Saiba quanto rendem R$ 1.000 na poupança, no CDB e no Tesouro com a Selic a 13,75%

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As opções de investimento na renda fixa continuam oferecendo remunerações atrativas com a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano nesta quarta-feira (21) pelo BC (Banco Central), no mesmo patamar em que se encontra desde setembro de 2022.

Especialistas de mercado dizem, no entanto, que o início do ciclo de corte de juros está cada vez mais próximo, com a aposta de boa parte dos agentes financeiros de que as primeiras reduções se deem já na reunião de agosto do Copom (Comitê de Política Monetária). Para esse cenário, a recomendação é que o investidor volte a considerar aplicações de maior risco em ações, fundos imobiliários e multimercados.

Segundo levantamento realizado a pedido da Folha de S.Paulo por Andrew Storfer, diretor de economia da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), um investimento de R$ 1.000 no título público Tesouro Selic resulta em um rendimento líquido de R$ 114 em um intervalo de 12 meses, com a incidência de juros de 13,82%, já descontado o IR (Imposto de Renda) de 17,5%.

“Aplicações como Tesouro Direto, CDBs de grandes bancos, fundos conservadores, letras de crédito, tanto as imobiliárias quanto as do agronegócio, são aplicações seguras e que têm um rendimento, dependendo do prazo e do volume aplicado, bem próximo ou mesmo acima da taxa Selic”, afirma Storfer.

Sócio da gestora de patrimônio Solutions Multi Family Office, Rafael Meyer diz que, mesmo com a queda da Selic prevista à frente, a expectativa do mercado é que os juros seguirão em patamares elevados ao redor dos dois dígitos ainda por um bom tempo. No Focus, as projeções indicam a taxa básica de juros em 12,25% no final de 2023, e em 9,5% em dezembro de 2024.

“Os ativos atrelados ao CDI continuam tendo uma elevada exposição em nossos portfólios”, afirma Meyer. Além de uma ótima relação entre risco e retorno, eles têm uma liquidez maior do que a média e podem ser resgatados rapidamente no caso de surgirem oportunidades mais atraentes em ativos de maior risco, diz o especialista.

Entre as aplicações consideradas no levantamento da Anefac, o investimento de R$ 1.000 na poupança resultaria em R$ 82,90 líquidos em 12 meses, considerando o rendimento de 6,17% da aplicação (0,5% ao mês), acrescido da TR (Taxa Referencial) de 2,1% no intervalo considerado, alcançando juros de cerca de 8,3% ao ano.

Já as opções de LCA (Letra de Crédito Agrícola) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário), instrumentos que, assim como a poupança, têm isenção tributária à pessoa física, são as que oferecem o maior retorno ao investidor, com ganho líquido de R$ 125,13 para um aporte de R$ 1.000 no prazo de um ano, correspondente a um juro de 12,51% no período.

No caso dos CDBs dos grandes bancos, o rendimento líquido de um investimento de R$ 1.000 é de R$ 104,36 (juros de 12,65%), chegando a R$ 122,51 (juros de 14,85%) entre os bancos médios, já com o desconto do IR.

O diretor da Anefac afirma que os CDBs de bancos menores pagam mais do que os de grandes bancos, mas alerta de que o investidor precisa estar ciente de que o retorno maior também envolve um nível de risco mais elevado.

“Nesse caso, vale lembrar que o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) garante valores até R$ 250 mil por CPF e por instituição. Então é bom investir valores menores que este nessas instituições”, diz Storfer.

Ele afirma que é preciso estar atento ao prazo de vencimento dos títulos de renda fixa, frente à necessidade de liquidez do investidor.

Caso o aplicador tenha de resgatar o papel antes do prazo de vencimento, terá que negociar no mercado secundário e estará sujeito às oscilações de preços dos títulos no momento da venda.

Chefe da área de pesquisas da Guide Investimentos, Fernando Siqueira diz que tem chamado a atenção dos clientes para as oportunidades que considera atraentes no crédito privado isento de IR de baixo risco e rating elevado triplo A, que pagam ao investidor a remuneração do CDI acrescida de uma taxa de juros ao redor de 1% a 2% ao ano, a depender da empresa emissora.

Enquanto no mercado de títulos públicos as taxas já passaram por uma forte redução dos prêmios, devido à antecipação do início do corte dos juros, no crédito privado as taxas seguem em patamares elevados, por causa do estresse gerado pelos episódios da Americanas e da Light, afirma Siqueira. “Está atrativo ir para operações de crédito privado, mas é preciso olhar caso a caso”, diz o especialista da Guide.

Responsável pela área de investimentos da Unicred, Patrícia Palomo afirma que o cenário de queda da inflação abre espaço para futuros cortes de taxa de juros, e, nesse sentido, os títulos de investimento pós-fixados que acompanham a variação da Selic podem ficar menos atrativos, embora o nível de retorno oferecido continue alto.

“Por outro lado, os fundos destinados a investimentos imobiliários podem se beneficiar de uma expectativa de queda dos juros, possibilitando, além de apreciação do valor das cotas, taxas de retorno interessantes referentes aos aluguéis distribuídos”, afirma a especialista.

Ela diz que também tendem a se beneficiar de um cenário de crescimento econômico e arrefecimento de inflação os fundos multimercados, que podem alocar recursos em diversas classes como juros, câmbio e renda variável, bem como os próprios fundos de ações, cujos preços ficaram reduzidos por bastante tempo devido à combinação de baixo crescimento e juros altos.

“Acredito que é um excelente momento para aumentar a participação em renda variável ou para começar a investir nesse segmento. Estamos no ápice do aperto monetário, que historicamente abre oportunidade para investir em excelentes empresas a preços baixos”, afirma José Eduardo Daronco, analista da Suno Research.

Ele acrescenta que, com o preço das commodities em queda, principalmente agrícolas, muitas empresas do agronegócio estão nas mínimas históricas, possibilitando o investimento em empresas que crescem todo o ano e são descorrelacionadas com a economia doméstica.

Sócio-gestor do escritório de assessoria financeira Ártica, Ivan Barboza diz que os setores imobiliário e de varejo estão entre os mais sensíveis às oscilações nos juros.

“Ambos têm parte de sua demanda dependente de financiamentos para o consumo. Assim, à medida que a Selic cair, esse financiamento se torna mais barato e estimula maior volume de compras”, afirma Barboza, que cita Eztec e Multi (ex-Multilaser) entre as posições na carteira.

“É importante no momento da decisão de investimento levar em consideração a adequação do perfil de tolerância a risco de cada um, além da adequação aos objetivos desejados e ao horizonte de tempo disponível para manter o recurso investido. A construção de uma carteira aderente a esses critérios e bem diversificada costuma ser a melhor alternativa de investimento em qualquer cenário”, diz Patrícia, da Unicred.

LUCAS BOMBANA / Folhapress

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