SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nome indicado por Jair Bolsonaro (PL) para a vaga de vice de Ricardo Nunes (MDB) nas eleições deste ano, o ex-chefe da Rota coronel Mello Araújo tem em seu histórico a “militarização” da Ceagesp, uma declaração controversa sobre a atuação da polícia na periferia e ainda o peso de levar a segurança pública aos holofotes da disputa municipal, um tema sensível para a campanha do atual prefeito de São Paulo.
Nesta sexta-feira, o ex-presidente e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) levarão o ex-coronel da Rota para um almoço com o mandatário na sede da prefeitura. Com isso, Mello Araújo se aproxima mais ainda da vaga de vice de Nunes, que disputará a reeleição.
Para aliados, o oficial da reserva da Polícia Militar foi o responsável por colocar ordem na Ceagesp durante o governo Bolsonaro.
Por outro lado, a gestão dele no centro de distribuição é acusada por sindicalistas de militarizar o espaço e promover abusos. O Ministério Público do Trabalho informou à reportagem ter ajuizado uma ação contra a Ceagesp com base nos relatos.
Mello Araújo foi nomeado diretor da Ceagesp em 2020 e permaneceu no cargo no restante da gestão Bolsonaro. Durante sua administração, diversos policiais aposentados passaram a atuar em cargos comissionados no órgão parte das posições também foi preenchida por concursados.
Os relatos de sindicatos que representam categorias que atuam na companhia dão conta do uso de agentes para intimidar servidores e sindicalistas.
Uma representação do Sindbast (Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo) afirmou que três funcionários teriam sido coagidos a pedir demissão enquanto um dos aliados de Mello Araújo ameaçava expô-los como ladrões em um programa de televisão.
Em outro caso, a denúncia foi de abordagem armada a membros do Sindicar (Sindicato dos Carregadores Autônomos), conforme vídeo divulgado pela revista Carta Capital. A alegação para sustentar uma das abordagens é que havia suspeitas sobre o uso de arma e denúncia de extorsões.
Mello Araújo afirmou à Revista Oeste que a Ceagesp era “um caso de polícia”. Ao fim de sua gestão no órgão, a companhia destacou como uma das marcas da passagem dele pelo órgão o “avanço no combate à corrupção”.
A presidente do Sincaesp (sindicato de permissionários), Aderlete Cristina Maçaira, disse à Folha que a gestão do policial melhorou a segurança, o combate à corrupção e a organização da companhia.
Bolsonaro usou a gestão de Mello Araújo à frente do órgão como um dos pontos para justificar a indicação do aliado a Nunes. Nos dois anos que passou à frente da companhia, o policial aproveitou para reforçar os laços com o presidente e demonstrar fidelidade.
Em 2021, a Ceagesp chegou a publicar um vídeo em suas redes sociais em que Mello Araújo pede aos permissionários sob sua administração que pendurassem bandeiras do Brasil em seus boxes e também em suas casas durante o feriado de 7 de Setembro. Esse tipo de manifestação, na ocasião, tinha caráter de demonstração de apoio a Bolsonaro.
Caso o nome dele se consolide mesmo, além da atuação na Ceagesp, um ponto que será usado pela oposição é uma declaração de Mello Araújo na qual defendeu a diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins (área nobre de São Paulo) e na periferia.
“É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”, disse ao UOL em 2017.
Na ocasião, ele havia assumido como chefe da Rota, batalhão de elite da PM paulista também conhecido pelo alto grau de letalidade e relatos de violência policial.
É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado
em entrevista ao UOL, em 2017
ARTUR RODRIGUES / Folhapress