SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A redação da Fuvest, o vestibular da USP (Universidade de São Paulo), poderá cobrar diferentes gêneros textuais a partir da próxima edição, aplicada em 2025, e não mais apenas textos dissertativos-argumentativos como ocorre há mais de duas décadas.
A mudança na redação, permitindo que sejam propostos diferentes gêneros textuais, faz parte de um movimento da Fuvest para cobrar diferentes habilidades dos candidatos. Poderá ser proposto, por exemplo, que os estudantes elaborem textos em formato de carta, crônica, discurso, entre outros formatos.
A informação foi obtida pela Folha com exclusividade. Depois de mais de 20 anos sem sofrer mudanças, a Fuvest, um dos mais tradicionais vestibulares do país, anunciou nesta segunda-feira (16) alterações no conteúdo cobrado e na forma como as questões são elaboradas.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) desde 2025 adota formato similar de redação. Neste ano, os candidatos tinham que escolher entre duas propostas: escrever uma carta de denúncia de trabalho doméstico análogo à escravidão ou elaborar o texto de um discurso sobre refugiados e asilo político.
Gustavo Mônaco, diretor executivo da Fuvest, disse que a banca de elaboração da redação passa a ter liberdade para propor qualquer gênero textual a partir da prova que será aplicada em 2025, chamada de Fuvest 2026.
“A banca agora tem autonomia e liberdade para propor outros gêneros textuais. Não sabemos se vão querer propor já no próximo ano, mas ela está autorizada a isso”, disse.
Segundo ele, a mudança ocorreu após o entendimento de que, cobrar apenas a elaboração de dissertações, limita a avaliação.
“Como esse é um padrão há muito tempo, alguns professores passaram a ensinar ao aluno um modelo pré-fabricado de redação. A gente não quer que seja assim, nós queremos selecionar um aluno que pense, que seja criativo. Não aquele que consegue repetir um modelo.”
OUTRAS MUDANÇAS
As mudanças na Fuvest incluem também a a cobrança de novos componentes curriculares no vestibular. A partir da próxima edição, conteúdos de filosofia, sociologia, educação física e artes passam a ser formalmente exigidos nas questões.
Esses conteúdos já são previstos no currículo escolar do ensino médio, mas, até então, não eram formalmente exigidos na Fuvest. A reformulação do conteúdo programático do vestibular está alinhada ao que já define a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), documento que orienta o que deve ser ensinado em todas as escolas do país.
“O que estamos fazendo é, na verdade, adequar a Fuvest à forma como os currículos e as escolas já trabalham. Ficamos 20 anos sem mexer no programa do vestibular e agora estamos nos adequando ao que as escolas já ensinam no ensino médio”, disse Mônaco.
Além da mudança no conteúdo, as perguntas da Fuvest também passam a ser mais interdisciplinares e integrar disciplinas de uma mesma área, a exemplo do que ocorre no Enem.
Na base, os conteúdos escolares são divididos em quatro áreas de conhecimento: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. No ensino médio, o documento já inclui como obrigatório que os alunos aprendam conteúdos de filosofia, sociologia, educação física e artes
As mudanças foram aprovadas na semana passada no Conselho de Graduação da USP, depois de terem sido discutidas em grupos de trabalhos com professores de diversas unidades.
A Fuvest 2026 também terá, pela primeira vez, uma lista de leitura obrigatória só com obras escritas por mulheres.
ISABELA PALHARES / Folhapress