SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Lady Brigitte estava tensa. Era a próxima a subir ao palco. Com os olhos fechados e respiração ofegante, acariciava sua escrava, Dandara -que se apresentava como uma jaguatirica. Tudo mudou em poucos minutos. Sob os holofotes, a mulher era outra. Chicoteou, queimou e espalmou a trêmula subjugada. Depois, discursou.
“Estar nesta competição é a realização de uma vida. Mais incrível ainda é ser a única mulher aqui, num ambiente tão machista quanto o do fetiche”, disse. A poucos metros, um homem de meia-idade mostrava o dedo médio em reprovação. O público pouco aplaudiu.
A disputa citada era a do Mister Fetish. Concurso de performances fetichistas mundial, ele teve sua primeira edição brasileira concluída na madrugada deste sábado (23). A sede foi o Augusta Hi-fi, casa noturna no centro de São Paulo.
Além de Brigitte, outras quatro pessoas concorriam ao prêmio de R$ 1.000. Há um mês, a semifinal credenciara a turma ao título. Preto Fetichista e Robert Leather representavam os dominadores. Dog Kafan e Pup Gaara levantavam a bandeira dos adeptos do pet play, prática de se vestir e comportar como um animal.
Maioria dos presentes no evento fazia parte da matilha. Rabos abanavam por todos os ambientes, lambidas eram distribuídas, e uivos eram emitidos.
Havia ali outro espécime abundante. Eram os ursos, como são chamados os gays parrudos e peludos. A presença deles era motivada pela Brutus, festa organizada para a classe ocorrendo junto ao espetáculo de fetiches. Eles, porém, queriam dominar o espaço.
Por volta da 1h, intervalo foi chamado pelo apresentador do Mister Fetish. Surgia brecha para os felpudos. Uns começaram a tirar as roupas e desfilar nus. Outros preferiam usar os órgãos para algo: sexo anal ali mesmo. Ao andar, era fácil tropeçar em alguém de joelhos. A dark room, no subsolo, foi esquecida.
“Vou tirar uma foto e mandar para minha mãe. Ela vai amar saber os lugares que frequento”, comentou André Guerra, 44. Logo, desistiu.
Fim do entreato. Às 2h, todos pararam suas atividades para acompanhar o desenrolar do torneio. Preto Fetichista açoitou o saco escrotal de seu assistente com pedaço de madeira. O atingido berrava, depois sorria. Espectadores vibravam.
Dog Kafan e Pup Gaara, os cachorros, apostaram em exibir seus truques. Rolaram, dançaram, saltaram e rebolaram.
Foi de Robert Leather, entretanto, a apresentação mais aclamada. O homem de salto plataforma e lentes em verde-fluorescente amarrou uma corrente ao pescoço de seu submisso. Este lambia seus pés. Na sequência, houve enforcamento, espancamento e humilhações verbais. Tudo terminou com um beijo molhado.
A massa ficou catártica. O júri, composto por Dom Barbudo, Valentina Severo e Mestre Baco -velha-guarda da comunidade fetichista brasileira- levantou de suas poltronas no mezanino para saudar o participante. O resultado era certo, só faltava confirmação.
Por aclamação, Robert tornou-se majestade. “É lindo poder representar tanta gente. É fantástico ser quem somos”, gritou emocionado. A madrugada terminou com um decreto do homem: a libertinagem deveria continuar até todos estarem satisfeitos. Então, uma suruba foi organizada num apartamento a poucos metros do endereço. A reportagem foi convidada, mas não compareceu.
BRUNO LUCCA / Folhapress