Reforma administrativa tem que rever concurso público, defende Haddad

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo está aberto a discutir a reforma administrativa, e defendeu que ela reveja a forma como os concursos públicos são feitos no Brasil.

“Os concursos ainda são muito mal feitos, eles ainda selecionam de forma enviesada e não são os mais adequados”, disse Haddad durante entrevista ao programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, que foi ao ar na noite deste domingo (17).

O ministro também disse que o estágio probatório, período de 36 meses no qual se avalia o servidor nas funções do cargo para o qual foi nomeado, não é levado a sério no país.

Questionado sobre o fim da estabilidade do servidor em alguns cargos, porém, Haddad desconversou. “Se a gente selecionar bem, se a gente fizer um bom estágio probatório e se a gente fizer uma boa progressão de carreira, que efetivamente leve em conta o desempenho, você tem os ingredientes necessários para um bom serviço público”, afirmou.

Segundo o ministro, esses tipos de mudança poderiam ser feitas rapidamente. Ele afirmou que o governo está aberto a encarar uma reforma administrativa, desde que debatida de forma correta.

“Essa é uma pauta que é da ministra Esther Dweck, do Ministério da Gestão e da Inovação. É uma pauta dela. Penso que ela vai falar cada vez mais do assunto, até porque é um assunto que está na ordem do dia”, afirmou. “Ela tem um diagnóstico muito razoável do que precisa ser feito”, completou.

META FISCAL

Haddad também foi questionado ao longo do programa a respeito das metas fiscais do governo, como a de zerar o déficit no próximo ano. O mercado tem se mostrado cada vez mais cético quanto à capacidade do governo de entregar déficit zero em 2024.

Segundo Haddad, pela lógica aritmética, a forma como o arcabouço fiscal foi desenhado garante que o país entregue superávit primário em um futuro próximo. A questão, disse ele, é quando isso acontecerá. “Nós temos condição de fazer acontecer mais rápido do que as pessoas imaginam”, afirmou.

O ministro disse que é legítima a dúvida sobre se a equipe econômica conseguirá entregar os resultados primários prometidos, mas garantiu que o governo está trabalhando 24 horas por dia em medidas saneadoras, que trarão receita extra para equilibrar as contas públicas.

O petista reconheceu que os problemas econômicos do Brasil não estão resolvidos e que as metas do governo são ambiciosas. “Eu sei os desafios que estão colocados. As metas que nós nos impusemos são desafiadoras. Está tudo na conta”, afirmou.

Segundo o ministro, o governo preferiu estipular metas mais desafiadoras para mostrar que está disposto a “arrumar a casa” e fazer o país crescer. “Se não formos claros sobre os nossos propósitos desde o começo, se não for para valer, nós vamos derrapar. E derrapar na reta é a pior coisa que tem”, declarou.

Haddad ressaltou as condições macroeconômicas mundiais adversas e disse que é preciso estar preparado para enfrentar a situação. O ministro afirmou que não é momento de relaxar, e destacou que não dá para brincar com a inflação, problema que afeta especialmente as camadas mais pobres da população.

INTERLOCUÇÃO DE ALTO NÍVEL

Questionado sobre a necessidade da aprovação do Congresso para garantir medidas que aumentarão a receita do governo, Haddad disse acreditar na democracia.

Ele afirmou que a interlocução com o Congresso, o Judiciário e o Banco Central são de alto nível, e foi o que permitiu que o governo cumprisse 100% de sua agenda econômica no primeiro semestre.

“Sou o primeiro a elogiar o Congresso Nacional”, disse Haddad. “O Congresso está sensível, não é talento de uma pessoa”, afirmou em referência ao seu papel na articulação de medidas com os parlamentares.

APOSTAS ESPORTIVAS

Haddad também falou sobre a medida que tramita no Congresso de tributar as apostas esportivas. Segundo o ministro, o mundo digital provocou grandes mudanças na população e está presente no dia a dia das pessoas, o que torna difícil a proibição de apostas no meio digital.

O petista defendeu que, com a taxação, o Estado consiga disciplinar e inibir o excesso da atividade na internet, e também adote medidas para dirimir o vício nos jogos. Segundo o ministro, o Estado não pode virar as costas para essa questão e fingir que não existe.

STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress

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