SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto moradores reivindicam melhorias na saúde e no transporte em São José dos Campos (a 97 km da capital paulista), representantes da direita se dividem no segundo turno de uma disputa que espelha tensões entre PL e PSD, bases de apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que decidiu se manter neutro no embate envolvendo seu primeiro domicílio eleitoral no estado.
Os candidatos Anderson Farias (PSD), atual prefeito da cidade, e Eduardo Cury (PL) competem na segunda etapa da eleição depois de terem conquistado, respectivamente, 39,66% e 25,96% dos votos válidos.
Ambos disputam a proximidade com o bolsonarismo, embora o ex-presidente apoie o candidato da sua sigla, Cury.
No município, o discurso alimentado pelos deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG) de que o PSD é um “inimigo escondido” da direita, mais “perigoso” que o PT, aparece no embate entre os candidatos, com adversários fazendo circular que Anderson seria “esquerdista”.
O parlamentar mineiro chegou a postar nas plataformas vídeo no qual criticava o PSD e seu presidente, Gilberto Kassab que comanda a pasta de Governo e Relações Institucionais de Tarcísio, dizendo que o partido está por trás de pautas como a ascensão de Flávio Dino a ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e a dificuldade para dar andamento ao impeachment de Alexandre de Moraes.
À reportagem o atual prefeito afirma ser mais à direita nos costumes que Cury e diz que a fala dos deputados é “um gravíssimo erro” ao confundir a postura de algumas pessoas com a do partido.
“É uma retórica que se cria para desconstruir alguns candidatos. O PSD, a nível nacional, foi o partido que mais elegeu prefeitos. Eu posso dizer que ele tem muito mais [a ver com a] defesa do livre comércio, da liberdade econômica, de expressão, dos valores de família e, principalmente, do desenvolvimento econômico do país”, afirma Anderson.
Ele lembra que Cury já falou que Bolsonaro tem perfil “destruidor” e que não teria “aptidão para ser presidente”.
A declaração foi dada durante entrevista em janeiro de 2023, quando Cury era deputado federal pelo PSDB. Na ocasião, ele afirmou que Bolsonaro “ficou quatro anos brincando, xingando, atacando” e que não teria “inteligência e capacidade de gestão” para lidar com as “mazelas do Brasil”.
A Folha tentou contato com Cury, que não respondeu ao pedido de entrevista. Em sabatina antes do primeiro turno, o candidato afirmou que fez “críticas pontuais” ao ex-mandatário e que foi “muito rigoroso” com ele.
Cury e Anderson já foram aliados na política, associação que confundiu parte da população no primeiro turno, que pensava que os políticos ainda atuavam em parceria no pleito de 2024. Ambos também eram do PSDB antes de migrarem para os atuais partidos, em movimento que retrata a atual desidratação dos tucanos no país.
Cury já foi prefeito de São José dos Campos por dois mandatos (2005-2012) e deputado federal durante os anos 2015-2023. Depois de mais de 30 anos no PSDB, migrou para o PL neste ano.
Anderson, por sua vez, já foi secretário do adversário durante mandato dele no município. O atual prefeito assumiu o comando da cidade depois de Felicio Ramuth (PSD), de quem era vice, deixar a prefeitura para ser vice de Tarcísio. Enquanto o governador se mantém neutro, Ramuth se engajou na campanha de Anderson.
“Republicanos, partido do governador, está em nossa base de apoio e respeitamos sua decisão de neutralidade em função dos dois partidos comporem sua base de apoio da Alesp. No entanto, temos o apoio total do vice-governador, Felício Ramuth”, disse à Folha a assessoria de Anderson.
Entre os moradores de São José ouvidos pela Folha predomina a percepção de semelhança entre os políticos, a identificação com a direita e as queixas para problemas na saúde e no transporte da cidade.
No segundo turno das eleições de 2022, Bolsonaro teve 62,58% dos votos no município, contra 37,42% de Lula.
O candidato que ficou em terceiro lugar em São José no primeiro turno, Dr. Elton (União Brasil), com 19,89% dos votos, declarou apoio a Cury no segundo turno. Wagner Balieiro, do PT, ficou apenas em quarto, com 11,67% dos votos, e decidiu não apoiar nenhum postulante na segunda etapa da eleição.
Segundo Maria Luisa Andrada Silva, 60, dona de uma loja de roupas no bairro Vila Tesouro, foi difícil escolher entre Anderson e Cury. Ela diz ter ficado com “o coração doído” por ter de ir contra o candidato de Bolsonaro na cidade, mas preferiu seguir o conselho da pastora, que orientou o voto em Anderson.
“Porque ele [Anderson] é cristão e tem as pautas a favor da igreja”, diz Maria Luisa, que encontrou Anderson em evento corpo a corpo na estrada municipal Martins Guimarães. “Foi só questão de obediência [à pastora].”
Edna Raymundo, 62, diz que a demora no acesso a exames de saúde é um dos principais problemas de São José, além da falta de estrutura nos bairros. “Onde eu moro os ônibus demoram. A rua é de terra e não tem iluminação”, afirma ela, que vive no bairro Torrão de Ouro. Ela diz ser bolsonarista, mas afirma não acreditar em nenhum dos dois candidatos da cidade. Por isso, pretende anular o voto no segundo turno.
Rosângela Neves, 47, empresária depiladora, diz que saúde e educação precisam melhorar. Para ela, qualquer um dos candidatos terá o mesmo desafio para colocar em prática as melhorias necessárias na cidade. Sobre Bolsonaro, diz que o ex-presidente foi relevante e “fez o Brasil pensar”, mas foi inadequado na maneira de falar sobre muitos temas.
ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA / Folhapress