SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mesmo com o início do ciclo de queda dos juros, a renda fixa ainda oferece rentabilidades consideradas atraentes pelos especialistas de mercado.
Nesta quarta-feira (2), o BC (Banco Central) promoveu o primeiro corte na taxa básica de juros, a Selic, desde agosto de 2020, com uma redução de 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano. O movimento já era amplamente aguardado pelos agentes financeiros.
Segundo levantamento realizado a pedido da Folha por Andrew Storfer, diretor de economia da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), com a nova taxa de juros, um investimento de R$ 1.000 no título público Tesouro Selic resulta em um rendimento líquido de R$ 109,86 em um intervalo de 12 meses, com a incidência de juros de 13,32%, já descontado o IR (Imposto de Renda) de 17,5%.
Até meados de junho, quando ocorreu a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em que a Selic estava em 13,75%, a mesma aplicação rendia R$ 114 em um ano.
“Os investidores ainda têm buscado aplicações em renda fixa, tanto remuneradas pela Selic como tendo como base o IPCA mais juros, resultando em rentabilidade interessante e segura”, afirma Storfer.
Tesouro Direto, CDBs de grandes bancos, fundos conservadores e letras de crédito imobiliárias e do agronegócio são aplicações seguras e têm um rendimento, dependendo do prazo e do volume aplicado, bem próximo ou mesmo acima da Selic, diz o diretor da Anefac.
Gestor de portfólio de alocação de ativos da Principal Claritas, Rodrigo Cabraitz afirma que mantém nas carteiras dos fundos posições nos títulos públicos que pagam uma taxa prefixada mais a variação da inflação, negociados sob o nome Tesouro IPCA no Tesouro Direto.
Cabraitz diz que papéis com vencimento entre 2028 e 2030 e juro real acima de 5% ao ano oferecem ao investidor uma boa relação entre risco e retorno.
“Desde o início do ano, a gente considerava que o juro real dos títulos era muito bom. Com a melhora do mercado nos últimos meses, alongamos as posições, que antes estavam nos papéis com vencimento em 2024”, afirma o gestor.
Ele acrescenta que também mantém nos portfólios uma posição nos títulos prefixados de prazo mais curto, com vencimento em 2025, que se beneficiam da queda no mercado de juros futuros, que é o que embute a expectativa dos agentes financeiros para os rumos da política monetária.
A posição nos prefixados foi reduzida em relação ao começo do ano porque o mercado já embutiu nos preços boa parte das reduções esperadas para a Selic, mas ainda há espaço para ganhos adicionais, diz Cabraitz.
Entre as demais aplicações consideradas no levantamento da Anefac, os CDBs dos bancos de médio porte são os que oferecem o maior rendimento, com uma taxa média de juros de 14,31%, resultando em um ganho líquido de R$ 118,06 em 12 meses.
Quando a Selic era de 13,75%, a aplicação oferecia uma taxa de remuneração de 14,85%, com um retorno de R$ 122,51 para um investimento de R$ 1.000 em 12 meses.
Storfer diz que os CDBs dos bancos médios oferecem um retorno maior porque embutem um risco também mais alto. Nesses casos, ele defende que o investidor aplique valores até o limite de R$ 250 mil, que serão cobertos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) caso a instituição financeira quebre.
No caso da poupança, a rentabilidade fica inalterada mesmo com a redução da Selic e segue em 6,17% (0,5% ao mês), acrescida da TR (Taxa Referencial) de 2,1% no intervalo considerado, alcançando juros de cerca de 8,3% ao ano.
A remuneração da poupança é de 0,5% ao mês sempre que a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, mais a TR. Já quando a taxa básica é de até 8,5%, o rendimento da poupança equivale a 70% da Selic mais a TR.
“Apesar de ser uma aplicação fácil e segura, a poupança ainda rende menos do que outras aplicações”, diz Storfer.
Ele diz, contudo, que conforme a Selic continuar sendo reduzida, a rentabilidade da poupança tende a ficar mais próxima das demais opções de investimento na renda fixa.
“Para valores pequenos e para quem não tem muita afinidade com aplicações financeiras, a poupança é uma ótima opção por incentivar o hábito de guardar dinheiro”, diz.
O diretor da Anefac afirma ainda que é possível que, ao longo dos próximos meses, os investidores passem a reduzir a demanda por produtos de renda fixa, à medida que a remuneração oferecida pela classe e a própria inflação diminuam gradualmente.
Ao mesmo tempo, acrescenta, tende a ocorrer um interesse crescente por alternativas de investimento com retornos esperados mais altos, como as ações na Bolsa de Valores -o índice Ibovespa avançou 7,6% no primeiro semestre, em parte justamente pela aposta dos agentes de que a Selic começaria a ser reduzida.
Sócio da Sten Gestão Patrimonial, Daniel Carlini diz que, embora parte da queda dos juros esperada à frente já esteja refletida nos preços das ações, ainda há boas oportunidades para o investidor na Bolsa.
Mesmo porque não se pode descartar a possibilidade de o ciclo de queda da Selic ser mais agressivo do que o esperado hoje pelo mercado, como já aconteceu em momentos de redução dos juros no passado, afirma Carlini.
“Nos últimos 20 anos, tivemos seis ciclos de afrouxamento monetário. Em todos eles, a Bolsa se valorizou mesmo após o primeiro corte”, diz o sócio da gestora de patrimônio.
Ele acrescenta que os setores imobiliário e de consumo, que foram os que mais sofreram quando a Selic estava em trajetória de alta, tendem a ser também os mais beneficiados quando ela embicar para baixo.
LUCAS BOMBANA / Folhapress