BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (2) que “muitos ruídos” relativos às expectativas no âmbito fiscal e monetário levaram o Copom (Comitê de Política Monetária) a interromper o ciclo de queda de juros.
“Isso [pausa] tem muito mais a ver com os ruídos que foram criados do que com os fundamentos. Os ruídos estão relacionados a dois canais: um é a expectativa sobre o caminho da política fiscal e o outro é a expectativa sobre o futuro da política monetária”, disse Campos Neto em fórum do BCE (Banco Central Europeu), em Portugal.
Segundo o presidente do BC, os dois ruídos ao mesmo tempo criaram ” incerteza o suficiente” para que fosse preciso pausar os cortes da Selic. Em junho, o Copom interrompeu o ciclo de queda de juros e manteve a taxa básica, a Selic, em 10,5% ao ano, em decisão unânime.
“[Precisamos] ver como podemos corrigir esse canal e como podemos comunicar melhor para que possamos eliminar esses ruídos”, acrescentou.
Campos Neto participou de painel ao lado de Christine Lagarde, presidente do BCE, e de Jerome Powell, presidente do FED (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
Questionado sobre as recorrentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele afirmou que o presidente do BC “tem que sair da arena política” e “avançar com trabalho técnico”.
Nesta terça, Lula voltou a atacar o chefe da autoridade monetária em entrevista à rádio Sociedade da Bahia. “Não dá para ter alguém dirigindo o Banco Central com viés político, definitivamente eu acho que ele tem viés político. Eu não posso fazer nada, tenho que esperar ele terminar o mandato”, afirmou.
As falas do presidente contra a atuação do BC e as dúvidas colocadas por Lula quanto à necessidade de o governo cortar gastos levaram a uma forte depreciação do câmbio. O dólar engatou uma sequência de alta e fechou segunda (1º) cotado a R$ 5,65 maior patamar desde janeiro de 2022.
NATHALIA GARCIA / Folhapress