SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Explico o acordo do governo com o Congresso para a reoneração gradual da folha a partir de 2025. Também nesta edição, como foi o dia de estresse no mercado após decisão do Copom.
*Acordo pela reoneração*
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, anunciaram juntos um acordo para o fim da desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia.
↳ Ela será mantida neste ano, mas terá um aumento gradual a partir de 2025, chegando aos 20% padrão de cobrança em 2028.
A desoneração foi criada no governo Dilma Rousseff, em 2011, e prorrogada ano após ano.
Como é hoje? Empresas de setores como a comunicação, calçados e construção civil pagam de 1% a 4,5% sobre a receita, em vez dos 20% sobre a folha que voltarão a valer em 2028.
Na prática, o modelo em vigor dá uma vantagem financeira, barateando o custo com pessoal.
Segundo Haddad, o custo da desoneração tem sido de R$ 10 bilhões ao ano.
Compensações: o governo terá de apresentar uma medida compensatória para bancar a desoneração total deste ano e parcial nos próximos. Haddad não quis antecipar qual seria, mas acenou que pode ser mais de uma medida. A compensação é uma exigência da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). Foi devido à ausência de medida compensatória que o governo judicializou a desoneração no STF.
Relembre idas e vindas do caso:
↳ A desoneração teria deixado de valer em dezembro do passado ano. Era o que defendia o governo para tentar melhorar sua arrecadação e cumprir a meta de déficit zero deste ano. Antes, em outubro de 2023, o Congresso Nacional votou para prorrogá-la até 2027.
↳ Lula (PT) vetou a medida dos parlamentares, que derrubaram a decisão do presidente.
↳ O governo então recorreu ao ministro do STF Cristiano Zanin, que suspendeu a desoneração e abriu uma crise política entre o Planalto e o Congresso.
*A ressaca do mercado*
Investidores tiveram que apertar os cintos nesta quinta-feira (9) enquanto a Bolsa brasileira caía e o dólar disparava, repercutindo a decisão do Banco Central de cortar a taxa Selic em 0,25 ponto, para 10,50% ao ano.
Por que o estresse? A divisão exposta pelos diretores do Copom indicados por Lula e os das gestões anteriores sobre o que fazer com os juros. Isso teria revelado algum viés político na autarquia. A Bolsa caiu 1%, e o dólar subiu 1,03%, atingindo R$ 5,143.
Qual é a relação entre os juros e as ações:
Juros altos costumam ser usados principalmente no combate à inflação, mas esfriam a economia, e podem comprometer as finanças das empresas;
Isso por que encarece as dívidas já tomadas e retrai as vendas. Assim, o valor das ações cai.
Mas os juros não caíram? Sim, os do curto prazo, que são aqueles definidos pelo Banco Central. O problema são os juros longos. Esses quem define é o mercado.
↳ Com a divisão no Banco Central, investidores interpretaram que a instituição pode ser mais leniente com a inflação no futuro, conforme a diretoria for renovada.
Resultado: juros futuros para os próximos anos subiram. Para janeiro de 2025, por exemplo, a taxa foi de 10,22% para 10,26%. Parece pouco, mas faz diferença para quem toma crédito.
Isso fez ações da Renner, Arezzo, CVC e grupo Soma serem as que mais caíram, justamente porque o varejo sofre com a perspectiva de juros altos.
*Quem precisa de dólar?*
Duas das maiores empresas brasileiras, a Vale e a Suzano, já vendem para a China em moeda local. As transações em yuan foram feitas em 2024 e mostram uma tendência de fortalecimento na relação comercial entre os dois países.
Por que importa: o gigante asiático é o destino de 30% das exportações de produtos brasileiros. Empresários e bancos acreditam que sem precisar fazer conversões para dólar, conseguem diminuir custos de operação.
↳ “A moeda chinesa está crescendo em importância e clientes menores estão cobrando. Com o tempo, o dólar se tornará menos relevante”, afirmou CEO da Suzano, Walter Schalka, à Bloomberg.
Passos largos: em março do ano passado, Lula e Xi Jinping assinaram um acordo permitindo trocas diretas entre o yuan e o real sem usar o dólar americano como intermediário. Desde então, alguns testes foram feitos.
Em setembro de 2023, uma exportação de celulose da Eldorado Brasil foi financiada e liquidada em moeda chinesa e convertida diretamente para real;
Um mês depois, o Banco de Comunicações da China e o Banco Industrial e Comercial da China realizaram o primeiro empréstimo transfronteiriço em yuan no Brasil;
Em dezembro, o Banco do Brasil captou 350 milhões de yuans (equivalente a US$ 50 milhões), na primeira operação em moeda chinesa feita entre instituições bancárias dos dois países.
Os testes são parte de um movimento de Pequim para internacionalizar a sua moeda. Os chineses acreditam no fortalecimento da sua moeda com a relevância do país no domínio da tecnologia de chips.
↳ “Se no passado os petrodólares ajudaram na internacionalização do dólar, devemos ter no futuro o chip RMB (nome usado na china para o yuan)'”, afirmou Hsia Hua Sheng, vice-presidente do BOC Brasil (Bank of China).
Sim, mas Desbancar o dólar ainda parece um sonho distante. A moeda americana é uma reserva mundial de valor, sem risco de perder a segurança, e tem forte liquidez. Isso significa que é fácil comprá-lo e vendê-lo. Tem abundância, sendo aceito para tudo.
*Para assistir*
Como Ser Warren Buffett no Max.
Entra ano e sai ano, o empresário Warren Buffett segue como referência para investidores de todo o mundo. Nesse documentário da HBO, você conhecerá o dia a dia do bilionário, que abriu as portas de seu escritório e de sua casa, na cidade de Omaha, no Nebraska (EUA). A produção é curta, menos de 1h30, e uma boa pedida para o fim do dia.
Aos 93 anos, Buffett acumula tanto sucesso nos negócios a ponto de receber o apelido de oráculo.
Ele segue visado nos últimos meses, já que está de saída do comando dos investimentos da Berkshire.
A dupla Ted Weschler e Todd Combs está prestes a assumir um portfólio de US$ 354 bilhões.
Quer saber mais sobre ele? Há livros sobre a história e as ideias do investidor. Listo três deles aqui:
↳ As cartas de Warren Buffett: Lições de investimento e gestão selecionadas das cartas aos acionistas da Berkshire Hathaway, organizado por Lawrence A. Cunningham
↳Por dentro da mente de Warren Buffett, de Robert G. Hagstrom e George Schlesinger.
↳A bola de neve: Warren Buffett e o negócio da vida, de Alice Schroeder.
VICTOR SENA / Folhapress