RS vive expectativa por volta de aeroporto 5 meses após enchente travar viagens

RIO DE JANEIRO, RJ, E PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Após cinco meses sem pousos e decolagens, o aeroporto internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, finaliza os preparativos para a retomada parcial dos voos domésticos, agendada para 21 de outubro.

A reabertura marca o fim de uma espera de cinco meses, já que as operações aéreas foram paralisadas no local na noite de 3 de maio.

À época, Porto Alegre sofria os impactos iniciais das enchentes de proporções históricas que devastaram o Rio Grande do Sul. O aeroporto não ficou imune à tragédia.

A água invadiu hangares e o térreo do terminal, atingiu 65 centímetros dentro do prédio e mais de 2 metros nas vias de acesso.

Para os passageiros, o reflexo da catástrofe foi a redução da oferta de voos no Rio Grande do Sul, além do aumento dos custos.

Uma das saídas para quem precisou viajar foi pegar a estrada até Santa Catarina e utilizar aeroportos como o de Florianópolis (a 460 km de Porto Alegre).

Outra alternativa foi pagar mais por voos emergenciais na base aérea de Canoas, cidade vizinha de Porto Alegre. Nesse caso, o passageiro enfrenta um transtorno extra: a orientação para se apresentar com três horas de antecedência.

Para Luiz Afonso, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a retomada é “extremamente importante” devido ao impacto econômico de um terminal do porte do Salgado Filho.

“Empresas tiveram de enviar ou receber materiais por outros aeroportos e, do ponto de vista pessoal, muitas viagens deixaram de acontecer. O contato com o mundo foi bastante prejudicado”, diz.

“A entrada em funcionamento do aeroporto põe o estado em condições de competitividade muito maiores”, acrescenta.

A volta de voos nacionais virá após intervenções na parte elétrica e em parte da pista, incluindo fresagem, repavimentação e recolocação da sinalização horizontal.

Em um primeiro momento, Porto Alegre deve estar conectada com sete destinos: São Paulo, Guarulhos, Campinas, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília.

Segundo a concessionária Fraport, responsável pelo aeroporto, a operação em pista reduzida (1.730 metros) poderá receber até 128 frequências diárias entre 8h e 22h. Voos regionais devem retornar em novembro.

Também foram finalizadas intervenções em estruturas internas como escadas rolantes, esteiras de bagagem e sistemas elétricos e de tecnologia da informação.

Uma aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) realizou voos para testar equipamentos para aproximação, pousos e decolagens. De acordo com a Fraport, os procedimentos são parte do processo de homologação das obras da pista.

A última etapa da reabertura do Salgado Filho tem previsão de entrega para 16 de dezembro com o retorno de voos internacionais.

Os primeiros destinos devem ser a Cidade do Panamá ainda este ano e Buenos Aires e Lima em janeiro de 2025.

Para isso, será preciso entregar a totalidade dos 3.200 metros da pista, além de concluir outras obras.

NÚMERO DE PASSAGEIROS CAI QUASE 80% NO RS

Sem o Salgado Filho, o número de passageiros movimentados no Rio Grande do Sul sofreu um baque. De maio a agosto, mês mais recente com dados disponíveis, os aeroportos gaúchos receberam 616,1 mil viajantes.

O número é 78,7% inferior ao de igual período do ano passado (2,9 milhões), considerando voos nacionais e internacionais com origem ou destino no estado. As informações foram consultadas pela Folha em painel da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Para atenuar a crise, o governo federal apostou em uma malha aérea emergencial. A iniciativa estabeleceu rotas adicionais em aeroportos menores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, além da base aérea de Canoas.

O terminal militar passou a receber voos comerciais no fim de maio, mas, devido a limitações estruturais, não conseguiu absorver toda a demanda do Salgado Filho. O reflexo foi o aumento das passagens.

Segundo outro painel da Anac, a tarifa média dos voos domésticos com origem em Canoas foi de R$ 1.104,39 em agosto. É um valor 67,1% maior do que o registrado em igual mês de 2023 para rotas nacionais com partida em Porto Alegre (R$ 660,90).

“É a lei da oferta e da procura na prática. Há uma capacidade bastante restrita com o Salgado Filho fechado. O desequilíbrio gera tarifas mais altas. Quem tem condições, acaba pagando”, diz Oscar Frank, economista-chefe da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Porto Alegre.

Segundo ele, um dos setores que tendem a ser beneficiados pela volta do Salgado Filho é o turismo gaúcho. Cidades como Gramado (a 105 km da capital) dependem dos visitantes que usam o aeroporto.

Para Frank, a ampliação da oferta de voos deve gerar uma “acomodação” gradual das tarifas aéreas.

As operações de check-in, embarque e desembarque foram retomadas no Salgado Filho em julho, mas somente para os voos na base de Canoas. Uma linha de ônibus foi instalada para a conexão entre os dois locais.

O QUE DIZEM AS EMPRESAS

Azul, Gol e Latam anunciaram em agosto a retomada dos voos em Porto Alegre a partir de outubro. Com isso, a operação em Canoas será encerrada.

Sobre as tarifas, a Gol afirmou em nota que adota modelo de “precificação dinâmica”. “Este modelo faz com que as tarifas tenham oscilação constante –considera a antecedência de compra da passagem e a ocupação da aeronave– permitindo que, em contrapartida, os passageiros que não conseguem se planejar e necessitam adquirir de última hora um bilhete também tenham opções disponíveis”, diz a empresa.

A Gol diz que constantemente faz promoções.

A Latam, por sua vez, afirma que a precificação do setor aéreo é dinâmica em todo o mundo, de acordo com a demanda e outros fatores como disponibilidade, antecedência da compra, preço do combustível, sazonalidade e origem e destino das rotas.

A Azul também foi questionada sobre preços, mas não se manifestou.

LEONARDO VIECELI E CARLOS VILLELA / Folhapress

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