BARRA MANSA, RJ (FOLHAPRESS) – Um novo estudo italiano publicado na revista científica Vaccines confirma que a vacina TAK-003 para dengue, vendida comercialmete como Qdenga, pé eficaz e segura. Essa é a primeira meta-análise global de pesquisas sobre o imunizante que analisa trabalhos desenvolvidos no mundo inteiro e os seus resultados.
O imunizante está disponível no SUS (Serviço Único de Saúde) para crianças de 10 a 14 anos. Produzido a partir do vírus atenuado, pode melhorar a resposta do sistema imunológico contra infecções de dengue, evitando que a doença evolua para formas mais graves.
A vacina está disponível no Brasil desde o início do ano passado, quando foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), após o produto apresentarem estudos científicos e evidências robustas de sua eficácia.
Segundo os resultados, o imunizante reduz o risco de contrair a doença em mais de 50% dos casos. Este é considerado um ótimo perfil de segurança para esse tipo de vacina.
Além disso, entre aqueles que chegam a ser contaminados, mais de 90% desenvolvem os anticorpos necessários para combater o patógeno. Entre as crianças, esse número é alcançado com apenas uma dose.
Quase 20 pesquisas foram analisadas nesta meta-análise, incluindo dados de mais de 20 mil pessoas envolvidas nos diversos ensaios clínicos. Em alguns casos, os pacientes receberam apenas uma dose, e em outros, o esquema vacinal completo. Em alguns dos trabalhos houve o acompanhamento dos voluntários por mais de um ano após a vacinação.
A dengue é uma doença causada por vírus e transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Nas suas formas mais graves, que podem ou não ter sangramento, ela pode levar à morte.
Emy Gouveia, infectologista do Hospital Albert Einstein, afirma que ainda não há um tratamento antiviral específico para a dengue. Atualmente as terapias utilizadas são de suporte, com repouso, hidratação e controle de sintomas, como febre e dor. “Por isto a importância da vacina”, diz.
Nos últimos anos o país tem vivido um aumento expressivo do número de casos. Para Alexandre Naime Barbosa, professor e chefe do departamento de infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) é o pior cenário da dengue em toda história
“Em 2024, provavelmente, infelizmente, deve ser pior ainda. Os pais devem fazer o movimento de proteger seus filhos. É um insumo que está gratuito, disponível, que não pode ser negligenciado”, diz.
Um estudo brasileiro que realizou um levantamento com base em informações do DataSUS revela que, entre janeiro e maio de 2024, houve 4,6 milhões de novos casos de dengue no Brasil, contra 1,2 milhão no mesmo período do ano anterior. O aumento ocorreu sobretudo nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do país.
A faixa etária entre 10 e 14 anos é a segunda com mais risco de hospitalização e óbito pela doença, segundo Barbosa, perdendo apenas para aqueles com mais de 60 anos –e por isso merece atenção especial, sobretudo dos pais.
Quando contaminadas, as crianças manifestam os sintomas clássicos: febre, dor de cabeça, vermelhidão, cansaço, fraqueza. Após os primeiros três ou quatro dias de infecção, aumentam as chances de desenvolver dengue grave, caracterizada pela perda de consciência e desidratação..
Em alguns municípios, devido à falta de procura, a faixa etária do público-alvo foi ampliada. O esquema vacinal completo consiste em duas doses, que devem ser tomadas com um intervalo de 90 dias.
“O ritmo de vacinação tem sido lento, a percepção de risco dos pais muitas vezes não é adequada”, diz o infectologista.
Na rede de saúde privada, a QDenga pode ser tomada pelo público com idade entre 4 e 60 anos. “A procura no mercado privado já é diferente, é bem alta. São pessoas com alto poder aquisitivo que sabem dos riscos da doença em termos de hospitalização.”
No começo deste ano, um ensaio clínico de fase 3, de longo prazo, patrocinado pela fabricante da vacina, a farmacêutica japonesa Takeda, foi publicado na revista científica Lancet. A pesquisa, conduzida com parâmetros científicos de padrão ouro, fez o acompanhamento de 20 mil participantes por um período entre 4 e 5 anos após o recebimento da segunda dose.
Os resultados mostram uma eficácia de mais de 60% dos casos contra a infecção pelo vírus da dengue, e de mais de 80% contra a hospitalização.
O imunizante também foi considerado seguro pelos pesquisadores, que observaram baixa quantidade de eventos adversos graves entre os participantes e nenhuma morte relacionada à vacina.
A professora e pesquisadora do departamento de patologia da USP (Universidade de São Paulo), Ester Sabino, afirma ainda que a vacina não é a única medida de prevenção que pode ser adotada.
“É possível prevenir usando repelentes e cuidando para diminuir os mosquitos nas residências. Uma vez infectada, a pessoa deve buscar atendimento médico e precisa se hidratar muito.”
ACÁCIO MORAES / Folhapress