SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia enviou a julgamento nesta quinta-feira (13) o jornalista americano Evan Gerchkovitch, do jornal The Wall Street Journal, por supostamente coletar informações sobre uma fábrica de tanques a pedido da CIA, a agência de espionagem dos Estados Unidos.
Gerchkovitch, que foi detido em março de 2023 na cidade de Ecaterimburgo, vai enfrentar agora um processo que pode condená-lo a até 20 anos de prisão. Os serviços de segurança russos dizem que ele foi pego em flagrante enquanto tentava obter segredos militares.
De acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras, a Rússia não apresentou nenhuma prova da suposta espionagem por parte do jornalista. Gerchkovitch, a família dele, o Wall Street Journal e o governo dos EUA negam veementemente a acusação. Segundo o diário americano, ele tinha credenciais de imprensa fornecidas pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
O Wall Street Journal disse em nota nesta quinta que a acusação era “falsa e infundada, cheia de mentiras calculadas e explícitas”. O presidente Joe Biden chamou a prisão do jornalista de “completamente ilegal”.
De acordo com as autoridades russas, Gerchkovitch será julgado em Ecaterimburgo, mas não há prazo para o início do processo, e ainda não se sabe se as sessões serão públicas.
“A investigação confirmou, com provas documentais, que Gerchkovitch coletou informações secretas sobre a produção de equipamento militar seguindo instruções da CIA na região de Sverdlovsk em março de 2023”, afirmaram em nota os procuradores encarregados do caso. “Ele utilizou métodos cuidados e conspiratórios.” As provas citadas pela Procuradoria não foram divulgadas.
Em uma declaração conjunta, o publisher do Wall Street Journal, Almar Latour, e a editora-chefe, Emma Tucker, disseram que “a decisão da Rússia de realizar um julgamento de fachada não é surpreendente, mas nem por isso deixa de ser revoltante”.
“Evan passou 441 dias preso injustamente simplesmente por fazer seu trabalho. Evan é um jornalista, e a tentativa do governo russo de atacar sua reputação é repugnante.” Gerchkovitch foi o primeiro americano a ser detido na Rússia sob acusação de espionagem desde o fim da Guerra Fria.
Em dezembro, o jornalista recebeu a visita da embaixadora dos EUA na Rússia, Lynne Tracy, que disse que ele estava tentando manter um bom humor na prisão e se preparar para o julgamento “de um crime que não cometeu”.
Em fevereiro, Putin sinalizou que aceitaria libertar Gerchkovitch em troca de Vadim Krasikov, um suposto espião russo que está preso na Alemanha por assassinato. Já no último dia 23, o candidato republicano à presidência dos EUA, Donald Trump, disse que vai usar sua relação pessoal com o presidente russo, Vladimir Putin, para conseguir a soltura de Gerchkovitch.
Trump disse em uma publicação de sua rede social, a Truth Social, que Gerchkovitch seria solto logo após as eleições americanas, marcadas para acontecer no dia 5 de novembro, quando o ex-presidente enfrentará Joe Biden.
Gerchkovitch é filho de imigrantes vindos da antiga União Soviética, e construiu uma carreira como jornalista focado na Rússia.Segundo o Wall Street Journal, ele é mantido na prisão russa de Lefortovo, a leste de Moscou, e fica a maior parte do tempo isolado. Passa 23 horas em uma pequena cela e sai para caminhar e fazer exercícios durante apenas uma hora por dia.
Redação / Folhapress