SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A saída de parte importante do alto escalão do comando do Masp, nesta segunda-feira (5), é a crise mais recente dentre as que a instituição enfrentou nos últimos anos -mas não a única.
Em 2022, o Masp foi questionado após o cancelamento de um evento de lançamento de livro do Guilherme Boulos, do PSOL, e do cancelamento, depois revertido, de um núcleo da maior mostra daquele ano na instituição, “Histórias Brasileiras”.
A seção havia sido derrubada por Sandra Benites, curadora-adjunta que pediu demissão após o caso, e Clarissa Diniz, curadora convidada da instituição, que se revoltaram, segundo elas, após o museu vetar um conjunto de fotos do MST que constituiria o cerne deste núcleo.
O museu negou ter censurado o conteúdo e afirmou ter recebido a relação desse material da curadoria após os prazos para a execução de procedimentos como a solicitação do empréstimo das fotos e a cessão do uso de imagens. As curadoras, por sua vez, afirmaram não terem sido informadas sobre esses prazos.
Na mesma época, houve a saída de pelo menos duas pessoas da produção -um envolvido no acervo da instituição e do curador-chefe, Tomás Toledo, ainda que nenhum dos pedidos de demissão estivessem relacionados com os dois episódios recentes.
Ouvidos pela Folha de S.Paulo na época, funcionários de diferentes setores da instituição afirmaram não acreditar que houve censura, mas apontaram para um cenário conturbado dentro da instituição -uma equipe de produção sobrecarregada e funcionários de várias áreas descontentes com os salários, bem como uma série de atrasos e falhas de comunicação na montagem de “Histórias Brasileiras”.
Anos antes, em 2014, o Masp trocou sua gestão em busca de enfrentar uma grave crise financeira. O empresário e consultor Heitor Martins assumiu a presidência da instituição, que buscou apoio na iniciativa privada para reverter um quadro que prometia inviabilizar suas atividades.
Empresas concordaram em colaborar, mas condicionaram o aporte de recursos a um processo de reformulação institucional. O museu aumentou seu conselho de 30 para 80 membros, todos convidados a contribuir financeiramente.
Em 2017, quando a nova gestão completava três anos, uma reportagem da Folha de S.Paulo apontou que o estilo corporativo de Martins, bem como a direção artística de Adriano Pedrosa, causavam atritos com parte dos colaboradores, e figuras importantes de um time escolhido a dedo para dinamizar e atualizar o endereço mais famoso da avenida Paulista deixavam seus cargos num efeito dominó.
Foram embora na época a consultora financeira, Flavia Velloso, a curadora de fotografia, Rosângela Rennó, o diretor financeiro, Miguel Gutierrez, e a responsável por mediação com o público, Luiza Proença. Nenhum dos funcionários apontou a gestão como o motivo de sua saída, apesar de rumores nos bastidores indicarem conflitos.
A gestão conseguiu, no entanto, sanar as contas da instituição, com dívidas que ultrapassavam R$ 40 milhões.
Os problemas financeiros que levaram à dança das cadeiras de 2014 vinham de antes. Em 2007, o Masp já sofria com a falta de verba, que afetava também sua produção cultural. Naquele ano, artistas mascarados realizaram um protesto-performance no vão livre do Masp, denunciando a situação precária da instituição, que incluía dívidas trabalhistas superiores a R$ 3 milhões e a ausência de um projeto cultural de curto prazo.
Ainda no final de 2007, foram roubadas do museu duas telas valiosas, uma de Picasso, outra de Candido Portinari, recuperadas em janeiro do ano seguinte. O episódio, bem como uma dívida total de R$ 14 milhões, motivaram um abaixo-assinado encabeçado pelo ex-curador do museu Luiz Marques que pedia a transferência do museu para a esfera pública -o que nunca aconteceu.
Redação / Folhapress
