SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ronaldo Lemos, colunista da Folha de S. Paulo e apresentador do “Expresso Futuro”, do canal Futura, já gravou duas temporadas nacionais, duas nos Estados Unidos, uma na China e uma no continente africano.
Agora, volta ao Brasil com seu programa sobre tecnologia e sociedade para uma sequência de episódios sobre a Amazônia, que desafiam velhas oposições entre tradicional e inovador e entre a natureza e a técnica, mostrando como a região recebe e produz tecnologia.
São seis episódios, que serão exibidos a partir de segunda-feira, dia 11, às 21h. Já no começo, Lemos –que é especialista em tecnologia com passagem por USP, Havard, Princeton, Oxford e MIT– traz uma novidade polêmica, que ele vê como essencialmente positiva.
Ele acompanhou o transporte, pelo rio Solimões, de caixas de receptores da Starlink, empresa do bilionário sul-africano Elon Musk que promete levar internet a regiões isoladas da Amazônia.
A região, conectada desde sempre pelos rios –por onde passam os cabos de fibra ótica–, terá também sinal do espaço. A grande inovação da Starlink é que, ao contrário dos satélites das empresas que fornecem internet na região hoje, os da empresa de Musk orbitam mais perto do solo, permitindo uma conexão muito melhor.
Presente na região desde 2022, a Starlink já lidera o fornecimento de banda larga fixa na região. Segundo um levantamento da BBC News Brasil, a empresa já tinha antenas instaladas em 90% dos municípios da região até julho deste ano. A tecnologia é capaz de conectar regiões de difícil acesso, que antes estavam digitalmente isoladas, como comunidades indígenas e ribeirinhas.
“É algo que temos que comemorar, pela primeira vez, lugares que são de difícil acesso vão ter conexão. Isso muda a vida das pessoas. Você está numa região que até então era isolada e, de repente, você pode estudar, aceitar pix, pedir ajuda, denunciar crime ambiental”, diz Lemos.
Mas o apresentador vê alguns pontos de cautela. O primeiro é o risco de que a empresa estrangeira comece a falir os provedores que já atuam na região. O segundo, influenciado pelo anterior, é que, monopolizando a região, a empresa passe a ter um controle muito grande pelos dados que circulam por lá.
A solução, ele diz, passa por vigiar para que a Starlink cumpra as regras do Marco Civil da Internet, de 2014, –de cuja concepção ele participou–, que proíbe que os provedores de internet monitorem o acesso dos usuários. Passa também por governo agilizar a construção de estruturas de fibra óptica nos leitos dos rios, projeto já previsto, mas moroso, que possibilitaria criar competição para a multinacional.
Mas não só de tecnologias estrangeiras falará a série. Ao longo dos episódios, Lemos apresentará ao público iniciativas da Amazônia que, segundo ele, podem servir de inspiração para o público.
Em universidades da região, a Estadual do Amazonas e a Federal do Amazonas, encontrou laboratórios exemplares, um de desenvolvimento de jogos e o outro de ciência da computação.
Outro caso interessante é o do grupo Bemol, que conseguiu montar uma logística competente para acessar lugares isolados e age como uma Amazon local. A empresa entrega eletrodomésticos e outros produtos para esses pontos.
Esses exemplos se juntam a conhecimentos da medicina tradicional indígena, à culinária tradicional da região e outros saberes. “São coisas que a gente perdeu, de saber como a gente pode viver em sincronia com o ambiente, com base no que existe de disponível no lugar em que você vive.”
Para Lemos, a grande mensagem que fica da série é que a tecnologia pode ser positiva para a Amazônia. “A economia do conhecimento, ativada pela tecnologia, é o principal caminho para ter uma Amazônia sustentável.”
DIOGO BACHEGA / Folhapress