SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Apadrinhado pela família Bolsonaro, o Coronel Fábio Candido (PL) enfrenta no segundo turno da eleição à Prefeitura de São José do Rio Preto o deputado estadual Itamar Borges (MDB), numa disputa marcada pela neutralidade dos partidos de esquerda, que pregam anular o voto no próximo dia 27.
Candido nunca exerceu cargo político, enquanto Itamar ocupa cadeira na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) desde 2011 e já foi secretário de Agricultura do estado, além de prefeito de Santa Fé do Sul (a 670 km de São Paulo).
A campanha de Candido baseia-se no discurso de ser o candidato escolhido pelo ex-presidente e sua família, além de firmar pilares no discurso de fé e família. “O apoio do ex-presidente reforça os nossos princípios e valores e aumenta a visibilidade das nossas propostas”, disse.
Dois meses antes do primeiro turno, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o filho Eduardo Bolsonaro (PL) estiveram na cidade do interior paulista e participaram de um ato carreata e motociata em apoio à candidatura de Candido.
Para o segundo turno, Eduardo Bolsonaro prometeu estar na cidade e endossar a campanha do policial militar da reserva.
Do outro lado, Itamar evoca a sua experiência na política e o apoio do atual prefeito, Edinho Araújo (MDB), que está em seu quarto mandato à frente do município.
No primeiro turno, o policial foi o candidato mais votado com 88.852 votos, correspondendo a 40,46% dos votos válidos, ante os 56.401 votos do adversário 26,68% do total de votos válidos.
Ambos deixaram para trás o deputado estadual Valdomiro Lopes (PSB) e Marco Rillo (PT).
Acontece que, neste segundo turno, Valdomiro declarou apoio ao candidato do PL. E o que mais causou polêmica em São José do Rio Preto foi a postura de neutralidade da frente esquerdista.
Em um comunicado, a coligação Amor por Rio Preto, composta por PT, PSOL, PC do B e Rede, fez duras críticas a Itamar, associou o seu partido, o MDB, ao processo de impeachment de Dilma Rousseff e convocou os seus filiados para votarem no número 13, o que tornará o voto nulo.
O comunicado, inclusive, deixou alguns militantes chateados, que cobraram um posicionamento contra a candidatura puro-sangue do PL. Fábio Marcondes, vice de Candido, também é do partido de Bolsonaro.
Ex-vereadores pelo PT na cidade, Marcio Ladeia e Eni Fernandes discordaram do voto nulo e declararam apoio a Itamar.
No primeiro turno, Valdomiro e Rillo somaram, juntos, 33% dos votos. A esperança de Itamar para superar o bolsonarismo na cidade era a de herdar estes votos.
No entanto, em São José do Rio Preto, o PSB, de Geraldo Alckmin, e o PT, de Lula, não seguem a lógica de apoios que se replicam pelo país.
Um integrante da campanha de Itamar citou, inclusive, que PT e PSOL ignoram o fato de o MDB fazer parte do governo Lula e se esquecem do apoio de Simone Tebet para Lula em 2022.
Vereador mais votado da cidade e um dos líderes da coligação Amor por Rio Preto, João Paulo Rillo (PSOL) justifica a neutralidade classificando Candido e Itamar como bolsonaristas e candidatos de extrema direita.
“Eu convivi com o Itamar na Alesp, e ele é um bolsonarista”, diz Rillo, que foi deputado estadual de 2011 e 2019.
Rillo e Itamar vêm se estranhando antes mesmo da corrida eleitoral. O psolista passou a campanha acusando o emedebista de desvio de verba, por exemplo, e diz, por exemplo, que ele “tem condenação por roubo na educação”.
“E este argumento de que ele é de um partido que compõe a base do governo Lula. Enfim, ele é do mesmo partido que deu um golpe na Dilma e botou o Lula na cadeia”, disse o psolista.
Itamar chegou a ter a candidatura indeferida pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em razão de condenação de improbidade, julgada em segunda instância em 2016, por compras irregulares e emissão de notas frias enquanto prefeito em Santa Fé do Sul.
O emedebista só conseguiu na semana do primeiro turno uma liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) derrubando a decisão do TRE.
A liminar, concedida pelo ministro Dias Toffoli, suspende o indeferimento pelo TRE até o julgamento final e considerou que não havia provas suficientes para configurar dolo por parte de Itamar.
Já Valdomiro Lopes também cita as ações sobre Itamar para justificar o apoio do PSB à chapa do PL. “A política no interior é diferente da realidade da política nacional, do estado. Aqui vivemos uma realidade local, e o discurso ideológico não pega muito”, disse Lopes, que já foi prefeito de São José do Rio Preto de 2009 a 2016.
“Por onde o Itamar passou deixou rastro de dúvidas e de ações judiciais graves. Sou da executiva nacional do PSB e não houve nenhum questionamento do apoio ao PL”, afirmou.
À reportagem Itamar afirma que a atitude dos partidos de esquerda já era esperada. “De forma alguma esse gesto nos surpreendeu, uma vez que todos os meus adversários se uniram no primeiro turno para me atacar com mentiras, fake news e terrorismo eleitoral”, disse o candidato do MDB, por meio de nota.
Para tentar romper com a vantagem de Candido no primeiro turno, Itamar diz que está em busca do eleitor desapegado às ideologias políticas e enalteceu o apoio do Republicanos.
“O apoio do partido do governador Tarcísio [de Freitas] é justamente o resultado da consistência de nossas propostas e da seriedade de nossos propósitos em contraposição à falta de diálogo e ao radicalismo do outro candidato”, diz Itamar.
O governador, porém, evitou pedir votos para Itamar e, inclusive, para o coronel apadrinhado pela família Bolsonaro.
Itamar ainda foca sua campanha naqueles eleitores que não compareceram para votar no primeiro turno mais de 100 mil, o que representa 31% do total de eleitores do município e é superior aos votos recebidos por Candido.
Os eleitores que aguardam um embate frente a frente entre os dois candidatos ainda não sabem se vão presenciar tal situação. Isso porque Coronel Cândido não compareceu ao debate promovido pela TV Band na segunda (14), e Itamar falou sozinho na ocasião.
Mesmo sem a concorrência, ele escorregou diante das câmeras e falou, ao vivo, que era um candidato ficha-suja. Rapidamente, o candidato tentou se corrigir, mas já havia virado meme.
CARLOS PETROCILO E SIMONE MACHADO / Folhapress