LOS ANGELES, EUA (FOLHAPRESS) – Em “Resistência”, novo filme do diretor Gareth Edwards, o mesmo de “Rogue One: Uma História Star Wars”, uma inteligência artificial detona uma bomba que dizima milhões de pessoas no centro de Los Angeles. O ato terrorista resulta no banimento total do uso de IA no Ocidente e gera protestos em grandes cidades. Humanos exibem sinais nas ruas contra a tecnologia e multidões tomam conta das calçadas.
É um cenário menos trágico, mas não muito diferente do que acontece a poucos quilômetros do hotel onde a reportagem encontra Edwards, em West Hollywood. Na frente dos portões de diversos grandes estúdios de Los Angeles, milhares de atores e roteiristas protestavam contra o uso indiscriminado da IA em filmes e séries numa greve histórica que já ultrapassava 150 dias.
“Quando filmei esta pequena sequência em que as pessoas na Tailândia protestam contra a inteligência artificial, achei muito exagerada”, diz o cineasta, com um sorriso de canto de boca. “Mas há vários protestos similares nas ruas de Los Angeles. Isso deveria acontecer daqui a 50 anos, não agora. Eu estava totalmente errado.”
Isso não impede Edwards de ver os benefícios da tecnologia. “É complicado”, diz. “Será uma ferramenta incrível não apenas para a indústria cinematográfica. Ela vai se desenvolver e ficar cada vez mais sofisticada. Fico chocado que você possa digitar descrições e a inteligência artificial crie imagens a partir disso. Ainda não fica como queremos, parece feita por alguém da equipe que é insano ou tomou muito ácido nos anos 1970.”
Ele afirma ainda que não tem medo de perder o emprego. “Se um dia a inteligência artificial roubar meu emprego, posso dizer que tive uma boa carreira e me sinto bastante privilegiado por ter feito tudo isso. Espero que não aconteça.”
“Há duas opções. Na primeira, a IA nunca consegue fazer um filme original de qualidade. Então, ninguém vai se importar. A segunda é que ela consegue. Mas eu vou querer ver esse filme. Você não? É fascinante. Qualquer um que tentar prever o que vai acontecer na próxima década vai soar estúpido quando olhar em retrospecto.”
A IA de “Resistência” é uma possibilidade, mas ainda está longe de virar realidade. No longa-metragem de US$ 80 milhões, os robôs estão tão desenvolvidos que chegam a assumir características humanas e são tratados como humanos em lugares como Nova Ásia, uma espécie de Vietnã de “Apocalypse Now” visto sob a ótica de “Blade Runner” que serve de refúgio para as máquinas caçadas pelo exército americano.
Humanizar robôs pode não ser novidade no cinema, mas ganha um visual espetacular nas mãos de Edwards, que veio do mundo dos efeitos visuais, e do diretor de fotografia Greig Fraser, ganhador do Oscar da categoria por “Duna” no ano passado. Há uma preocupação geopolítica rara, uma busca pelas consequências realistas menos exibidas em outros longas, como impactos socioeconômicos.
A ideia veio da ressaca de “Star Wars”, quando o diretor viajou pelo estado do Iowa para visitar os pais da namorada. No meio das paisagens verdes e isoladas do centro-oeste dos Estados Unidos, ele viu algo que acendeu sua imaginação.
“Havia uma fábrica no campo com um estranho logotipo japonês. Pensei: Será que estão construindo robôs ali que nunca verão a luz do dia?”, lembra o cineasta britânico. “As ideias continuaram aparecendo e, no fim da viagem, já tinha o filme todo na mente.”
“Resistência” é uma ficção científica ambiciosa que utiliza o cenário de uma guerra entre Ocidente e Oriente pelos direitos da IA num futuro próximo.
Já a trama é um pouco mais derivativa. John David Washington faz um soldado americano infiltrado em um grupo de ativistas na Ásia em busca de uma figura mística chamada “O Criador”, que teria construído uma arma capaz de desequilibrar a balança do poder.
Na missão, ele perde a mulher, vivida por Gemma Chan, mas tem a chance de revê-la cinco anos depois numa tarefa oficial pelo brutal exército americano, que se vira contra o próprio agente na caçada pela inteligência artificial.
“Não é uma posição política, moro nos Estados Unidos e adoro o país. Vejo mais como uma representação do Ocidente. É uma visão simplista, mas tentei dividir o mundo de várias maneiras e queria filmar o longa no sudeste asiático, pois parte da inspiração veio de uma viagem pelo Vietnã”, diz Edwards. “Eu via monges robóticos e robôs por todos os lados. Sentia que era um filme que ainda não existia.”
RESISTÊNCIA
Quando Estreia nesta quinta-feira (28) nos cinemas
Classificação Não informada
Elenco John David Washington, Gemma Chan e Ken Watanabe
Produção Estados Unidos, 2023
Direção Gareth Edwards
RODRIGO SALEM / Folhapress