SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cleriston Pereira da Cunha, réu pelos ataques golpistas de 8 de janeiro e morto nesta segunda-feira (20) no Complexo Penitenciário da Papuda (DF) após um mal súbito, afirmou em depoimento sofrer desmaios e falta de ar.
O interrogatório ocorreu em 31 de julho e foi gravado. A audiência foi presidida por Larissa Almeida Nascimento, juíza que representava o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator do caso.
Cleriston afirmou ter um diagnóstico de vasculite, que o fazia desmaiar e ter falta de ar, e que passou mal no dia dos ataques no traslado entre a sede do Congresso Nacional e o presídio, desmaiando e urinando em sua roupa.
“Eu fiquei internado há muito tempo atrás, até hoje ainda tomo remédio, estava muito doente; devido aos gases [bombas atiradas pela polícia para conter os golpistas] eu comecei a passar mal”, disse o comerciante.
Ele continuou: “Eu tenho uma vasculite, que consta em laudo, já fiquei internado no Hospital de Taguatinga durante 33 dias, e nesse dia eu passei muito mal, nós não tínhamos alimentação, saímos por volta de madrugada, comecei a passar mal, desmaiei, inclusive fiz xixi até na roupa, sem ver, me levaram para uma UPA, me trouxeram novamente, e aí minha esposa chegou com os remédios lá”.
Ele se referiu ao laudo do Hospital Regional de Taguatinga anexado pela defesa, atestando o uso de medicações controladas. O relatório afirma ainda que “em função da gravidade do quadro clínico, risco de morte pela imunossupressão e infecções, solicitamos agilidade na resolução do processo legal do paciente”.
Perguntado sobre a motivação para participar dos ataques, se recebeu auxílio financeiro para participar e se danificou algo dentro do Senado, onde foi preso em flagrante, decidiu ficar em silêncio.
Cleriston, 46, disse morar em Brasília há mais de 25 anos, e que soube das manifestações naquele dia a partir da mídia. Afirmou não possuir armas de fogo e que apenas caminhou pacificamente pelo prédio do Congresso.
Também ressaltou não ter agredido policiais. “Quando a polícia chegou a gente ficou agradecido, porque lá fora tinha muita bomba, muito barulho”, contou ele, acrescentando ainda ter ficado todo o tempo rezando.
Na audiência, realizada por meio de videoconferência, disse ainda que permaneceu 17 dias sem comer dentro da penitenciária, sem detalhar como isso aconteceu e se ficou totalmente privado de qualquer tipo de alimentação. “Estou aqui até agora, passei muito mal, 17 dias sem poder comer aqui, preso, no presídio, eu tenho essa vasculite de desmaiar, falta de ar.”
O comerciante estava preso desde os ataques e recebia acompanhamento médico. Um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) de liberdade provisória do denunciado estava com a análise pendente por Moraes.
Segundo relatório da Vara de Execuções Penais, Cleriston “teve um mal súbito durante o banho de sol” por volta das 10h na Papuda. “O Samu e o Corpo de Bombeiros foram acionados e as equipes chegaram ao local às 10h18, dando continuidade ao protocolo de reanimação cardiorrespiratória, sem êxito. O óbito foi declarado às 10h58”, afirma o mesmo documento.
Registros da penitenciária mostram que ele recebeu seis atendimentos médicos de janeiro a junho, sendo um deles no Hospital Regional da Asa Norte, também na capital federal.
Moraes solicitou nesta segunda-feira informações do centro de detenção sobre a morte, “inclusive com cópia do prontuário médico e relatório médico dos atendimentos recebidos pelo interno durante a custódia”.
Entre os bolsonaristas que reagiram ao ocorrido, a deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PL-DF) afirmou, em vídeo divulgado nas redes sociais, que o caso mostra “a falência total do nosso sistema processual penal”.
Já a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) disse acompanhar de perto “este triste e lamentável episódio”.
MATHEUS TUPINA / Folhapress