RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – A forte estiagem e as elevadas temperaturas que atingem as regiões de produção de cítricos de São Paulo e Minas Gerais fizeram com que a estimativa da safra de laranja 2024/25 fosse reduzida em 16,6 milhões de caixas da fruta. A queda equivale à safra passada da Flórida (EUA), outrora grande concorrente do suco brasileiro no mercado internacional.
A reestimativa, divulgada pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) nesta terça-feira (10), significa que uma safra que já seria pequena -a pior em mais de três décadas- deverá ser ainda pior.
Das 232,38 milhões de caixas de 40,8 quilos da fruta previstas em maio, agora a estimativa é que o cinturão citrícola formado pelo interior paulista e Triângulo/Sudoeste mineiro produza somente 215,78 milhões.
A forte seca e as recentes queimadas registradas no país -especialmente em São Paulo, principal polo citrícola do mundo– pressionam a inflação dos alimentos e a laranja é uma das mercadorias que podem ter alta de preços num primeiro momento, ao lado do açúcar e do café.
Além de inflacionar o mercado interno, uma safra de laranja menor também afeta seriamente o mercado global da fruta, já que o Brasil responde por cerca de 75% do comércio internacional de suco de laranja no mundo.
A queda projetada na reestimativa é de 7,1% em relação à previsão feita em maio, mas o número atual, em comparação à previsão da safra 2023/24 (309,34 milhões de caixas), representa redução de 30,25%.
Se a safra agora reestimada se confirmar -caso o greening (principal praga da citricultura) e os efeitos do clima não prejudiquem mais-, ela será ligeiramente superior às 214 milhões de caixas apontadas pela CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) na safra 1988/89, até aqui a menor da série histórica.
No comunicado em que anunciou a previsão de queda na safra, o Fundecitrus afirma que a redução na estimativa se deve ao menor tamanho dos frutos, devido ao clima quente e seco.
No cinturão citrícola, choveu 31% menos do que o esperado desde maio, e a evapotranspiração por causa das altas temperaturas agravou o tamanho dos frutos.
O peso médio de cada laranja passou de 169 gramas para 155. Para encher uma caixa de 40,8 quilos, são necessárias agora 264 laranjas, 23 a mais do que o previsto em maio.
Newsletter Folha Mercado Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes. *** A onda de calor também acelerou a colheita, já que a maturação dos frutos foi antecipada. A média histórica é de 30% da safra colhida em agosto, mas na atual safra o índice alcançou 45%.
“Embora o ideal fosse aguardar o retorno das chuvas para intensificar a colheita, uma combinação de fatores tornou sua antecipação inevitável. O calor acelerou a maturação das laranjas, e a produção desta temporada apresenta uma elevada concentração de frutos da primeira e segunda floradas, que amadurecem mais cedo. Além disso, a necessidade de minimizar as perdas causadas pelo greening também contribuiu para acelerar o ritmo da colheita”, diz trecho de relatório do Fundecitrus.
TEMPERATURAS ELEVADAS
O documento aponta ainda que as temperaturas médias máximas de maio a agosto foram de 3ºC a 4ºC acima da média histórica de 1991 a 2020.
Os locais mais afetados pela estiagem foram o Triângulo Mineiro e a região de Bebedouro (SP), ambos sem chuva há quatro meses. Em outras regiões paulistas, como Votuporanga, São José do Rio Preto, Altinópolis e Matão, a chuva registrada foi insuficiente para melhorar a situação climática.
Todos os municípios do cinturão citrícola sofreram com a seca, alguns de forma mais intensa -6% com seca severa, 76% com seca moderada e 18% com seca fraca.
O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, identificou na sexta-feira (6) alta de 27,6% nas cotações da lima ácida taiti, o limão taiti, e avanço de 5,6% na laranja-pera. A laranja-pera é a variedade com maior redução na reestimativa do Fundecitrus, de 10,6%.
Brasil e Estados Unidos já chegaram a produzir, juntos, cerca de 600 milhões de caixas da fruta por safra na década de 1990, mas os Estados Unidos sofreram danos severos nos pomares com o greening, além de fenômenos climáticos, como o furacão Ian, que atingiu a região produtora na Flórida.
MARCELO TOLEDO / Folhapress