SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0 – Ex-técnico de um time de futebol americano de ensino médio, veterano da Guarda Nacional dos Estados Unidos e governador de Minnesota. Com essas credenciais, o político Tim Walz desbancou outros cotados pelos democratas para compor a chapa de Kamala Harris e foi indicado pela virtual candidata do partido à Casa Branca para disputar as eleições presidenciais de novembro.
“Como governador, treinador, professor e veterano, ele ajudou famílias trabalhadoras como a dele”, afirmou Kamala nas redes sociais ao anunciar a escolha. “É a honra da minha vida juntar-me a Kamala Harris nesta campanha”, disse Walz, por sua vez.
A escolha não era óbvia. De acordo com uma pesquisa divulgada em agosto pelo Instituto Marista para Opinião Pública em conjunto com dois veículos de imprensa públicos, a rádio NPR e a emissora PBS, 71% dos eleitores americanos dizem não ter certeza se ouviram falar sobre Walz ou afirmam que não o conhecem entre os democratas, a proporção é de 6 em cada 10 pessoas.
Além disso, Minnesota está longe de ser um campo de batalha decisivo para as eleições, uma vez que tradicionalmente vota pelos democratas há décadas. Sua imagem, no entanto, representa um dos grupos mais importantes para os políticos em uma votação acirrada a população branca do meio-oeste dos EUA, como ele. Foram esses eleitores, aliás, que motivaram a escolha do vice de Donald Trump, J.D. Vance, um senador por Ohio.
Timothy James Walz nasceu há 60 anos em West Point, uma cidade de cerca de 3.500 habitantes no estado de Nebraska. “Onde eu cresci, a comunidade era um estilo de vida. Minha sala no ensino médio era formada por 24 pessoas, e eu era parente de metade delas”, diz ele em um vídeo publicado em suas redes após o anúncio.
Além das origens do candidato, o vídeo aborda a passagem dele pela Guarda Nacional e pelas salas de aula, quando foi professor pontos de sua vida anterior à carreira política que aparentemente serão chave para a campanha conectá-lo com o interior dos EUA.
“[Kamala] também cresceu em uma família de classe média. Ela também vai ao trabalho todos os dias para garantir que as famílias não apenas sobrevivam, mas prosperem. Nós acreditamos na promessa da América, nos valores que aprendi em Nebraska”, afirma ele no vídeo.
Seus feitos na política podem ser atraentes tanto para candidatos mais conservadores quanto para os mais progressistas, a depender do que se escolhe analisar.
Ao longo dos 12 anos em que esteve no Congresso, entre 2007 e 2019, o político demonstrou uma inclinação moderada ao defender interesses agrícolas, veteranos de guerra americanos e até mesmo o direito à posse e ao porte de armas. Nesse período, ele chegou a estar entre os deputados mais bem avaliados pela NRA, o principal lobby pró-armas dos EUA.
Ele se apresenta como um caçador orgulhoso até hoje, mas revisitou algumas ideias. “Sou veterano, caçador e proprietário de armas. Mas também sou pai. E por muitos anos fui professor. Sei que a segurança básica quando se trata de armas não é uma ameaça aos meus direitos. É uma tentativa de manter nossas crianças seguras”, afirmou ele no X no final de julho.
Ele diz ter sido convencido a mudar de posição por sua filha, então com 17 anos, após o ataque a uma escola na Flórida, em 2018. Desde então, ele defende regras mais rígidas, como verificação universal de antecedentes e proibição de comercialização de armas semelhantes às usadas por militares.
Já à frente do Executivo em Minnesota, sua postura tem o potencial de agradar progressistas. Como governador, o político implementou, por exemplo, refeições gratuitas para alunos de escolas públicas, expandiu o acesso ao Medicaid (sistema de saúde público), facilitou a sindicalização de trabalhadores e sancionou leis que tratam de maconha, controle de armas e direito ao aborto esta última uma pauta central das eleições após a Suprema Corte reverter o entendimento de que o acesso ao procedimento deveria ser permitido por lei em todo o território.
Não por acaso, esta segunda face de Walz é a mais destacada por republicanos. “Harris-Walz: a chapa mais esquerdista da história americana”, afirmou o governador da Flórida, Ron DeSantis. “[A escolha] mostra o quão radical Kamala Harris é”, disse Vance.
O principal feito do democrata até aqui foi ter conseguido acertar o tom contra os adversários do Partido Republicano dizendo simplesmente que eles são “esquisitos”.
“Eles falam sobre liberdade. Liberdade para estar no seu quarto, liberdade para estar no seu exame médico, liberdade para falar aos seus filhos o que eles podem ler. Essas coisas são estranhas, parecem esquisitas. E eles estão obcecados com isso”, afirmou ele em uma entrevista à emissora americana MSNBC.
A alcunha, muito mais fácil de comunicar do que a abstrata ideia de que Trump é uma ameaça à democracia que Kamala tenta pregar, viralizou.
Por fim, ele tenta arranhar a imagem de Trump e Vance como defensores da classe média algo que pode reivindicar para si. “Eles continuam falando sobre a classe média. Um magnata ladrão do setor imobiliário e um capitalista de risco tentando nos dizer que entendem quem somos? Eles não sabem quem somos”, disse Walz em uma entrevista à MSNBC.
Redação / Folhapress