Risco de surto de sarampo em SP é baixo, mas casos merecem atenção, dizem especialistas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Neste mês, a cidade de São Paulo confirmou dois casos importados de sarampo. O risco de surtos da doença em São Paulo é baixo, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.

Os pacientes -uma mulher de 35 e um homem de 37 anos, moradores em Cidade Ademar, na zona sul da capital paulista-, têm histórico recente de viagem à Europa. O casal passa bem, sem necessidade de internação, segundo a SMS (Secretaria Municipal da Saúde).

Na região de Santo Amaro, zona sul, a SMS intensificou a vacinação contra o sarampo e realizou ações de imunização preventiva nos quatro quarteirões da residência e em outros pontos frequentados pelo casal na última semana. As abordagens foram realizadas casa a casa e em locais estratégicos, como comércios, escolas e demais locais frequentados pelos pacientes.

Além das ações in loco, foram distribuídas folhetos informativos com orientações para procurarem a UBS (Unidade Básica de Saúde) para avaliação da condição vacinal contra o sarampo.

Os casos de São Paulo somam-se a outros dois contabilizados no Brasil em 2024, até o momento: um em Minas Gerais (contraído na Europa) e outro no Rio Grande do Sul (vindo do Paquistão).

“Teoricamente, a população deve estar imunizada. A imunização básica, que se faz aos 12 e 15 meses, é protetora e definitiva. De outra forma, nas gerações anteriores à vacina, a maioria pegou sarampo. E aí você teve uma proteção natural e também definitiva. O que me preocupa é que as gerações mais novas de médicos não viram casos de sarampo. Então, muitas vezes o diagnóstico passa batido”, afirma David Uip, diretor nacional de infectologia da Rede D’Or e ex-secretário de Saúde do estado de são Paulo.

O sarampo é caracterizado por manchas vermelhas (que podem aparecer de três a cinco dias após o contágio no rosto e atrás das orelhas, e depois se espalhar pelo corpo) e febre alta (acima de 38,5°) acompanhadas por um ou mais dos seguintes sintomas: tosse seca, irritação nos olhos, nariz escorrendo ou entupido e mal-estar intenso. A persistência da febre pode indicar gravidade, principalmente em crianças menores de cinco anos.

A SES (Secretaria de Estado da Saúde) de São Paulo solicitou aos profissionais de saúde que fiquem atentos aos casos de febre com manchas pelo corpo para verificarem se são suspeitas de sarampo e, se necessário, implementarem as medidas de controle e realizarem busca ativa de mais ocorrências da doença.

Segundo a diretora do CVE (Centro de Vigilância Epidemiológico) da SES, Tatiana Lang, o sarampo é uma doença viral, que se apresenta de forma simples, na maioria das vezes, mas pode evoluir para a gravidade e morte. A transmissão ocorre pela tosse, fala, espirro, por meio de gotículas de saliva de uma pessoa doente. Por ser contagioso, há necessidade de isolamento. O órgão reforçou a importância da vacinação.

“O sarampo é uma doença de transmissão muito fácil, tendo em vista que estamos saindo de um passado recente de queda de cobertura vacinal e bastante negligência. A ocorrência simples desses dois casos já demonstra que temos algumas rachaduras aí. Se eu tiver que quantificar, não é um risco elevado porque a gente melhorou a cobertura vacinal, temos as vigilâncias atentas e está tudo mobilizado, mas, sim, merece toda a atenção, afirma Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Todas as pessoas de 12 meses a 59 anos de idade têm indicação para serem vacinadas contra o sarampo. Adolescentes e adultos não vacinados ou com esquema incompleto devem iniciar ou completar o esquema vacinal.

“Nunca é demais enfatizar que calendário vacinal foi feito para ser cumprido. Que as pessoas levem as mãos à consciência e olhe se a sua vacinação e a das crianças que cuida estão em dia”, reforça Araújo.

De acordo com Evaldo Stanislau, o sarampo é mais perigoso para crianças, doentes crônicos e pessoas com imunodepressão, mas a maior gravidade está relacionada a crianças pequenas, em geral menores de cinco e com alguma condição social de vulnerabilidade. Há muita descrição de sarampo, por exemplo, em campos de refugiados na África, em crianças desnutridas”, explica o infectologista do HC.

“Em crianças bem cuidadas e adulto saudáveis, a probabilidade de complicação é muito menor”, diz Araújo.

Brasil pode reconquistar certificado de país livre do sarampo

Em 2019, após um ano sem conseguir interromper a transmissão de sarampo, o Brasil perdeu o certificação de eliminação da doença. O status de país livre da doença havia sido concedido em 2016.

Entre 2016 e 2017, não houve registro de sarampo no Brasil. No ano seguinte, foram confirmadas 9.329 infecções. Em 2019, o número de casos chegou a 21.704 -41,3% (9.370) ocorreram na cidade de São Paulo. Em 2020, 2021 e 2022, houve 8.035, 670 e 41 ocorrências da doença. Em 2023, o país não teve nenhum caso e em 2024 já são quatro importados.

De acordo com o Ministério da Saúde, em maio de 2024, o Brasil recebeu a visita da Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita na Região das Américas e do Secretariado da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde). O objetivo foi dar continuidade ao processo de recertificação do Brasil como livre da circulação de sarampo e com sustentabilidade da eliminação da rubéola e da síndrome da rubéola congênita.

Na próxima semana, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) estará em Lima, no Peru, em uma reunião com a comissão para mais instruções sobre o processo de recertificação. A expectativa é que em breve o Brasil recupere a certificação.

Em junho deste ano, o país completou dois anos sem casos autóctones (transmitidos em território nacional) de sarampo.

PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress

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