RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – No inquérito sobre a morte de Fernando Iggnácio, em 2020, a polícia apontou as supostas motivações de Rogério de Andrade para o crime, traçando um histórico do jogo do bicho e da criminalidade no Rio de Janeiro. As razões apontadas incluiriam o controle de atividades ilícitas e o desejo de vingança pela morte de seu filho adolescente, vítima de uma explosão causada por uma bomba colocada no carro da família.
Segundo a polícia, desde a morte de Castor de Andrade, em 1997, a disputa pelo controle da contravenção deu início a uma guerra familiar pela sucessão. Ainda em vida, Castor havia escolhido Rogério, seu sobrinho, para comandar as atividades ilícitas na zona oeste e outras regiões do estado. Seu filho, Paulo Andrade, 47, o Paulinho, teria discordado dessa decisão, o que gerou um conflito entre os dois.
Em 1998, Paulinho e seu segurança foram assassinados na Barra da Tijuca. O genro de Castor, Fernando Iggnácio Miranda, assumiu a liderança da disputa com Rogério. Meses depois, a polícia identificou o ex-PM Jadir Simeone Duarte como o autor dos disparos. Em depoimento, Duarte acusou Rogério de ser o mandante do crime.
A partir da segunda metade dos anos 1990, Fernando Iggnácio passou a controlar a Adult Fifty, empresa que operava máquinas de caça-níqueis em toda a zona oeste, enquanto Rogério teria começado a disputar o lucro da região.
Em 2001, Rogério sofre um atentado ao chegar a um apart-hotel no Recreio dos Bandeirantes, acompanhado de sua namorada. Conforme seu depoimento, ele foi recebido a tiros, mas conseguiu escapar e entrou em luta corporal com o atirador, que fugiu. Na ocasião, Fernando Iggnácio foi apontado pela polícia como suspeito de ser o mandante.
No mesmo bairro, na avenida das Américas, local onde Iggnácio foi morto em 2020, Rogério perdeu o filho adolescente, em 2010. Diogo Andrade, 17, morreu após a explosão de uma bomba plantada em um Toyota Corolla da família.
Ao contrário do que o atentado planejava, Rogério, que estava no banco do passageiro, sobreviveu, sofrendo uma fratura facial, enquanto seu filho morreu na hora. Assim, Rogério teria planejado a morte de Iggnácio na mesma avenida -ele foi baleado em uma emboscada ao desembarcar em um heliponto quando voltava de Angra dos Reis.
“Sendo assim, Rogério de Andrade teria a disputa pelo controle do jogo, bem como a morte do seu filho como motivação para o crime”, diz trecho do relatório policial.
A promotoria já havia denunciado Andrade em março de 2021 pelo homicídio, mas, em fevereiro de 2022, a 2ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu trancar a ação penal por falta de provas. No entanto, novas investigações conduzidas pelo Gaeco teriam revelado supostos crimes relacionados à disputa entre Andrade e Iggnácio.
Em sua defesa, os advogados afirmaram à época que a denúncia é genérica e falha em esclarecer como Rogério teria planejado ou ordenado a execução do crime, além de não apresentar provas concretas que justifiquem a imputação de autoria. Seus advogados argumentaram que a acusação foi formulada com base “em presunções e em um histórico familiar de rivalidades, sem apresentar evidências suficientes para corroborar a participação de Rogério Andrade como mandante do homicídio”.
Os novos defensores de Rogério ainda não se manifestaram a respeito da nova denúncia.
BRUNA FANTTI / Folhapress