Relógio ‘indestrutível’ dos anos 1980, G-Shock volta à moda entre skatistas e rappers

Redação

Desenvolvido pela Casio há 40 anos com o objetivo de ser um relógio indestrutível, o G-Shock passou a ser buscado por jovens brasileiros que querem seguir a moda da vez. O modelo aparece em letras de rap, hits da cantora Shakira e patrocina a skatista olímpica Pamela Rosa.

No TikTok, os cinco vídeos mais assistidos ao buscar pelo termo “G-Shock” somam mais de 5 milhões de visualizações. Os mais virais mostram a versão vintage do relógio, com pulseira de aço inoxidável e visor digital. Os donos exaltam como o acessório brilha.

A Casio projeta um aumento de 3% nas vendas do modelo pelo mundo em 2023, sem divulgar dados exclusivos para o mercado brasileiro. A taxa foi a mesma vista em 2022, quando a empresa começou a registrar uma retomada de demanda após o fim da pandemia de Covid-19.

O inventor do G-Shock, Kikuo Ibe, credita o bom crescimento às ações da empresa para promover o aniversário de quatro décadas do produto.

Em entrevista à Folha, ele disse ter ficado incrédulo ao ouvir que, no Brasil, o acessório não é famoso por ser “indestrutível”, como acontece no Japão. O modelo está no livro dos recordes desde 2017 como o relógio de pulso com mais resistência a impacto, sobrevivendo inclusive ao atropelamento de um caminhão de 24,9 toneladas.

Durante visita à sede do jornal, na última segunda-feira (3), a equipe da Casio jogou o relógio contra o chão para provar sua indestrutibilidade. Na festa brasileira de 40 anos do aparelho, promovida na quarta (5), a empresa exibiu vídeos do relógio resistindo a pressão de macacos hidráulicos.

No Brasil, o relógio inspira versos musicais do rapper BK, que acumula 3,6 milhões de ouvintes mensais no Spotify. “Eu não sou mais aquele moleque/ Troquei o G-Shock pelo Rolex”, diz a letra de “Carta Aberta”. O músico, no entanto, aparece com frequência em fotos com relógios da Casio no pulso.

O rapper Nill, 30, também é um dos adeptos. Ele relata que gosta do relógio desde a sexta ou sétima série do ensino fundamental -o equivalente aos atuais sétimos e oitavos anos. “Gostava porque é um relógio grande e tinha cores diferentes”, afirma.

Nill diz que antes de ganhar projeção usava apenas as réplicas do G-Shock. O relógio original custa a partir de R$ 350 -é possível encontrar versões falsas por R$ 100, até menos. O cantor afirma que as cópias também eram resistentes a tombos, embora perdessem tinta e brilho com o tempo.

Hoje, Nill, que divulga seu novo album “O Resgate do Maestro”, diz não ter mais exemplares do relógio na coleção, mas elogia a iniciativa da fabricante de relógios, instrumentos musicais e calculadoras de fechar parcerias com músicos. A empresa anunciou em 2018 um relógio exclusivo com design elaborado em conjunto com a banda de britânica Gorillaz.

O trapper Nill também faz parte de outro nicho entusiasta do relógio da Casio: os skatistas. A marca patrocina a atleta olímpica de skate Pamela Rosa, bicampeã mundial da categoria street -em que os competidores executam manobras numa pista com rampas, corrimões e desníveis.

Gabriel Guerra, 24, é assessor de comunicação e tem um G-Shock Classic desde 2017. Por andar de skate, ele sabia da resistência do relógio. “O meu tem só alguns arranhões de tombos que levei.”

Ele diz que, embora possa consultar o horário no celular, gosta de ter o acessório por uma questão de estilo e por exemplos familiares e de amigos. “Meu pai e meu avô sempre tiveram relógios, o que sempre me deu vontade de ter um.”

“Por eu ser dessa comunidade do skate, sempre senti que o pessoal utilizava o G-Shock. Em 2018, o bonde inteiro começou a usar”, acrescenta Guerra. Ele diz ter dois acessórios originais da Casio e que planeja comprar um terceiro.

Na percepção dele, o relógio furou a bolha do skate e do rap e virou acessório usado por mais pessoas.

O ilustrador Francisco Silvestre de Araujo Junior, 34, conheceu o G-Shock, no ápice da popularidade do modelo, nos anos 1990, mas continua usando o modelo. Ele primeiro comprou uma réplica para testar o estilo e depois decidiu partir para o original, após a versão pirata quebrar. “Já levei tombo de bicicleta e de skate e o relógio continua inteiro”, afirma.

Na visita ao Brasil, o criador do relógio Kikuo Ibe exibia um G-Shock no braço esquerdo. Ele, contudo, disse que chegou a ficar 20 anos sem usar o produto que colocou no mercado. “Deu muito trabalho, não gosto de falar sobre o assunto.”

Agora, ele voltou a usar o relógio durante a turnê publicitária de divulgação do acessório. Para promover o aniversário de 40 anos do modelo, o executivo vai viajar por 17 países.

Ibe reconhece que a popularização dos aparelhos celulares tiveram um efeito negativo sobre a venda de relógios e agradece o sucesso dos smartwatches por fazer as pessoas voltarem a usar o acessório.

A própria Casio é considerada uma das pioneiras dos relógios inteligentes, já que ainda nos anos 1980 e 1990 lançou relógios com calculadora, câmera e outras aplicações. Há aparelhos até para surfistas, com a opção de consultar a altura da maré.

Em meio a esse cenário, Ibe afirma que a empresa vende muito mais hoje do que nas décadas em que o G-Shock se consolidou no mercado. “Antes vendíamos em somente alguns países. Agora estamos quase no mundo inteiro”, afirma.

A Casio não divulga quantos relógios vendes por ano, mas diz ter fabricado mais de 140 milhões do G-Shock desde 1983. Segundo a companhia, o modelo representa 60% das vendas da categoria.

PEDRO S. TEIXEIRA

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