SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Roubos e furtos de carros de passeio têm migrado da zona leste para a sul na cidade de São Paulo. É o que aponta um levantamento da empresa de rastreamento Ituran Brasil, com base em boletins de ocorrência disponibilizados pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.
Regiões como as de Santo Amaro, Campo Grande, Jabaquara e Ipiranga, todas na zona sul, registraram disparadas nas estatísticas no ano passado, na comparação com 2022.
Em Santo Amaro, a alta foi de 63% –o número de carros que sumiram das ruas passou de 327 para 533 nos períodos comparados.
No bairro, chamou a atenção no levantamento a rua São Benedito, que em 2022 teve 16 ocorrências computadas no levantamento anterior e no ano passado, 37.
Por outro lado, as queixas caíram de um ano para o outro em regiões como São Matheus (redução de 18,7%) e na Água Rasa (10% a menos), entre outras, da zona leste.
A Mooca, que em 2022 estava na 13ª colocação da lista, saiu do “top 20”, após apresentar queda de 33% nos casos.
O Tatuapé, bairro de classe média com ampla expansão imobiliária e concentração de bares e restaurantes na zona leste –atrativos para se estacionar carros nas ruas– registrou aumento de 5% nas ocorrências (passaram de 880 para 924), mas perdeu a liderança nas estatísticas de roubos e furtos.
O Ipiranga assumiu em 2023 a primeira colocação neste ranking de criminalidade, com 943 ocorrências contra 780 em 2022 -alta de aproximadamente 21%. Ou seja, no ano passado, em média, mais de dois carros foram levados diariamente por ladrões no bairro.
“Na região do Ipiranga, que faz divisa com a zona leste, existem diversas estações de trem e metrô, onde muitas pessoas estacionam seus veículos para utilizar o transporte público. Isso aumenta a exposição dos carros em locais com pouca movimentação e segurança, tornando-os mais vulneráveis”, afirma Fernando Correia, gerente de operações da Ituran e um dos responsáveis pela pesquisa.
A lista com 20 bairros com mais casos de roubo e furtos de carros tem um da zona norte (Pirituba) e um da zona oeste (Perdizes). Não aparece nenhum do centro.
O levantamento da Ituran leva em conta apenas carros de passeios sedãs, coupé e hatch. Ou seja, não engloba SUV’s, picapes, motocicletas e veículos de carga, entre outros. Os dados apresentados somam roubos e furtos, sem divisão.
O número de queixas na cidade de São Paulo cresceu 9,3% entre os dois anos comparados, passando de 32.257 para 35.248 casos.
Na região metropolitana de São Paulo, a alta foi de 8,2% (de 53.154 para 57.501).
No geral, somando todos os tipos de veículo, entretanto, houve queda nas estatísticas de roubo e furto de um ano para o outro, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
Na capital, diz a pasta, os roubos de veículo caíram 9,1% e os furtos, 2,6%. Na Grande São Paulo, as quedas foram de 15,1% e 4,4%, respectivamente.
Entre 2022 e 2023, a frota de veículos no município de São Paulo subiu cerca de 3%, passando de 9,1 milhões para 9,5 milhões, aponta o Ministério dos Transportes.
O especialista em segurança pública Alan Fernandes afirma que no caso da Água Rasa, local com histórico de furto de veículos, por exemplo, ocorreram diversas ações de policiamento, inclusive de batalhões especializados, que podem ter baixado as estatísticas.
Para ele, que é coronel da reserva e comandou batalhão da Polícia Militar na zona leste quando estava na ativa, a concentração desse tipo de crime em bairros mais afastados do centro ocorre pela proximidade aos desmanches clandestinos.
Fernandes afirma que para levar um veículo roubado do centro até o local onde será desmanchado na periferia é preciso passar por câmeras de segurança com detectores de placas, radares e possíveis operações policiais. “É mais arriscado”, diz.
Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que as regiões centrais têm uma grande população flutuante, o que faz com os carros “não durmam estacionados lá”.
Foi em uma rua da região de Santo Amaro que Paulo Emerson de Fontes Rodrigues, 29, estacionou pela manhã o seu Gol, ano 1993. As câmeras de segurança da transportadora onde ele trabalhava registraram o momento que um homem conseguiu abrir o veículo, desligar o alarme e sumir com ele.
Rodrigues conseguiu recuperar o carro, após publicar fotos do Gol, que não tinha seguro, em redes sociais. As imagens acabaram compartilhadas em grupos da zona sul, até que um desconhecido reconheceu o Volkswagen prata.
“O dono da casa onde o ladrão deixou o carro em frente, no Parque Santo Antonio [também na zona sul], viu as postagens”, disse o dono, que foi até o local, telefonou para a polícia e, após uma revista da PM, ligou o Gol com a chave reserva e foi embora. “Estava intacto”, lembra.
O modelo é o preferido dos ladrões de carros de passeio, conforme os dados levantados pela Ituran. No ano passado na Grande São Paulo, 3.583 unidades do modelo da VW foram roubadas ou furtadas. O número é 5% maior que as 3.396 unidades levadas em 2022, quando o carro popular da VW era o segundo colocado da lista, atrás do GM Onix (3.680).
A Secretaria da Segurança Pública afirma não comentar pesquisas cuja metodologia desconhece, mas diz que o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem intensificado a fiscalização em ferros-velhos, desmanches e lojas de peças automotivas para identificar receptadores que alimentam o mercado clandestino.
Na capital, a Divisão de Investigações sobre Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas [Divecar] faz operações constantes para fechar desmanches e comércios ilegais de peças. Em 2023, a especializada prendeu 778 criminosos, apreendeu 967 veículos, além de mais de 67,4 mil peças veiculares”, diz.
“O trabalho de inteligência, preventivo e ostensivo das forças de segurança, colaborou para a recuperação de mais de 49,5 mil veículos [no estado]”, afirma trecho da nota.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress