Rússia tem blecaute olímpico na TV e transmissões piratas abundam na internet

MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – Quinze atletas, bandeira e hino proibidos, blecaute na televisão e transmissões piratas na internet. Esta é a realidade da Rússia na Olimpíada de Paris.

Uma das principais potências olímpicas da história, a nação está banida por quase todas federações internacionais e pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) desde o início da guerra com a Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Assim, o evento que acontece na capital francesa se não é de todo ignorado na Rússia tem pouco ou quase nenhum destaque. Nenhum canal de televisão, seja aberto ou fechado, adquiriu os direitos de transmissão da competição. Algo bem diferente do que aconteceu até mesmo nas Olimpíadas de Tóquio, quando a Rússia também competiu sem sua bandeira e seu hino por causa de um megaescândalo estatal de doping.

Em 2021, eram várias as possibilidades de seguir na telinha a delegação que competia com a bandeira do Comitê Olímpico Russo e escutava no alto do pódio o Concerto para piano e orquestra n.º 1 de Tchaikovski, com três canais abertos –Perviy Kanal, Rossiya 1 e Match TV– transmitindo as competições.

Agora, quem quiser assistir aos Jogos têm duas opções que exigem um pouco mais de trabalho do que simplesmente apertar um botão no controle remoto. Uma é acessar diretamente o site das Olimpíadas que disponibiliza para a Rússia o streaming de todas as competições com áudio em inglês ou som ambiente.

A outra já vai além da legalidade. Na rede social russa VK –um análogo do Facebook– diversos canais transmitem as principais competições ?om narradores russos e muitas vezes escondendo os aros olímpicos no canto superior da tela. Além disso, contas bancárias para doações são apresentadas no rodapé para apoiar o trabalho dos relatores. Tudo claro sem autorização do COI.

Isso, porém não é novidade. Canais como estes transmitem, por exemplo, a Premier League Inglesa, que não vende mais seus direitos para o mercado russo em virtude da guerra.

Nos canais tradicionais, apenas notícias com fotos ou vídeos que não passam nem de dois minutos.

“Estou certo de que a grande maioria da população russa não tem interesse nos Jogos Olímpicos. Em geral, sempre nos interessou mais acompanhar a competição para torcer por nossos compatriotas. Além disso, uma equipe de atletas neutros causa desprezo entre muitos, porque é percebida como uma traição por alguns. Pessoalmente, sou indiferente aos `neutros`”, disse à Folha Andrey Dudenko, repórter do jornal Krasnaya Zvezda.

Em jornais, os Jogos também tem pouco destaque e logicamente sem espaço nas capas. A cobertura fica basicamente restrita a agências de notícias como as estatais Tass e Ria Novosti e sites esportivos como Sport Express e Championat.

O foco está no desempenho dos russos, com atenção especial ao ídolo do tênis Daniil Medvedev, a fatos curiosos e claro aos escândalos que ocorrem em Paris. Tudo que possa causar algum arranhão a imagem dos Jogos, como as críticas à Cerimônia de Abertura ou a má qualidade da água do Rio Sena.

“Todos na Rússia sabem muito bem que os Jogos são em Paris. É verdade, no contexto dos problemas dos organizadores e dos escândalos, mas não dos resultados esportivos. Os meios de comunicação que escrevam ou falem algo sobre os Jogos não têm uma vantagem competitiva real devido à falta de demanda por essas informações”, diz Dudenko.

Imprensa barrada

Muitos jornalistas russos tiveram dificuldades para obter a credencial, enquanto outros tiveram os pedidos diretamente negados pelo COI e pelo Comitê Organizador. Um dos casos mais emblemáticos é o canal de TV RT, que está banido em território europeu.

Esta postura gerou reações do Ministério de Relações de Exteriores da Rússia, por meio de sua porta-voz Maria Zakharova.

“Outro ato flagrante de segregação ocorreu nas vésperas dos Jogos. Mesmo antes da abertura, tornou-se óbvio que este evento desportivo internacional nada tem em comum com os objetivos do movimento olímpico declarados há mais de um século em Paris e em todos os sentidos contradizia o espírito olímpico”, disse.

“Quando nossos jornalistas não estão autorizados a cobrir eventos onde estão presentes milhares de outros jornalistas, isto é paranoia”, completou.

A agência Tass informou ainda que após a abertura, sem nenhuma explicação plausível, quatro correspondentes seus tiveram as credecnais canceladas.

O COI não informou quantos são os jornalistas russos credenciados para os Jogos. Mas entre eles está Vladimir Kolos, do site Sports 24.

“Recebi a aprovação final dos organizadores apenas uma semana antes da abertura dos Jogos. Foi um processo duro. Um colega recebeu o visto, e com ele a aprovação final do credenciamento, somente na segunda-feira após o início”, contou.

“Estou fazendo vídeos para redes sociais aqui. Só estou tentando mostrar o que realmente acontece nos Jogos. Porque o telespectador russo tem a opinião de que aqui é um horror. Mas, na verdade, as Olimpíadas foram organizadas muito bem e com eficiência”, disse.

ATLETAS RUSSOS EM PARIS-2024

CANOAGEM

Zakhar Petrov

Alexey Korovashkov

Olesia Romasenko

CICLISMO

Gleb Syritsa

Tamara Dronova

Alena Ivanchenko

GINÁSTICA DE TRAMPOLIM

Anzhela Bladtceva

NATAÇÃO

Evgenii Somov

TÊNIS

Daniil Medvedev

Roman Safiullin

Pavel Kotov

Ekaterina Alexandrova

Mirra Andreeva

Diana Shnaider

Elena Vesnina

Redação / Folhapress

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