SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A neuralgia do trigêmeo é conhecida por causar a pior dor do mundo. A condição provoca uma dor intensa na região do rosto, por onde passa o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da face.
O distúrbio chamou a atenção nas últimas semanas após a estudante de veterinária Carolina Arruda, 27, que sofre desse mal, fazer uma vaquinha online para poder ir à Suíça em busca da eutanásia lá a prática é permitida por lei, ao contrário do Brasil. Ela está em tratamento em Minas Gerais e diz que pode desistir da ideia se a terapia der resultado.
Mas, além da neuralgia do trigêmeo, outras doenças podem causar dores fortes e incapacitantes.
“Há vários tipos de dor graves e limitantes como a da neuralgia do trigêmeo, considerada pela medicina como a pior do mundo, mas a pior dor mesmo é a que o paciente sente. O que ele fala é a verdade”, afirma Carlos Marcelo de Barros, presidente da Sbed (Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor).
Especialistas ouvidos pela Folha explicam as condições que causam as piores dores físicas.
CEFALEIA EM SALVAS
Tipo de dor de cabeça que leva ao desespero, segundo avalia o médico especialista em dor Paulo Renato Fonseca, professor da Faculdade Sinpain e ex-presidente da Sbed. Caracteriza-se pela dor muito intensa, atrás do olho. É unilateral. Atinge mais homens do que mulheres.
Causada por múltiplos fatores, a cefaleia em salvas, geralmente, é uma doença mista vascular e neurológica que leva a este tipo de crise de dor. “Ela tem como característica períodos de dor muito intensa e períodos de remissão, às vezes longos. O tratamento é específico, mas o paciente responde à oxigenoterapia e alguns analgésicos, como [succinato de] sumatriptana e verapamil”, diz o professor.
NEURALGIA PÓS-HERPÉTICA
Acomete pacientes que tiveram herpes-zóster (doença causada pela reativação do vírus da catapora). É uma dor crônica na pele que pode causar ardência, queimação ou sensação de agulhadas persistentes, normalmente no nervo atingido pela doença.
É tratada principalmente com medicamentos específicos para dor neuropática e com procedimentos como radiofrequência, bloqueios e infiltrações com toxina botulínica.
SÍNDROME DO MEMBRO FANTASMA
Dor percebida em parte do corpo que foi amputada. Pode se apresentar como queimação, formigamento ou ardência. Com potencial para ser incapacitante, a dor fantasma é crônica e capaz de durar anos. É de difícil controle. Analgésicos controlam o desconforto, mas não resolvem o problema. Massagem e acupuntura no membro residual, terapia do espelho podem auxiliar.
O reflexo do membro intacto no espelho engana o cérebro para que ele enxergue dois membros saudáveis. Isso permite que ele volte a enviar comandos para esse membro proporcionando o alívio. O tratamento não funciona em todos os casos.
DOR LOMBAR CRÔNICA
A dor lombar crônica é forte e incapacitante, principalmente para o trabalho. É causada por vários fatores. Há pelo menos 70 diagnósticos diferentes e uma pessoa pode apresentar mais de um. Entre eles, está a síndrome dolorosa pós-laminectomia, que aparece após cirurgia para tratar dor na coluna.
“É a soma desses diagnósticos que vai dar dor lombar crônica. É assim que nós tratamos e é assim que nós agimos, ou seja, separamos as causas, identificamos e tratamos cada uma separadamente”, explica Fonseca.
Além da medicação, o paciente precisa de reabilitação com fisioterapeuta e educador físico, além dos procedimentos de novas tecnologias como o laser, o campo magnético e a radiofrequência, por exemplo. “A etapa de tentar controlar com anti-inflamatório já foi feita, não foi exitosa e por isso chega até nós.”
“A gente recomenda ao paciente com dor crônica de longo prazo que seja realmente visto por especialista no tratamento de dores crônicas, que é o caso da menina [Carolina Arruda]. Ela saiu do estado de anos de sofrimento para pensar na própria morte, com desespero e falta de esperança”, diz o professor.
DORES DO CÂNCER
A prevalência de dor crônica e de forte intensidade nos pacientes oncológicos precisa de atenção especial. O tratamento contra o câncer é cansativo e exige procedimentos dolorosos que às vezes nem são considerados. São exemplos os exames de sangue e de imagem, as idas ao centro oncológico são dolorosas, a dor gerada pelo próprio tumor e as decorrentes do tratamento dor crônica pós-operatória, pós-radioterapia e pós-quimioterapia.
“A medicação controla boa parte das dores, mas em casos específicos, 5% a 10% dos pacientes de câncer exigirão outras medidas terapêuticas. Então, entram as terapias intervencionistas e até o fenol”, diz Fonseca.
“O fenol que tem matado pessoas na área da estética, está fazendo muita falta para os pacientes que têm necessidade do produto para tratamento da dor, especialmente do câncer. A Anvisa proibiu o uso do fenol de forma indiscriminada, deixando descobertos os pacientes que precisam do tratamento para dor crônica. E já tem várias manifestações, incluindo nossa, da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor, pedindo essa revisão urgente. Vai ter um agravamento da situação da dor no Brasil devido a essa situação”, completa Fonseca.
No dia 25 de junho, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma resolução que proíbe a importação, fabricação, manipulação, comercialização, propaganda e uso de produtos à base de fenol em procedimentos de saúde em geral ou estéticos.
SÍNDROME DOLOROSA COMPLEXA REGIONAL
Disfunção do sistema nervoso autônomo que gera dor nos membros superiores e inferiores, independentemente da relação ou não com traumas. Inflamações, doenças crônicas, lesões, fraturas e cirurgias estão entre os fatores que aumentam o risco.
Dor intensa, edema e hipersensibilidade ao toque, diminuição do movimento e suor excessivo são alguns dos sintomas.
Apoio psicológico, bloqueios e terapias intervencionistas, medicação e fisioterapia são algumas formas de tratar a condição.
Segundo a literatura médica internacional, no Brasil, há pelo menos 40 milhões de pessoas que sofrem de dor crônica. Destes, em torno de 15 milhões têm a vida impactada diretamente pela dor. A dor crônica é um problema grave de saúde pública. Na visão do médico Carlos Marcelo de Barros, é necessário melhorar a educação dos profissionais de saúde sobre dor crônica, além de criar políticas públicas que acolham esses pacientes.
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress