SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia promoveu nesta terça-feira (3) um dos mais mortíferos ataques da Guerra da Ucrânia. Ao menos 51 pessoas morreram e 219 ficaram feridas quando um instituto militar no centro de Poltava, leste do país, foi atingido por dois mísseis balísticos.
O presidente Volodimir Zelenski determinou a abertura de uma investigação sobre responsabilidades militares em prevenir o incidente e não citou o fato de que o Instituto de Comunicações de Poltava e um hospital adjacente recebem cadetes e soldados.
Até aqui, o maior número de mortos em um bombardeio contra uma única localidade na guerra havia ocorrido não muito longe dali, na estação de trem de Kramatorsk, com 61 vítimas em 2022. Naquele caso, o míssil era de artilharia, de um modelo usado tanto por separatistas pró-Rússia quanto por Kiev, o que levou a acusações de autoria.
O Ministério da Defesa da Rússia ainda não comentou o incidente, mas sua resposta padrão é a de que mira alvos militares ou estratégicos, não civis. A Folha ouviu de analistas militares russos que o ataque provavelmente empregou modelos Iskander-M, a mesma hipótese da Procuradoria-Geral da Ucrânia.
Na hipocrisia da guerra, já que nada vai mudar para mortos e feridos, o fato de o alvo ser militar dificulta a divulgação do “ato bárbaro” contra civis anunciado por Zelenski.
Mais cedo, a Rússia havia divulgado o lançamento de um ataque coordenado contra a infraestrutura ferroviária dos ucranianos. Foram lançados 35 drones, 27 dos quais interceptados segundo Kiev, e quatro mísseis incluindo os dois que atingiram Poltava. Os outros ataques haviam matado duas pessoas em Zaporíjia (sul) e uma em Dnipro (centro).
Segundo a rede RBK-Ucrânia, o serviço secreto quer saber se houve negligência dos militares da cidade em alertar a tempo a população do ataque.
A campanha russa havia começado a escalar na semana passada, com três ataques que incluíram a maior ação do tipo na guerra. Os ucranianos revidaram com o maior número de drones lançados contra o território russo no domingo (1º), e já na segunda (2) Moscou voltou à carga.
O incidente vai elevar a pressão de Kiev sobre parceiros ocidentais para o fornecimento e autorização de uso dentro de alvos na Rússia de mísseis de longa distância. O presidente já falou novamente sobre o tema com aliados, como o premiê canadense, Justin Trudeau, nesta terça.
Quando invadiu a região meridional russa de Kursk, em 6 de agosto, Zelenski buscava entre outras coisas provar que as linhas vermelhas do Kremlin não eram assim tão rubras, tanto que empregou mísseis americanos na ação.
Tecnicamente, no jogo de palavras da guerra, Kursk é uma área fronteiriça que apoia ações militares russas na Ucrânia, então seria elegível para o emprego de armas dos EUA e de seus parceiros da Otan (aliança militar ocidental).
O que Zelenski quer é autorização para atingir bases aéreas distantes, de onde partem bombardeiros estratégicos que lançam mísseis de cruzeiro e os caças MiG-31K que disparam hipersônicos Kinjal. Já os Iskander-M, os melhores do tipo no arsenal russo, voam de veículos lançadores móveis e têm alcance de 500 km.
A escalada na guerra aérea, portanto, serve a propósitos diversos. Para Kiev, é uma forma de pressionar por mais ajuda. Já Moscou parece buscar apertar ao máximo os ucranianos no momento em que operam em seu território e também enquanto avançam com força na região de Donetsk.
PUTIN VISITA MONGÓLIA SEM SEM PRESO
Apesar dos protestos da Ucrânia, da União Europeia e do TPI (Tribunal Penal Internacional), que no ano passado emitiu uma ordem de prisão contra Putin por supostos crimes de guerra, o presidente russo visitou em alto estilo a vizinha Mongólia.
O país asiático reconhece a corte e em tese seria obrigado a prender o russo. Mas sua posição geográfica delicada, espremido entre Rússia e China, e uma série de projetos energéticos oferecidos por Moscou falaram mais alto.
O Kremlin já havia dito que não haveria constrangimentos, e não houve. Putin convidou os mongóis a participarem como observadores da reunião do Brics em Kazan, no mês que vem, quando terá outra oportunidade de mostrar apoio externo apesar das críticas à invasão da Ucrânia.
O TPI acusa Putin e outras autoridades de remover ilegalmente crianças do país invadido para a Rússia. O Kremlin nega. No ano passado, o russo não foi a uma reunião do Brics na África do Sul devido à ordem, já que o anfitrião pediu e não conseguiu autorização junto à corte para recebê-lo.
IGOR GIELOW / Folhapress