Rússia e Ucrânia fazem ofensivas antes da chegada de Trump

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dia após um ataque surpresa da Ucrânia dentro da região russa de Kursk, as forças de Moscou anunciaram nesta segunda (6) a conquista de uma cidade vital para as linhas de defesa de Donetsk, no leste do país invadido por Vladimir Putin há quase três anos.

Ambos os movimentos visam posicionar os rivais no campo de batalha, com objetivos diferentes, antes da chegada ao palco do novo presidente americano, Donald Trump. Ele toma posse daqui a duas semanas, e promete acabar com a guerra forçando uma negociação.

Aí começam as diferenças estratégicas. O ataque de Volodimir Zelenski no sul russo, uma aparente tentativa de ameaçar a capital regional homônima de Kursk, busca mostrar a Trump que Kiev ainda está no jogo do ponto de vista militar e pode impor constrangimentos a Putin.

Até aqui, a ação na região, iniciada há exatos cinco meses, não deu resultado prático de outro modo: as forças do Kremlin seguiram avançando no leste ucraniano, sem perda de tração. Zelenski também tentou convencer aliados ocidentais da Otan a lhe dar garantias de segurança com envio de tropas, sem sucesso.

Além disso, há uma cartada no ataque: expor a participação de soldados norte-coreanos na guerra de Putin, um segredo de polichinelo a esta altura: há vídeos abundantes apontando a presença dos aliados comandados por Kim Jong-un lutando em Kursk.

A Rússia não nega nem confirma que já faz uso do acordo assinado em 2024 com Pyongyang, que prevê assistência mútua em caso de agressão territorial —Moscou não via forças estrangeiras em seu solo desde a Segunda Guerra Mundial. Mas analistas russos são unânimes acerca da presença, discordando sobre os números.

Kiev fala em pelo menos 11 mil soldados, 3.000 dos quais já teriam morrido ou sido feridos de forma incapacitante. Não é possível avaliar isso, mas o fato é que no seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, Trump colocou a Coreia do Norte no topo de suas prioridades.

Primeiro, ameaçou aniquilar a ditadura comunista, depois a legitimou como potência nuclear ao promover três encontros com Kim. A aproximação fracassou e hoje os norte-coreanos, apoiados no tratado com Putin, estão mais agressivos do que nunca.

Explicitar a aliança parece ser o objetivo subjacente de Kiev em Kursk, já que militarmente avanços reais são difíceis. O problema para Zelenski é que, ao contrário do que previa ocorrer com os russos, a operação drena recursos importantes de defesa.

Isso se provou nesta segunda, com a queda de Kurakhove, uma cidade de tamanho grande para os padrões de Donetsk, que tinha cerca de 18 mil habitantes antes da guerra. Era um bastião fortificado ao longo dos meses pelos ucranianos, que a usavam para abastecer a defesa de Pokrovsk, centro logístico principal da região, que fica 32 km ao norte.

Pokrovsk já está sob ameaça há meses, e é palco de intensas batalhas. Segundo canais de Telegram ucranianos próximos das Forças Armadas, que confirmaram a tomada de Kurakhove apesar da alegação de Kiev de que ainda há combates no local, há unidades russas operando a 2 km da cidade.

Segundo um analista militar russo consultado pela reportagem, a assertiva do Ministério da Defesa de seu país de que a conquista vai acelerar o passo da tomada de Donetsk ainda precisa ser confirmada em solo. Segundo ele, o custo em sangue é altíssimo para Moscou, na casa de mil baixas por dia.

A vantagem de Putin, neste caso, é ter mais carne a oferecer. A Ucrânia, pressionada também por uma campanha aérea quase diária, está estudando formas de aumentar sua força humana na frente, mas ainda resiste a baixar a idade mínima de mobilização de 25 para 18 anos, como querem os Estados Unidos.

No leste conhecido como Donbass, Donetsk é 1 das 4 regiões anexadas por Putin em 2022, sem amparo legal ou controle total. Segundo estimativas da Defesa russa no fim do ano, algo entre 25% e 30% de lá, Kherson e Zaporíjia (sul) ainda estão sob controle de Kiev, enquanto apenas 1% de Lugansk (leste) segue nas mãos de Zelenski.

IGOR GIELOW / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS