Rodeios crescem no rastro de Barretos e faturamento chega a R$ 10 bilhões

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Eles foram retomados no ano passado, com forte presença de público depois de dois anos sem realização, e com a incerteza sobre como seria o futuro do segmento.

A perspectiva era de que nem todos se restabelecessem da interrupção provocada pela pandemia, mas as festas de peão ganharam um impulso neste ano, cresceram em quantidade e o setor já projeta receitas de cerca de R$ 10 bilhões em 2023. Até o ano passado, a receita era estimada em pouco mais de R$ 8 bilhões.

São ao menos 1.200 eventos do gênero previstos, tendo como principal catalisador a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, que está em sua 68ª edição e é o principal termômetro do setor. Em 2022, foram realizados cerca de 900 eventos, conforme dados da CNAR (Confederação Nacional de Rodeio).

Os números e custos são superlativos e cada vez mais inflacionados. Montagem de eventos, transporte e diárias de touros apresentaram aumentos em relação às edições pré-pandemia. Uma diária de um animal num rodeio como o de Barretos pode chegar a R$ 1.000, aumento de mais de 40% em relação a festas passadas.

Só em Barretos, o impacto direto e indireto gerado na economia de cidades da região foi de R$ 1,24 bilhão na festa de 2022, segundo dados da Secretaria de Turismo e Viagens do governo paulista.

Hotéis estão lotados na cidade e um quarto de hotel que chega a custar R$ 269 nos outros meses do ano foi oferecido por mais de R$ 1.100 por dia durante a festa.

Único hotel dentro do Parque do Peão –recinto que abriga a festa–, o Barretos Park Hotel foi fechado por uma cervejaria e tem 100% de ocupação desde o início do mês passado, com hóspedes de estados como Santa Catarina, Tocantins e Rio de Janeiro (nenhum deles com vasta oferta de eventos do gênero), além de visitantes dos Estados Unidos.

Os estados com maior quantidade de festas são São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Mato Grosso do Sul. A estimativa é que pelo menos 400 dos 645 municípios paulistas tenham montarias em touros no decorrer do ano.

De acordo com Adriano Santos, consultor em turismo e gerente do hotel, 50% das reservas são feitas com um ano de antecedência –ou seja, durante ou imediatamente após o término da edição anterior da festa.

“Os rodeios voltaram muito forte no ano passado, e os que antecederam Barretos neste ano foram bem. Além disso, muitas prefeituras voltaram a fazer eventos e, com isso, ajudam muito o segmento”, disse Jerônimo Muzetti, presidente da CNAR e ex-presidente de Os Independentes, associação que organiza a festa de Barretos.

Em Ribeirão Preto, o Ribeirão Rodeo Music deste ano bateu recorde de público ao atrair 160 mil pessoas em sua 17ª edição, que teve um espaço 30% maior do que o preparado em 2022.

Dezenas de municípios menores retomaram as festas de peão só neste ano. Em Américo Brasiliense (SP), o rodeio voltou a ser realizado após um hiato ainda maior, de seis anos, aumentando a presença das festas de peão em solo paulista.

Realizar um evento do tipo não é barato. De acordo com a CNAR, uma festa de pequeno porte, apenas com atrações locais, custa pelo menos R$ 200 mil, enquanto numa festa média a estrutura ultrapassa um investimento de R$ 3 milhões sem dificuldades.

Cachês de artistas no auge custam em média de R$ 500 mil a R$ 700 mil, segundo empresários do setor ouvidos pela reportagem–mas há também os shows milionários, que inclusive se transformaram na “CPI do sertanejo” em 2022–, e os investimentos elevados fazem as prefeituras buscarem apoio junto à iniciativa privada para a realização dos festivais.

A Prefeitura de Severínia (SP) abriu no ano passado uma chamada pública para eventuais patrocinadores do evento, a um custo total de R$ 150 mil.

“Se a economia estivesse melhor, o cenário poderia ser de mais avanço [no total de eventos], mas está boa, é um momento bom”, disse Muzetti.

Aos competidores, Barretos reserva a distribuição de cerca de R$ 1 milhão em prêmios, sendo R$ 200 mil ao campeão de montarias em touros no Barretos International Rodeo, primeiro evento internacional do país e que catapultou a festa nos anos 1990.

“Barretos vai fazer neste ano um dos maiores rodeios dos últimos dez anos. Ano passado ainda estava meio preso, as pessoas ainda não entendiam direito como ia ser [por causa da pandemia], neste ano as coisas estão mais leves”, disse Marcos Abud, diretor de rodeios de Os Independentes.

Devem passar pelas arenas de competições mais de 3.000 animais, além de 600 competidores nas montarias em touros e cavalos e em provas cronometradas, como team penning (trio de cavaleiros deve isolar três animais num curral sem encostar neles) e três tambores (em que deve percorrer um triângulo formado por três tambores no menor tempo possível).

NAS ALTURAS

Os touros, que participam da prova mais arrojada dos rodeios (e também mais criticada por associações de proteção animal), estão supervalorizados no mercado e, graças ao avanço da genética, alcançam preços impensáveis anos atrás.

Em 2019, o touro Reza a Lenda, um dos principais nos rodeios na última década, foi comercializado por R$ 520 mil (R$ 680 mil corrigidos pela inflação do período), mas não é anormal encontrar tropeiros e peões falando em animais avaliados em mais de R$ 1 milhão.

Cada touro fruto de avanços genéticos chega a pesar mais de 900 quilos e custa por mês, só em alimentação, mais de R$ 1.000 (fora tratadores, zootecnistas, veterinários e gastos do espaço em que ficam).

RESTRIÇÕES

Um obstáculo para o crescimento dos rodeios é a restrição existente em algumas localidades ou a falta de interesse por eventos do gênero.

É o caso de São Paulo. Em 2017, João Doria, então prefeito, esteve em Barretos e, no palco, propôs a realização “muito em breve” de uma festa igual na capital. Mas a legislação veta esse tipo de evento em São Paulo.

“Por desconhecimento, falei em ter uma festa parecida com essa em São Paulo, porém há uma legislação vigente na cidade que não permite e, como respeitador das leis que sempre fui em toda minha vida, não haverá festa dessa natureza por aqui”, disse ele três dias depois.

Já em outros locais, como Franca (SP), a falta de uma “cultura do rodeio” faz com que os eventos ocorram em pequenas cidades vizinhas, mas não na conhecida capital do calçado.

MARCELO TOLEDO / Folhapress

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