PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Prestes a ser afetado por mais uma passagem de ciclone no seu litoral norte nas próximas horas desta terça (26) e madrugada de quarta (27), o Rio Grande do Sul sofre os efeitos de uma frente fria que trouxe temporais insistentes desde o final de semana em diferentes regiões.
O estado, que ainda contabiliza mortes e prejuízos no Vale do Taquari, está com dois alertas simultâneos do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia): um laranja para “perigo de tempestade” e um vermelho indicando “grande perigo de acúmulo de chuva”, que abrange 78 municípios incluindo a região metropolitana de Porto Alegre, parte da serra e do litoral norte.
Conforme balanço mais recente da Defesa Civil do RS, 40 municípios gaúchos registraram danos depois da enchente do Vale do Taquari. Nestes, há 1.047 pessoas que tiveram ou suas residências comprometidas (395) ou tiveram de ser afastadas temporariamente de casa (1.012).
No final da tarde desta segunda (26), a Brigada Militar (a polícia militar gaúcha) confirmou a morte de uma mulher no interior de Barra do Ribeiro, no sul do RS. Elisabete Terezinha Nunes, 60, estava em um Celta com o marido e dois netos em uma estrada de chão quando o carro foi arrastado pela água até um riacho.
O marido e as crianças conseguiram sair do carro e se salvar, mas ela foi levada pela correnteza. O corpo foi localizado por um mergulhador do Corpo de Bombeiros.
A previsão é de que a chuva deixe o RS na quinta (28) e retorne em volumes menores no sábado (30). Em Porto Alegre, setembro de 2023 foi o mês mais chuvoso desde que é feita a medição, em 1916.
Até a tarde desta terça, uma das regiões mais afetadas era o litoral norte, a mesma que foi fortemente atingida pelas chuvas causadas por outro ciclone, em 15 e 16 de junho. Na ocasião, morreram 16 pessoas e mais de 16 mil ficaram desabrigadas.
Em Maquiné, município do litoral norte em que morreram três pessoas em junho, os passageiros de um ônibus intermunicipal tiveram de ser resgatados com a ajuda de uma corda quando o rio Maquiné transbordou e invadiu a ERS-484. Um idoso foi resgatado carregado nas costas.
Uma das bacias que causa preocupação é a do rio dos Sinos, que banha municípios da região metropolitana de Porto Alegre e costuma sofrer o efeito das chuvas com alguns dias de atraso, após a chuva de outras regiões desaguarem ali. Em Santo Antônio da Patrulha, município localizado entre a região metropolitana e o litoral norte banhado pelo Sinos e também pelo rio Gravataí, as ruas ficaram alagadas.
Em municípios como Taquara e Sapucaia do Sul, a Defesa Civil está em alerta para inundações e escolas públicas suspenderam as atividades. Outros municípios da região metropolitana, como Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Esteio e Gravataí tiveram chuva de granizo.
Destino das águas da chuva de todo o Rio Grande do Sul antes de desaguarem no oceano Atlântico, a Lagoa dos Patos, no sul do estado, também está acima do nível normal e afeta municípios da chamada Costa Doce, como Barra do Ribeiro, Pelotas e Tapes. O problema é agravado com o vento sul, que atrapalha o curso das águas para o oceano.
As famílias de pescadores desses municípios estão sendo retiradas de casa pela Defesa Civil. Também em Pelotas, 90 pessoas estão em abrigos temporários. O município sofre com o acumulado de chuva. Foram 413 milímetros em setembro, o equivalente a mais de 30% do esperado para o ano. Na segunda (25), a prefeitura decretou situação de emergência.
Em Porto Alegre, que está com as comportas da cidade fechadas para resguardar a região banhada pelo lago Guaíba, houve alagamentos sobretudo na região as ilhas, norte e sul da cidade. A cidade teve chuva em 19 dos 26 dias de setembro.
O catamarã da CatSul, que faz o transporte de passageiros pelo lago entre a cidade de Guaíba e Porto Alegre, foi interditado por segurança após ter as estações alagadas. O Cais Embarcadero, ponto turístico com restaurantes e áreas de lazer na antiga região portuária, também está com operações suspensas.
O acumulado de 413,8 milímetros de chuva em Porto Alegre, conforme o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), é o maior da história. Superou setembro de 2016, quando choveu 362 milímetros, e as históricas marcas da enchente de 1941, quando choveu 386 milímetros em abril e 405 em maio.
Na ocasião, o alagamento de bairros inteiros da capital gaúcha levou Porto Alegre a desenvolver um sistema de contenção nas décadas seguintes que conta com um muro na região do antigo porto, comportas, casas de bombas e largas avenidas e rodovias à beira do lago que funcionam como diques externos.
CAUE FONSECA / Folhapress