Saga da brasileira recordista mundial tem parasita misterioso e dias sem banho

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Mais do que colocar outro ponto no mapa de suas aventuras, a ultramaratonista Fernanda Maciel colocou mais um recorde em sua lista de façanhas. Ela concluiu a rota desde a base até o pico da Pirâmide de Carstensz em 1h48min, sem oxigênio suplementar, se tornando a pessoa mais rápida da história a fazer isso (e de quebra obteve o recorde feminino de subida, em 1h04min).

Carstensz é o ponto mais alto da Oceania, com 4.884m de altitude, e fica na ilha de Nova Guiné. É considerado o mais selvagem dos 7 cumes, que englobam os picos mais altos de cada continente.

“Eu subi a montanha, fiz o recorde, me senti super bem. Voltei e tem uma semana que eu não como nada. Eu peguei um parasita lá na Indonésia e estou aqui sobrevivendo. Acabei de sair do hospital, já me deram um antibiótico e não melhora, me deram outro antibiótico e não melhora, e as médicas falam assim: ‘Mas onde que você foi?’ Então eu tenho que contar toda história para eles conseguirem entender onde fui, o que comi, onde estava. Tomei remédio, vermífugo antes de ir, depois, e nada faz efeito. Então, tem uns lugares que são pesados”, conta.

Fernanda lembra dos perrengues que envolvem suas aventuras. Ela tem vários recordes nessa corrida contra o tempo em longas distâncias e terrenos íngremes. “Fui a primeira mulher a conseguir subir e descer rápido o Aconcágua. Depois fui a segunda mulher, mas com tempo recorde, no Kilimanjaro, que é a montanha mais alta da África. Fiz o Elbrus, a mais alta da Europa e a única que eu não consegui o recorde. Depois fui para a Vinson, que é a mais alta da Antártida, e também consegui o recorde lá, e agora na Oceania. Então, são quatro recordes que eu consegui de subir e descer correndo a montanha”.

A meta de superar Carstensz demorou porque existe uma guerra civil na região. “Essa montanha não é tão alta como o Everest, mas para chegar lá foi bem difícil. São seis voos só para ir. E as condições ali são muito difíceis, porque não tem alimentação, é muito precária, é muito sujo, muito simples mesmo. Eu nunca vi isso em nenhum lugar”, disse.

“Mas o desafio em si foi estupendo, foi maravilhoso. Porque é muito técnico e com vistas incríveis de todos os lados. Você vê um lago azul lá embaixo, você vê neve no topo. Eu tentei não pegar na corda, mas no dia que eu fui escalar, estava chovendo e era só neve. E daí tive que pegar na corda alguns momentos para poder me equilibrar para conseguir escalar, porque é bem difícil”, continuou.

LUXO ZERO

Fernanda explica que a aventura em Carstensz é bem diferente de lugares como o Everest, que oferecem condições “cinco estrelas” com cama, ducha e comida boa. “Ali tem zero de luxo. O banheiro é realmente nas montanhas, tem que dormir na barraca, as condições são muito precárias e não tem como tomar banho. Primeiro que é muito frio e geralmente é muito difícil que você tenha um banheiro para isso”, conta.

No Everest, por exemplo, todo conforto tem um custo mais alto, mas já existe uma estrutura pronta para os aventureiros. “Tudo depende da montanha que você vai visitar. Aqui mesmo no Brasil você pode se aventurar a subir e ficar ali o tempo que você quiser. Você que faz o seu abrigo e tem a parte bonita, porque você tem o céu estrelado ali em cima de você, você dá o valor àquela ducha que você tem em casa, mas ao mesmo tempo, se você quiser banhar, você tem que entrar num lago gelado ou num rio que esteja passando por ali. E quando volta para casa você valoriza muito essas pequenas coisas que no nosso dia a dia de rotina a gente não dá tanto valor.”

Fernanda é casada e mora na França, mas vem muito ao Brasil para visitar sua família em Minas Gerais. Consegue “fugir” para Lapinha da Serra e fica em contato com a natureza enquanto lida com questões de seu trabalho como advogada. Está sempre pensando na próxima missão e já tem dois alvos a curto prazo: fazer correndo a travessia dos Pirineus, que inclui mais de mil quilômetros e 55 mil metros só de subida, e também correr no Caminho da Fé no Brasil. “Fiz agora de bicicleta para conhecer o percurso e são 330 quilômetros. Estou super motivada, vai ser bonito demais, e correr é o que mais amo”, conclui a atleta.

PAULO FAVERO / Folhapress

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