SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tudo na nova coleção da Another Place deu vontade de vestir, na temporada desfilada nesta terça-feira na São Paulo Fashion Week. As roupas e a trilha sonora eletrônica pareciam transportadas de uma pista de dança techno da década de 1990 para a passarela da semana de moda.
O vestuário da marca de Rafael Nascimento –bem conectado com a juventude–, pode e deve ser usado para sair à noite, mas se colocado de dia dá um leve toque de rebeldia. A 17ª coleção da etiqueta teve muito preto e detalhes em metal, como os ilhoses avantajados das calças, os spikes nas alças das bolsas e os fechos nas mangas das jaquetas.
Os jeans alaranjados cheios de personalidade lembraram as peças da marca britânica A Cold Wall, mas a Another Place não é uma cópia e tem a sua própria identidade, entre o utilitário, o sensual e o industrial. É um bom exemplo de moda urbana com pensamento de design, foco no público que quer atingir e preços possíveis.
O ótimo desfile compensou o atraso de mais de uma hora para começar, e os convidados, ansiosos para entrar na sala depois de ficarem esperando em pé, batiam palmas e diziam em voz alta “começa, começa!” na porta. Foi uma recepção bem animada para a primeira apresentação da SPFW no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no parque do Ibirapuera.
Atrasos à parte, a terça-feira marcou o retorno do evento para o prédio modernista de Oscar Niemeyer, e a boa arquitetura faz diferença, com as salas de desfile acessíveis pela rampa e uma gostosa parte externa junto ao verde.
Uma pena que o prédio esteja cercado por grades, o que estraga a pureza de seu desenho limpo e afasta a semana de moda do parque, criando uma redoma que perpetua a imagem de elitista e inacessível da moda. Qual o medo dos esportistas do Ibirapuera?
Na segunda-feira, Alexandre Herchcovitch mostrou sua nova coleção, a quarta desde que retomou as rédeas de sua marca. Desta vez, contudo, sem caveiras na passarela –seu código mais conhecido esteve praticamente ausente dos 32 looks desfilados, à exceção da estampa de uma regata, na qual ela surgiu colorida.
O primeiro bloco do desfile, com looks de festa, combinava com a suntuosidade da locação, o prédio da Estação Julio Prestes, inaugurado em 1938 –a plateia viu vestidos em jacquard e um costume masculino inteiro em paetê xadrez. Outros modelos desfilados traziam recortes geométricos que deixavam à mostra o tronco ou a parte lateral das pernas das modelos, uma roupa de verão ousada e sofisticada.
Também teve opções casuais, como o modelo desfilado por Johnny Luxo no final, uma calça jeans de cânhamo e uma camiseta supercolorida, colada ao corpo, com estampa psicodélica de Fábia Bercsek, dando um ar hippie anos 1970 para o conjunto. Poderíamos ter sido poupados, contudo, do look calça jeans e regata branca, genérico e nada Herchcovitch.
Em outra chave, o desfile de Weider Silveiro, nesta quarta, levou para a passarela um dos temas principais desta SPFW –as técnicas manuais usadas para a confecção de roupas. Na gravação tocada antes da apresentação, o estilista contou que a coleção gira em torno das festas populares do Nordeste e da triste sensação de despedida, que ele viveu constantemente ao dar tchau para os amigos que saíam de lá e que ele próprio experimentou ao deixar sua terra natal.
A paleta tranquila de tons terrosos, amarelo claro e azul trouxe vestidos de renda que deixavam o corpo à mostra e tops com elementos decorativos no mesmo tecido da roupa e que se mexiam com o caminhar.
JOÃO PERASSOLO / Folhapress