Demográfico 2022 foi marcado por atrasos e pela alta rejeição de parte da sociedade na hora de informar os dados solicitados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A contagem da população brasileira começou em 1° de agosto de 2022. Inicialmente, o IBGE planejava finalizar a coleta em três meses, até outubro.
O instituto, contudo, encontrou uma série de dificuldades para avançar nos trabalhos. Assim, a fase de apuração do Censo, que incluiu coletas residuais, só foi encerrada em maio de 2023. Ou seja, a operação de campo se estendeu por quase dez meses.
Na fase inicial da coleta, recenseadores reclamaram de atrasos em pagamentos e de valores menores do que os esperados. Com isso, houve desistências de profissionais e até ameaças de greve de parte da categoria.
Como mostrou a Folha em outubro, recenseadores também se queixaram de fake news sobre a pesquisa em meio à corrida eleitoral.
ELEIÇÃO POLARIZADA E FALAS DE BOLSONARO IMPACTAM, DIZ INTERINO
O Censo costuma ser realizado de dez em dez anos. A nova edição estava prevista para 2020, mas foi adiada para 2021 em razão das restrições da pandemia.
Em 2021, houve novo adiamento, dessa vez motivado pelo corte de verba no governo Jair Bolsonaro (PL).
Assim, a contagem da população ficou para 2022. O orçamento para a pesquisa só foi liberado após o STF (Supremo Tribunal Federal) ser acionado.
Em entrevista coletiva na segunda-feira (26), o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, disse que o Censo começou em meio à disputa de uma “eleição extremamente polarizada”, o que prejudicou a coleta dos dados pelos recenseadores.
Ele não citou o nome de Jair Bolsonaro (PL), mas afirmou que o IBGE sofreu críticas do “presidente da República”, “sobretudo na taxa de desemprego”. “Então, isso de alguma forma tem um impacto”, disse.
Em 2019, Bolsonaro questionou a metodologia do cálculo de desemprego usada pelo instituto, que segue parâmetros internacionais.
Já em 2021, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o IBGE estava “na idade da pedra lascada”.
SP PUXA TAXA DE RECUSAS
A taxa de não resposta ao Censo 2022 foi de 4,23% no país todo. Esse é o percentual de domicílios onde o IBGE constatou que havia moradores, mas não conseguiu fazer as entrevistas.
Já a taxa de recusa alcançou 1,38%. Trata-se do percentual de domicílios onde as pessoas negaram o fornecimento das informações.
A recusa no Censo até ficou abaixo do nível de 2,21% registrado no primeiro trimestre em outra pesquisa do instituto, a Pnad Contínua.
Os dados da contagem da população, porém, mostram diferenças entre as regiões do Brasil. O estado de São Paulo, o mais populoso, chama atenção nesse aspecto. A taxa de não resposta local alcançou 8,11%, e a de recusa, 2,34%.
Questionado se esses percentuais impactaram o resultado geral da população brasileira, Azeredo disse que a cobertura está “muito consistente” e que o IBGE está “bastante contente” com os resultados.
O presidente interino lembrou que, em pesquisas como o Censo, e não só no Brasil, é usada a técnica de imputação em domicílios ocupados cujos moradores não participam das entrevistas. Trata-se de uma estimativa.
Segundo Azeredo, a imputação não prejudicou o resultado geral. “Hoje, a gente tem total certeza de que a população é essa que está colocada, os 203 milhões”, disse.
Em 2022, a população imputada no Brasil foi de quase 8 milhões, o equivalente a 3,92% do total. A contada alcançou 195,1 milhões.
No Censo de 2010, a parcela resultante do processo de imputação havia sido de 2,8 milhões, segundo o IBGE. Foi menos de 2% do total à época.
O município paulista de Santana de Parnaíba teve a maior porcentagem de não resposta do Brasil (16,8%) entre aqueles com mais de 100 mil habitantes. Maracanaú, no interior do Ceará, registrou a taxa de recusa mais elevada (5,2%).
Para tentar diminuir a rejeição ao Censo, o IBGE realizou ações neste ano em bairros de alta renda de grandes cidades. Segundo o instituto, houve dificuldades para acessar parte dos condomínios nessas áreas.
IBGE RECONHECE ORÇAMENTO APERTADO
O presidente interino do IBGE disse que as restrições orçamentárias impactaram os trabalhos. Segundo Azeredo, a pesquisa encontrou “diversos problemas”, incluindo verba reduzida para publicidade em torno de R$ 60 milhões.
“A gente não teve o recurso suficiente para fazer a publicidade e isso atrapalhou bastante. Outro ponto, o recurso não foi suficiente para dar uma remuneração adequada aos recenseadores”, disse.
O presidente interino ainda disse que o IBGE não pode partir para a próxima contagem da população “sem um quantitativo de servidores adequado”.
Azeredo assumiu a presidência do órgão em janeiro ou seja, com o Censo em andamento. Até então diretor de pesquisas, ele substituiu o economista Eduardo Rios Neto, exonerado no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na segunda, Azeredo fez elogios ao Ministério do Planejamento em razão de ações desenvolvidas em parceria e da liberação de recursos adicionais para o Censo neste ano.
O IBGE está sob o guarda-chuva da pasta no governo Lula. Na gestão Bolsonaro, o instituto estava ligado ao Ministério da Economia.
LEONARDO VIECELI / Folhapress