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Rússia cobra Brasil por mais apoio na Guerra da Ucrânia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, cobrou mais apoio do Brasil no contexto das negociações para encerrar a Guerra da Ucrânia.

O russo pediu ao assessor presidencial Celso Amorim mais “compreensão acerca das causas fundamentais” do conflito, ou seja, a visão de Moscou dos fatos que levaram à invasão de 2022.

Os diplomatas se reuniram na quarta-feira (28) em Moscou, às margens de um encontro internacional para debater assuntos de segurança que ocorre todos os anos, cujo foco agora foi ações cibernéticas.

Segundo o relato de pessoas próximas da diplomacia russa, a reunião foi cordial, mas a cobrança chamou a atenção dos presentes, já que o Brasil é um dos países neutros no conflito que são vistos como aliados pelo Kremlin.

Prova disso ocorreu há três semanas, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) juntou-se ao líder chinês, Xi Jinping, e a um punhado de ditadores ou clientes autocráticos de Moscou para celebrar os 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial ao lado de Vladimir Putin.

A visita valeu uma coleção de críticas a Lula, que deu de ombros, sob o argumento de que sua função é falar com todos os envolvidos. O governo do ucraniano Volodimir Zelenski, como seria previsível, discordou e atacou a posição brasileira.

Amorim lembrou da posição de neutralidade do país, que condenou a invasão em duas votações na ONU, mas critica as sanções ocidentais contra o Kremlin. Em seu discurso público no evento de segurança, voltou a defender o diálogo entre as partes. A Folha de S.Paulo tentou falar com o assessor presidencial, mas ele estava em voo nesta quinta-feira (29).

Tal posição condiz com a tradição do Itamaraty, que preza diálogo e interesses nacionais: os russos, que já eram importantes fornecedores de fertilizantes, passaram a ser os maiores vendedores de óleo diesel ao Brasil.

Isso está ameaçado desde o começo do ano pelo recrudescimento das sanções contra a frota de navios de bandeiras diversas que transporta produtos russos. Até aqui, não há relato, contudo, de empresas brasileiras punidas de forma indireta por fazer negócio com Moscou.

Segundo a chancelaria russa disse em nota, as conversas foram “francas e substanciais”. Amorim também se encontrou com o enviado de Teerã ao encontro na capital russa, o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, Ali Akbar Ahmadian.

A questão das ditas causas fundamentais da guerra é cara a Putin, e o russo conseguiu convencer o principal ator do enredo, o americano Donald Trump, de boa parte de sua visão do conflito.

Para Moscou, a invasão foi necessária após o Ocidente ignorar o ultimato dado pelo Kremlin em 2021, que exigia a neutralidade militar de Kiev e a proteção das populações russófonas no leste do país. Para Zelenski, isso é apenas desculpa para retomar o controle de fato sobre o país, como nos tempos soviéticos.

Os russos apontam para a derrubada do governo pró-Moscou em Kiev, em 2014, como marco das hostilidades. Com efeito, naquele ano o Kremlin promoveu a anexação da Crimeia, território russo até 1954, e promoveu a guerra civil de separatistas no Donbass (leste).

Zelenski e seus aliados denunciam isso como imperialismo. Os Estados Unidos mudaram esse entendimento com a volta de Trump ao poder, mas o desejo do presidente de acabar com o conflito tem esbarrado na realidade.

Ele reatou os contatos diretos com Putin, mas tem mostrado impaciência devido à redobrada aposta militar russa, com mega-ataques aéreos e ameaça de uma grande ofensiva. Chegou a admitir que pode estar sendo enrolado pelo russo, mas na prática ainda joga de acordo com o ritmo ditado em Moscou.

Nesta quinta, em sessão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA voltaram a dizer que podem deixar a negociação caso a Rússia não aceite um acordo agora, que seria o melhor negócio para Putin na visão de Trump. Falaram também que mais sanções contra Moscou estão na mesa, embora o que assuste Kiev seja a possibilidade de a ajuda militar americana deixar de chegar.

O próximo capítulo da novela foi marcado por Lavrov para a segunda (2), quando Istambul pode ser palco da segunda rodada de negociações diretas entre os rivais. Kiev está reticente e exige que Moscou apresente o memorando com seus termos para um acordo de paz em público antes do encontro.

Como os russos se negam a fazer isso, nesta quinta a chancelaria em Kiev disse que tudo indica que suas demandas são irrealistas. Putin já deu seu cardápio mínimo: absorção das quatro áreas que anexou ilegalmente em 2022 e neutralidade militar de Kiev. Zelenski sabe que vai perder terra, mas não há consenso sobre quanto e como.

Com isso, mesmo a reunião de segunda é incerta. A Suíça, que sediou uma cúpula de paz fracassada no ano passado, fez uma oferta de novo encontro, agora em Genebra e com a presença da Rússia, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

Os russos não gostaram da proposta por não engolir a reunião de 2024, baseada em um grupo de aliados da Ucrânia —os poucos países não alinhados presentes discordaram do texto final.

IGOR GIELOW / Folhapress

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