Remake ‘Elas por Elas’ tem protagonista trans e injeta feminismo à novela original

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Ex-amigas que romperam relações por causa de um crime são convocadas para uma reunião depois de décadas sem se ver. Uma delas quer descobrir se seu irmão foi assassinado pelas colegas na juventude. Essa é a premissa de “Elas por Elas”, novela que assume o lugar de “Amor Perfeito” na faixa das seis da Globo a partir desta segunda-feira, dia 25.

O novo folhetim faz parte da onda de remakes que tomou de assalto a televisão nos últimos tempos. É um resgate da trama de Cassiano Gabus Mendes lançada em 1982, agora reescrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson. A primeira versão da novela era estrelada por atrizes como Aracy Balabanian, Eva Wilma e Esther Góes.

O texto original foi adaptado para obedecer ao avanço do feminismo. “Não teria como a gente fazer um remake fiel com tantas coisas tendo acontecido em 40 anos”, diz Falcão, a dramaturga. “O papel das mulheres mudou muito. Isso nos obrigou a abrir novas histórias. Reflete anos de revolução feminina.”

Agora as sete protagonistas são mais donas de si. Diferentemente de como era no folhetim original, quase todas as protagonistas trabalham fora de casa nesta versão. Além disso, casar deixou de ser o objetivo número um da vida delas.

“Eu fui criada nessa sociedade em que você não podia ficar sozinha”, diz Isabel Teixeira, vestida com as roupas da vilã Helena. “Novela é democrática. Tem que falar para o mundo como está agora. Tem que estar aqui.”

No início da história, a ricaça Helena seduz o amado de uma das suas amigas fiéis, engravida e o força a se casar com ela. A mágoa que ficou represada entre eles ao longo de 25 anos é despejada a partir do reencontro das ex-colegas.

Teixeira assistiu a novela de 1982 recentemente no Globoplay para estudar a interpretação de Balabanian, atriz morta em agosto, que deu rosto a Helena na primeira versão.

“Às vezes eu ficava constrangida vendo a primeira versão. Havia coisas que não cabem mais”, afirma, lembrando do aviso de conteúdo colocado pela plataforma de streaming no início dos episódios. “Essa obra reproduz comportamentos e costumes da época em que foi realizada”, diz o letreiro.

Refazer a novela injetando diversidade e reposicionando o papel da mulher na sociedade é uma forma de incitar diálogo com outros tempos, diz a atriz, que ficou famosa por interpretar Maria Bruaca na nova “Pantanal”, do ano passado.

Se antes todas as sete protagonistas eram brancas, agora há uma única negra. Taís, feita primeiro por Sandra Bréa, é vivida desta vez pela cantora Késia, ex-The Voice Brasil que está estreando nas novelas.

Realizada profissionalmente e apaixonadíssima, Taís pensa estar em sua melhor fase quando é convidada para rever as antigas amigas. O problema é que ela descobre estar namorando com o marido de uma delas, a advogada Lara, interpretada por Deborah Secco.

Lara sempre acreditou levar uma vida de conto de fadas ao lado do marido Átila e das filhas -até se dar conta que estava sendo traída.

Quanto Átila morre, Lara tenta descobrir quem era a amante dele com ajuda do detetive fajuto Mário Fofoca, um dos personagens mais famosos da trama original, que ganhou até filme, e que agora surge na pele de Lázaro Ramos.

O ator conta que, para criar a nova versão do personagem, se inspirou em investigadores atrapalhados de obras como “Os Encanadores da Casa Branca” e a recente “Only Murders in the Building”.

Humor pastelão deve guiar toda a novela se depender da diretora Amora Mautner, que recebe a reportagem empolgada durante os ensaios da novela. Ela dirige Teixeira e Marcos Caruso numa cena engraçadinha que se passa em um hospital.

A trama é uma dramédia, ela define, dizendo ainda que vê semelhanças entre o folhetim e o seriado americano “Big Little Lies”, que também tem mulheres de meia-idade envolvidas em um crime.

Quem mais surpreende o grupo no reencontro que ocorre na história é a doceira Renée, que passou por uma transição de gênero após ter se afastado das amigas. É a primeira protagonista transexual de uma novela da Globo, interpretada por Maria Clara Spinelli, atriz que também é transexual.

Mas ela recusa o rótulo. Diz querer ser conhecida só como artista, não como atriz trans. “Fazem isso para enaltecer, prestigiar e para trazer para a questão política. Mas isso também está estigmatizando”, diz, enquanto ajeita o cabelo no camarim.

É o fato de Renée ser mãe que seduziu Spinelli. Na trama, a personagem é largada pelo marido e se vê obrigada a confeitar sonhos para sustentar a família enquanto convive com um cunhado transfóbico.

“Elas por Elas” passou por apuros antes de estrear. A atriz Monica Iozzi, que faria Natália, uma das sete mulheres, saiu do elenco de última hora para tratar problemas de saúde. A Globo escalou Mariana Santos às pressas para substituir a atriz.

O time de sete mulheres tem ainda a neurocientista introvertida Carol, vivida por Karina Teles, e a Adriana de Thalita Carauta, que vem de um papel de sucesso em “Todas as Flores”. Ela encabeça o núcleo de drama, e não de comédia, como vinha fazendo na sua carreira até então.

“Quando se ganha o título de humorista, leva tempo até você conseguir elaborar para as pessoas você que não é só isso”, afirma. “As pessoas falam que o humor é a primeira arte. Mas quando você vê as premiações, percebe que o humor ainda não é prestigiado. Me parece contraditório.”

O repórter viajou a convite da TV Globo.

ELAS POR ELAS

Quando: Nesta segunda-feira, dia 25, às 18h25, na Globo

Autoria: Thereza Falcão e Alessandro Marson

Elenco: Deborah Secco, Isabel Teixeira e Thalita Carauta

Produção: Brasil, 2023

Direção: Amora Mautner

GUILHERME LUIS / Folhapress

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