SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cantor Ney Matogrosso, 82, não tem medo de falar sobre drogas e critica a hipocrisia da sociedade atual em relação ao uso de substâncias. Segundo ele, em entrevista à revista Breeza, quando estiver morrendo, deseja ser drogado.
“Eu já conversei com um médico amigo meu [e disse]: ‘olha, se eu estiver morrendo, bota o ácido da melhor qualidade na minha boca e me deixe morrer. Não tente me manter vivo artificialmente e me dê um bom ácido e pronto, deixa eu ir’. Eu convivo com muita tranquilidade com essa ideia”, afirma.
Figura icônica que influenciou a psicodelia dos Secos e Molhados, Matogrosso defende o uso de substâncias para autoconhecimento. De acordo com ele, suas experiências espirituais com ayahuasca e LSD, por exemplo, o ajudaram a compreender melhor a vida e as relações pessoais.
“Já usei muitas coisas, mas nunca usei para festa. Eu uso para o meu entendimento próprio. Foi assim com o ácido. Eu tomei mais de 20 ácidos, mas tudo com foco no autoconhecimento. E a maconha também é para aumentar a minha percepção. Mas não faço uso regularmente. Uso a maconha quando tenho algum problema que eu não estou entendendo qual é a solução”, afirma.
Ele revela que as “20 viagens” foram também espirituais e não apenas psicodélicas. “Tomei ayahuasca por um ano e meio, mas só buscando o dentro, nada do lado de fora, sabe? Eu não estava a fim de ter miração, eu queria entender quem eu era, e entendi muita coisa”, conta.
Amigo de Cazuza (1958-1990), Matogrosso relembra a vez em que o músico notou que ele tinha um aspecto diferente. Foi quando Ney o levou para o meio de uma floresta e ofereceu a ele o chá de Santo Daime.
“Ele [Cazuza] andava com uma garrafinha que não deixava ninguém se aproximar, porque ele viajava com aquela garrafinha de daime, e só ele tomava. A reta final do Cazuza, pelo que eu saiba, ele tomou o daime. Mas ele tomava dois goles, não um copo”, lembra. “Sabe o que eu gosto de tomar hoje em dia? Uma colher. Não quero ficar desvairado, eu quero uma colher só para ficar na sintonia”, emenda.
Ney afirma à publicação que nunca se considerou abusivo no uso das drogas e que chegou a parar com a maconha quando percebeu que não entendia mais tudo o que as pessoas falavam a ele numa conversa.
“Eu comecei a achar que eu estava ficando paranoico, então passei muitos anos sem fumar. Nunca fiquei viciado, dependente, porque na hora que via que não estava batendo certo, eu parava. Não podia conviver com aquela sensação de que você falava uma coisa e eu entendia outra coisa.”
A entrevista completa com Ney Matogrosso está na 11ª edição da Breeza. Ela também está disponível em versão podcast.
Redação / Folhapress