RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – O número de casos de dengue nas primeiras semanas de 2024 já são quase o triplo do mesmo período de 2023 e esse vai ser um desafio para quem vai curtir o Carnaval neste ano. A preocupação principal é com quem vai celebrar ao ar livre e em eventos diurnos, como blocos de rua, trios e matinês infantis, pois o mosquito transmissor, o Aedes aegypti, se alimenta mais nesse horário.
De acordo com especialistas, os foliões precisam redobrar os cuidados, o que inclui aplicar repelente com frequência ao longo do dia, fantasias com menos pele exposta e preferência por espaços climatizados.
“Ajuda muito quem estiver em ambiente fechado cerrar as janelas e portas e ligar o ar-condicionado, porque [o resfriamento] contribui para diminuir o metabolismo do mosquito, ele fica menos ativo e pica menos”, destaca o médico André Ribas Freitas, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, de Campinas.
Por meio de nota técnica, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) emitiu um alerta para o aumento “de quase 300% nas notificações de dengue” em 2024 em relação ao ano anterior, e que a “taxa de incidência no mês de janeiro se encontra muito acima da média histórica, sendo considerada de alto risco”.
A tendência, segundo a entidade, é observada em todo país. Os principais sorotipos detectados em circulação são 1 e 2, ainda que os sorotipos 3 e 4 também venham sendo encontrados, “fato que não ocorria há 15 anos”.
O pediatra infectologista Marcos Junqueira do Lago, assessor da Pró- Reitoria de Saúde e professor titular da UERJ, diz que há, sim, um risco aumentado nesta época do ano. “Neste Carnaval, quem sai por blocos pode contrair dengue porque são eventos na sua maioria diurnos, e mosquito é mais diurno que noturno, a pessoa pode ser picada”, diz Lago.
O pediatra afirma que agora, embora a vacina seja altamente eficaz, a melhor forma de evitar a dengue no Carnaval é o uso de repelente, uma vez que usar roupas compridas (tanto pelo calor quanto pela época de festas) acaba sendo mais difícil.
“A vacina disponível é muito boa, ela protege contra os quatro sorotipos, mas principalmente contra 1 e 2, que são os principais circulando agora. Então vale a pena fazer a vacina, só que para o Carnaval falta tempo para ação da vacina, que seria algo em torno de 5 a 15 dias depois da imunização”, aponta Lago.
A Qdenga é aplicada em duas doses com intervalo de 90 dias entre elas, contendo os quatro sorotipos do vírus e eficácia de 80,2%.
O professor da UERJ lembra que a produção de anticorpos varia de pessoa a pessoa, podendo ocorrer imunização mais cedo em alguns casos, mas que essa é uma questão muito individual. Além disso, a vacina não é liberada no Brasil para menores de 2 anos e maiores de 60 anos.
Freitas reforça que o risco de transmissão em casa também é alto e que a prevenção deve acontecer em todos os lugares e para todas as pessoas. “A pessoa que estiver no domicílio com as janelas abertas tem o mesmo risco de quem está eventualmente do lado de fora. O importante nesse período de alta transmissão da dengue, que está ocorrendo praticamente em todo o Brasil, e durante o dia, quando o mosquito da dengue tem maior preferência para picada, é usar o repelente”, diz o epidemiologista.
De acordo com a nota da UERJ, na hora de escolher o repelente, o indicado é usar aquelas com DEET (N-dietilmetatoluamida), IR3535 ou icaridina tanto nas partes expostas do corpo quanto sobre as roupas.
Para crianças de 2 a 12 anos, usar concentrações de até 10% de DEET, no máximo três vezes ao dia, e, em menores de 2 anos, aplicar apenas sob orientação médica.
Outra dica é beber água a todo momento (mínimo de 60 ml por quilo ao dia), com ou sem sintomas, uma vez que calor e dengue são ambos fatores presentes neste Carnaval e que levam a quadros graves de desidratação.
Depois de prevenir, é essencial ficar atento a possíveis sintomas de uma infecção já estabelecida. A dengue, segundo Lago, é uma doença que “depende muito da boa condução e da suspeita diagnóstica precoce.”
Por essa razão, quem estiver com dor intensa no corpo, febre, dor de cabeça, tontura, sangramentos nasais ou na gengiva e pintas vermelhas na pele deve procurar atendimento médico com urgência.
“Eventualmente, até nem vai ter o diagnóstico de dengue confirmado em um primeiro momento, às vezes não é possível, mas você vai receber a orientação correta de quais remédios, por exemplo, não usar, como ácido acetilsalicílico e anti-inflamatório, que podem modificar a evolução da doença. Tem que ter [também] uma preocupação muito grande com a hidratação, a dengue é uma doença que evolui muito melhor quando você se hidrata bem”, diz Lago.
A medida de buscar o pronto atendimento logo contribui ainda para que a pessoa que esteja doente por outras causas graves, como leptospirose ou meningite, tenha mais chances de começar um tratamento eficaz. “[No caso da dengue], se ele procurar o serviço naquele momento, a gente consegue evitar o choque, que é a forma mais grave”, avalia Freitas.
Para além dos cuidados pessoais, é recomendado que a população tampe caixas dágua, ralos e pias; higienize bebedouros de animais de estimação; instale telas e mosquiteiros; receba os agentes de saúde do município; descarte pneus velhos somente junto ao serviço de limpeza urbana da cidade ou, se precisar guardá-los, que os mantenha em local coberto.
Vale ainda retirar a água acumulada da bandeja externa da geladeira e bebedouros e lavá-los com água e sabão; limpar as calhas e a laje; colocar areia nos cacos de vidro de muros e nos vasos de plantas; amarrar bem os sacos de lixo; não descartar resíduos sólidos em terrenos abandonados ou na rua; e fazer uma inspeção em casa, pelo menos uma vez por semana, para encontrar possíveis focos de larvas.
DANIELLE CASTRO / Folhapress