SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Museu do Futebol e a Allegra, responsável pela concessão do Pacaembu, travam uma briga de narrativas em decorrência das obras realizadas no estádio.
O conflito atinge a Prefeitura de São Paulo, que notificou a Allegra para se explicar após a divulgação de um relatório de obras encomendado pela IDBRasil Cultural, Educação e Esporte, organização social que administra o Museu, inaugurado em 2008.
No documento assinado por um escritório de arquitetura, os técnicos listam possíveis danos e prejuízos causados ao museu em decorrência das obras de reforma e modernização do estádio iniciadas em junho de 2023.
Nesse período, o Museu do Futebol também passa por reformas e funciona de forma parcial. A reinauguração estava prevista para maio deste ano, mas a organização do museu afirmou, em nota, que não será possível cumprir o prazo.
Entre os possíveis prejuízos como consequência das intervenções promovidas pela Allegra, o relatório enumera danos no elevador e na pintura, infiltração em todos os setores da arquibancadas (sobre o museu) e vazamentos e goteiras na biblioteca e mediateca do Centro de Referência do Futebol.
Na biblioteca, os técnicos apontam que caixas de tomadas elétricas foram atingidas pelas águas e que livros foram danificados.
As obras nos estádios também romperam com cabos de internet e linha telefônica e internet, diz o documento.
Em uma notificação extrajudicial, advogados da IDBrasil escrevem que, nas obras promovidas pela Allegra, há o registro de queda de objetos na marquise, o que colocou em risco a segurança de funcionários e visitantes do museu.
O imbróglio foi publicado no blog do colunista Juca Kfouri, no UOL, em texto escrito pelo arquiteto e urbanista Nabil Bonduki.
“É impressionante a falta de profissionalismo que se vê na obra realizada pela Allegra Pacaembu. O canteiro, irregularmente instalado na praça Charles Miller, é uma bagunça”, afirmou Bunduki. “O amadorismo fica evidente na obra da arquibancada norte, que gerou os vazamentos no museu, que são inadmissíveis.”
A IDBrasil lista um prejuízo de quase R$ 78,5 mil. A conta inclui um vazamento de água, em janeiro deste ano, que teria alagado o setor administrativo e o espaço expositivo.
Em nota à Folha de S.Paulo, a Allegra afirmou que as equipes técnicas e a diretoria da concessionária mantêm diálogo constante com os representantes do museu, para eventuais reparos e ajustes nos cronogramas de ambas as obras.
Em resposta à notificação da IDBRasil, a Allegra afirmou que a concessionária do museu também realiza reparos em parte do Pacaembu em que “podem ter ocorrido supostos danos” e, assim, tenta “eximir-se das responsabilidades”.
A Allegra também reclamou que o escritório os arquitetos e o engenheiro da empresa, responsável pelo laudo, não tiveram autorização para acessar nas áreas do Pacaembu sob responsabilidade de sua gestão.
Por fim, a Allegra diz que a IDBRasil não vem pagando a parte que lhe cabe na conta de água.
A IDBrasil não se manifestou sobre a queixa da conta de água e, em nota à Folha, reiterou que é “de total interesse do Museu que o Estádio do Pacaembu seja plenamente restaurado e rapidamente reintegrado à vida esportiva e cultural da cidade”.
Já a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que, após receber a documentação da IDBRasil, abriu um processo administrativo e notificou a Allegra. “É necessário aguardar a referida manifestação para dar andamentos às análises necessárias”, disse a prefeitura.
A relação entre a Allegra e a prefeitura vem sofrendo desgastes desde setembro de 2022. Na ocasião Nunes disse que não entregaria à empresa a praça Charles Miller, monumento que fica em frente ao estádio.
No mais recente episódio, Nunes anunciou a proibição de um show de Roberto Carlos agendado para o Pacaembu na sexta (19). O veto ocorreu devido à comprovação de falta de segurança no local por vistoria conjunta do Corpo de Bombeiros e do Contru, órgão municipal que atesta a segurança das edificações.
O espetáculo, que inauguraria o espaço, foi programado para 3.000 pessoas no segundo subsolo da arena.
CARLOS PETROCILO / Folhapress