PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Trens parados em toda a França e um aeroporto evacuado por ameaça de bomba. Os incidentes perturbaram a manhã da abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, como se fosse preciso aumentar a prontidão das forças de segurança, já em grau máximo.
Os franceses acordaram com a notícia de que, durante a madrugada, sabotadores cortaram e atearam fogo a cabos essenciais à operação dos trens, em três cidades francesas. Uma quarta tentativa de incêndio foi desbaratada. Os atos teriam ocorrido entre 1h e 5h30 da manhã, no horário local (20h e 0h30 em Brasília).
Cerca de 800 mil passageiros foram afetados pelos atrasos e cancelamentos de trens. Os saguões das estações de trem ficaram repletos de passageiros desorientados.
Estima-se que o conserto vá durar todo o fim de semana. O governo anunciou um plano de emergência, com alterações de horários. À tarde na França (manhã no Brasil), aproximadamente um terço das composições já tinha voltado a circular.
Questionado, o presidente Emmanuel Macron, que recebeu no Palácio do Eliseu os chefes de Estado e de governo convidados para os Jogos, disse que não faria comentário.
Os incidentes não chegaram a perturbar a viagem de trem da seleção feminina de futebol de Bordeaux para Paris. A equipe embarcou no TGV por volta das 10h locais (5h de Brasília), com atraso de alguns minutos. O Brasil enfrenta o Japão na segunda rodada do torneio olímpico neste domingo (28), no Parque dos Príncipes, depois da vitória sobre as nigerianas por 1 a 0, na quinta-feira (25), em Bordeaux.
Até a manhã da sexta-feira, não se sabia quem foi responsável pelos atentados. O ministério dos Transportes, Patrice Vergriete, afirmou que “o ato criminoso provavelmente tem um elo com os Jogos”.
O primeiro-ministro Gabriel Attal visitou a “célula de crise” montada pelo ministério. “O inquérito está começando”, afirmou. Attal é chefe de governo demissionário, à espera da formação de um novo gabinete após as eleições parlamentares de julho.
“Tínhamos antecipado esse tipo de cenário”, declarou Amélie Oudéa-Castéra, ministra dos Esportes e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. “Lamento pelos ferroviários, que já estão consertando as linhas, e pelas pessoas em férias.”
O tráfego ferroviário representa um pouco mais da metade de todo o transporte de passageiros na França, com quase 2 bilhões de viagens por ano. Os quase 400 TGVs (trens de grande velocidade), que podem chegar a 320 quilômetros por hora, interligam as sedes olímpicas de Paris, Bordeaux, Lyon, Marselha e Lille.
Poucas horas depois da sabotagem ferroviária, o aeroporto francês de Basileia-Mulhouse, próximo à fronteira com a Suíça, foi evacuado devido a uma ameaça de bomba, em mais um incidente de segurança no dia da abertura dos Jogos Olímpicos de Paris.
Todos os voos foram suspensos e um esquadrão antibombas iniciou uma inspeção do saguão. Até o início da tarde francesa, o tráfego não tinha sido retomado.
O aeroporto recebe 7 milhões de passageiros por ano e é o sexto maior da França. É administrado conjuntamente por franceses e suíços. Atende principalmente as cidades de Basileia, na Suíça; Mulhouse, na França; e Friburgo, na Alemanha.
Na véspera, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, responsável pela segurança interna do país, afirmou não ter detectado ameaças graves de terrorismo, mas ressalvou a necessidade de permanecer “humilde”. Revelou apenas uma operação policial na Bélgica, em que sete suspeitos foram presos.
O policiamento em Paris nesta manhã era tão intenso quanto confuso. No caminho do Centro de Imprensa, em Porte Maillot, para o Trocadéro, onde acontecerá o momento final do desfile de atletas nesta sexta-feira (26), o ônibus da organização em que a reportagem da Folha viajava foi parado a um quarteirão do Arco do Triunfo.
Dezenas de policiais e veículos fechavam a rua e não permitiram a passagem. Pedestres e ciclistas reclamavam do bloqueio. O ônibus, carregando fotógrafos das principais agências internacionais, teve que fazer a volta no meio da avenida La Grande Armée. Após quase uma hora de espera, o veículo com os jornalistas obteve liberação para terminar a viagem.
Nas últimas semanas, a polícia francesa fez uma série de prisões de pessoas acusadas de planejar atos isolados contra os Jogos, mas não foi revelada nenhuma operação de grande porte.
Ao noticiário policial da sexta-feira, aquilo que os franceses chamam de “faits divers”, juntou-se uma ocorrência envolvendo um brasileiro. O jornal francês “Le Parisien” noticiou que uma mala do ex-jogador Arthur Antunes Coimbra, o Zico, foi furtada de um táxi em Paris. A mala conteria um relógio de luxo, diamantes e dinheiro em espécie.
Zico é embaixador honorário da delegação brasileira nos Jogos.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress