RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dos 1.350 monumentos que existem na cidade do Rio de Janeiro, apenas 15 são estátuas ou bustos de mulheres. A prefeitura não tem o número exato de estátuas de homens, e entre os monumentos estão contabilizados chafarizes e relógios históricos, por exemplo.
Duas das estátuas femininas foram inauguradas em 2016, ano das Olimpíadas no Rio: a da escritora Clarice Lispector e a da primeira bailarina negra do Theatro Municipal, Mercedes Baptista. Já na abertura da Paris-2024 foram erguidas às margens do rio Sena dez estátuas de mulheres francesas, ao som de uma versão do hino nacional reproduzido por um coro de mulheres. As esculturas, todas douradas, serão permanentes.
Segundo a organização do evento, as homenageadas deixaram importante legado político ou cultural para o país e avançaram nos direitos das mulheres.
O intuito é também reduzir a defasagem de monumentos femininos em relação aos masculinos. Na França havia, até então, cerca de 350 estátuas, sendo 37 para mulheres, de acordo com um artigo acadêmico da francesa Christel Sniter, doutora em ciência política.
Embora a prefeitura não saiba o número exato de bustos e estátuas no Rio de Janeiro, o mestrando em computação Matheus Avellar mantém um site que mapeia os monumentos na cidade. Segundo o seu levantamento, de 132 estátuas/bustos de personalidades, 120 (91%) são referentes a homens.
De acordo com a gerente de Monumentos e Chafarizes da Secretaria de Conservação do Rio, Vera Dias, a inauguração de mais obras homenageando mulheres é debatida pela prefeitura.
“Existe uma conscientização crescente e uma discussão sobre a importância de celebrar a memória de grandes mulheres nas vias públicas. A cidade tem mais de mil monumentos, grande parte deles construídos ao longo do século 20. A consciência sobre o papel social da mulher foi se expandindo na História, e com ela o aumento de obras que homenageiam suas trajetórias”, disse.
“As Olimpíadas trouxeram esse tema para o mundo e ele é muito bem recebido, tema de muitas reflexões atuais”, acrescentou.
Entre as esculturas expostas está a da compositora Chiquinha Gonzaga, com um busto inaugurado em 1942. Outras artistas eternizadas em monumentos são a cantora lírica Carmen Gomes; a soprano Vera Janacópulus; a cantora Carmen Miranda; e a estilista Zuzu Angel, que também ficou conhecida pela busca incansável do filho Stuart Angel, desaparecido na ditatura.
Há também estátuas da princesa Isabel e da imperatriz Leopoldina, além de um busto da imperatriz Teresa Cristina. O busto da esposa de Dom Pedro 2º foi inaugurado em 2008, furtado em 2019 e recolocado em 2022 portanto antes de 2023, ano em que a Câmara Municipal do Rio promulgou uma lei que proíbe a prefeitura de manter ou instalar monumentos em homenagem a escravocratas, eugenistas e pessoas que tenham violado os direitos humanos.
Obras que prestam homenagem a vítimas da violência também estão presentes no Rio, como a estátua de Ana Carolina da Costa Lino, 18, morta com tiros de fuzil em 1998; e da socialite Clarisse Lage Índio do Brasil, morta com um tiro em 1919.
A pioneira da enfermagem no país, Ana Néri, e a comerciante Maria Augusta, conhecida como Tia Augusta, que vendia cachorro-quente na orla da cidade, também têm seus monumentos.
A estátua mais recente é a da vereadora Marielle Franco, assassinada com seu motorista, Anderson Gomes, em 2018. Inaugurada em 2022, a escultura é monitorada 24 horas pelo COR (Centro de Operações Rio) para evitar furtos e depredações.
OBRAS ROUBADAS
No Rio, a primeira escultura com referência a uma mulher foi instalada em 1935, mas roubada a marretadas em 2004, após um segurança ser rendido no Passeio Público, no centro da cidade. Trata-se do busto da poetisa Júlia Lopes de Almeida, que pesava cerca de 120 kg.
Segundo a Polícia Civil, esses roubos miram o bronze, que depois é derretido e vendido.
O mesmo ocorreu com o busto de Sarah Kubitschek, ex-primeira-dama do Brasil, esposa do ex-presidente Juscelino Kubitschek. A escultura foi roubada em 2023 e seu lugar segue vazio.
Mesmo destino tiveram a obra em homenagem à poetisa Anna Amélia de Carneiro de Mendonça e a estátua de 400 kg de bronze de Rosa Paulina da Fonseca, mãe do primeiro presidente do Brasil, Deodoro da Fonseca.
Em nota, a Secretaria de Conservação afirmou que “o contrato de manutenção de monumentos e chafarizes é de cerca de R$ 2 milhões por ano e, além da remoção de pichações, contempla pequenos reparos, pintura, limpeza e recolocação de pequenas peças, entre outros serviços”.
“O custo de reposição de peças furtadas/danificadas varia caso a caso e é determinado após análise da Gerência de Monumentos e Chafarizes. Quando se trata de monumentos com grandes avarias ou totalmente depredados, que exigem restauro completo, é feito um orçamento separado. Cerca de 800 mil desse orçamento são gastos com reparos a monumentos vandalizados”, disse a pasta.
Uma das medidas adotada pela prefeitura para evitar o furto das peças é preencher as obras com concreto.
BRUNA FANTTI / Folhapress