Seca extrema faz rio Madeira atingir mínima histórica em quase 60 anos

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A seca extrema no norte do Brasil tem produzido uma sequência de recordes de baixa para o período em pontos do rio Madeira, que corta Porto Velho, em Rondônia. É o que mostra o boletim de monitoramento hidrológico divulgado nesta terça-feira (6) pelo SGB (Serviço Geológico do Brasil).

O rio Madeira bateu recorde negativo para o mês de julho no dia 31, quando a estação de Porto Velho marcou 2,45 metros. Em 57 anos de medição, nunca houve indicadores tão baixos para o mês, segundo o SGB.

A água continuou descendo ao longo da semana e chegou ao nível de 2,07 metros nesta terça. O Madeira é uma das principais hidrovias do país, usada para transporte fluvial de carga e de passageiros na amazônia.

Desde o início de agosto, o rio registrou uma perda de 44 centímetros, ficando quase 3 metros mais baixo do que no mesmo período do ano passado. Os dados são da Rede Hidrometeorológica Nacional da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).

A perspectiva para os próximos dias é de uma subida lenta, devido a previsões de chuva, conforme o pesquisador em geociências do SGB Marcus Suassuna.

“Desde domingo, foram observadas chuvas na região do rio Mamoré, no município de Guajará-Mirim (RO), e isso pode impactar o cenário na bacia do rio Madeira, especialmente em Porto Velho, que está abaixo da faixa de normalidade. Portanto, são esperados repiquetes nas próximas semanas”, disse.

O rio Madeira apresentou sua pior seca em 2023, e seis dos maiores recordes de baixa vazão foram nos últimos dez anos.

Segundo as autoridades, esse cenário culminou no quadro atual, principalmente devido às chuvas abaixo da média de novembro de 2023 a abril deste ano. Com a seca severa enfrentada nos meses anteriores, as precipitações não foram suficientes para repor os níveis.

Por causa da estiagem, Porto Velho está em estado de emergência. Moradores das comunidades ribeirinhas já enfrentam as consequências da crise hídrica. No Baixo Madeira, o único poço da região, com 8 metros de profundidade, secou, deixando famílias sem acesso a fontes de água limpa.

A Defesa Civil do município disse que está sendo feita a distribuição de hipoclorito de sódio para tratamento de poços, águas de nascentes ou de rios, para o consumo dos moradores.

Afirmou ainda que equipes estão trabalhando para que seja executado, a partir da segunda quinzena de agosto, o cronograma de distribuição de água mineral em algumas comunidades. Outras localidades estão sendo contempladas com poços artesianos.

Ainda de acordo com a Defesa Civil de Porto Velho, a navegação noturna no rio Madeira continua proibida e o transporte aquático segue com a capacidade reduzida, o que significa que o volume de carga transportada neste período está abaixo da média, para garantir a segurança na navegação.

O órgão não recomenda que banhistas frequentem as praias do Madeira, por causa do perigo de afogamentos e ataques de animais como jacarés, cobras e arraias.

Nas redes sociais, o governo de Rondônia tem feito campanha para orientar a população sobre o uso consciente da água.

No início desta semana, a ANA declarou situação crítica de escassez de recursos hídricos no rio Madeira até 30 de novembro.

A agência também já alertou para a possibilidade de paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio por causa da seca. O quadro atual coloca em risco o funcionamento por ser uma usina a fio d’água, modelo de estrutura que depende do fluxo do rio para manter as turbinas em operação.

Além do impacto na usina, a seca do Madeira afeta outros rios na região de Rondônia, com sete apresentando níveis abaixo da cota média e próximos da mínima histórica.

ALÉXIA SOUSA / Folhapress

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