RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Prefeitura do Rio de Janeiro lançou na quinta-feira (25) o edital de licitação que planeja conectar o aeroporto internacional do Galeão ao Santos Dumont por meio de um serviço de embarcações na baía de Guanabara.
O projeto prevê investimento de cerca de R$ 106 milhões, divididos entre a futura concessionária e o município. A aposta no transporte aquaviário de passageiros faz parte das iniciativas para ampliar os meios de acesso ao Galeão.
Localizado na Ilha do Governador, na zona norte, o aeroporto internacional sofreu esvaziamento nos últimos anos e busca retomar o protagonismo após a adoção de restrições a voos no Santos Dumont -medida defendida pela gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD) e criticada por uma parte dos usuários.
A projeção é de que o novo serviço tenha sete embarcações 100% elétricas, com capacidade para transportar entre 60 e 100 passageiros, conforme informações divulgadas pela CCPar (Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos).
O órgão municipal, responsável por concessões e PPPs (parcerias público-privadas), afirma que a passagem deve custar no máximo R$ 20 por trecho.
Ainda de acordo com a prefeitura, a ideia é que o transporte pela baía de Guanabara funcione todos os dias, das 6h às 23h.
A duração estimada para o trajeto é de cerca de 35 minutos entre as duas estações a serem instaladas: uma na Marina da Glória, ao lado do Santos Dumont, e outra na Ilha do Governador, bairro do Galeão.
Além disso, na chegada à estrada do Galeão, os passageiros em direção ao aeroporto teriam de embarcar em micro-ônibus elétricos até o terminal de destino. Com isso, estima-se que o trajeto completo leve cerca de 45 minutos.
No ano passado, a prefeitura chegou a projetar que o serviço poderia ser realizado pelas embarcações em menos de 20 minutos.
O município afirma que investirá até R$ 24 milhões na iniciativa. De acordo com a administração municipal, o parceiro privado a ser escolhido para construir e operar o serviço por 30 anos será aquele que oferecer o maior desconto no aporte público.
A licitação está marcada para 6 de junho. Além do investimento privado, a concessionária vencedora também deverá pagar ao município outorga variável de 3% sobre a receita tarifária.
Durante o trajeto, os passageiros teriam vista para cartões-postais do Rio como o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor e a própria baía de Guanabara.
Outro argumento da prefeitura para defender o projeto é que os usuários evitariam o risco de engarrafamentos na Linha Vermelha em horários de pico. A via dá acesso ao Galeão.
ESPECIALISTA VÊ PROJETOS COM RESSALVAS
A iniciativa, contudo, é vista com ressalvas por especialistas como Marcus Quintella, diretor do centro de estudos FGV Transportes. Na avaliação dele, há incerteza sobre o potencial financeiro para os investidores e a atratividade para os usuários.
Quintella diz que, dependendo do horário e da localização dos passageiros, o tempo de deslocamento até o Galeão de carro ou via aplicativo de transporte seria menor do que nas embarcações.
Ele também lembra que os usuários teriam de gastar para ir até a estação no Santos Dumont por conta própria. “Olho com bastante cuidado para o projeto”, diz.
“Seria mais uma opção de transporte, mas não resolveria todos os problemas do Galeão. É um transporte de baixíssima capacidade [de passageiros]. Tem potencial no máximo turístico”, acrescenta.
Cerca de 18 quilômetros separam os dois aeroportos. O Santos Dumont fica ao lado de negócios instalados no centro do Rio.
Também está próximo de pontos turísticos como o Pão de Açúcar e as praias de Copacabana e Ipanema, na zona sul, mas conta com infraestrutura menor do que a do Galeão. As operações do terminal central estão limitadas a voos domésticos.
Já o Galeão, além de operar voos nacionais e internacionais, também exerce papel relevante no transporte de cargas do estado.
Parte dos usuários, contudo, costuma reclamar de uma dificuldade maior de acesso na comparação com o Santos Dumont. Queixas de uma sensação de insegurança na Linha Vermelha também costumam ser citadas.
LEONARDO VIECELI / Folhapress