SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A seca histórica que atinge o país forçou uma mudança na dinâmica de empresas de logístico, que tiveram de buscar alternativas diante da diminuição do calado (profundidade) em rios brasileiros. O setor relata transferência de demanda entre modais e variação no preço do frete.
O cenário impulsiona a utilização de outros modais, como o rodoviário, segundo Marcio Salmi, diretor executivo da companhia. Ele explica que o acionamento mais frequente de rodovias encarece o preço do serviço.
Se o frete médio feito por caminhões no trajeto entre São Paulo e Manaus normalmente fica na casa dos R$ 40 mil, a seca faz os preços subirem para R$ 60 mil, segundo Salmi.
“É o preço que o mercado precifica, porque, como não tem solução de cabotagem, muita gente começa a buscar o rodoviário. E, mesmo que precise [das rodovias], às vezes não tem como atender, não tem capacidade”, diz.
A Costa Brasil chegou a fazer uma operação-teste, em junho, para levar carga para Manaus por meio de ferrovia. Essa, porém, é uma alternativa mais cara e que não deve ser usada por enquanto, já que outros modais estão conseguindo absorver a demanda. “Como a seca começou há pouco tempo, e o serviço ainda tem sido atendido, não há necessidade”, diz.
João Petroni, especialista da consultoria Argus, diz que a seca já impacta algumas rotas rodoviárias usadas para transportar grãos até os rios. Em certos corredores, o tempo de descarga nas hidrovias é maior por causa das limitações impostas pelas secas, o que desestimula o motorista a optar por aquele trajeto, explica.
“Muitos motoristas têm evitado essas rotas, então o frete sobe para tentar motivar o caminhoneiro a percorrer esse trajeto”, diz.
Segundo Petroni, a dificuldade de operação no Norte estimulou um desvio de fluxo para escoamento em outros pontos do país, o que pressionou o frete. “Algo que estava indo para o norte do país passa a ser encaminhado para o Sul, por exemplo.”
Na Log-In Logística, outra empresa de soluções logísticas, a seca está agregando um custo de aproximadamente R$ 15 mil por contêiner transportado, segundo o vice-presidente da companhia, Marcus Voloch. O valor considera toda a cadeia logística e inclui caminhões e balsas, por exemplo.
Os píeres flutuantes foram saídas encontradas pelo setor para manter a operação durante a estiagem. Por meio dessas estruturas, as cargas de embarcações maiores são transferidas para balsas, que têm mais facilidade para circular pelos rios assoreados.
Porém, essa é uma operação inflacionária, e os custos são percebidos pelo setor. Voloch explica que, enquanto um navio pode carregar quase 2.000 contêineres para Manaus, uma grande balsa leva cerca de 160, somente, o que acarreta um custo adicional.
“No entanto, é indiscutível que é muito melhor agregar R$ 14 mil ou R$ 15 mil de custo por contêiner transportado do que parar por seis semanas, como foi no ano passado”, afirma.
Voloch diz que 2023 foi um ano de ruptura, com caos instaurado. À época, diante da seca, o setor concentrou as operações no porto de Vila do Conde, no Pará, sobrecarregando o terminal, explica.
A expectativa da empresa é que a seca deste ano dure até dezembro.
A Log-In foi uma das empresas autorizadas pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) neste ano a contratar embarcação de empresa estrangeira para fazer parte da operação.
O afretamento de embarcação estrangeira por tempo para operar na navegação interior (como em rios e lagos) de percurso nacional ou no transporte de mercadorias por cabotagem é previsto em lei, somente, para algumas exceções, como indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira do tipo e porte adequados. O contrato depende da autorização do órgão regulador.
PAULO RICARDO MARTINS / Folhapress