CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A Seed (Secretaria de Estado da Educação) do Paraná enviou um vídeo para o celular de pais e responsáveis de alunos da rede pública em que ataca a greve dos professores, que começou na última segunda (3) e se encerrou já na noite de quarta (5).
De acordo com a APP-Sindicato, entidade que representa os trabalhadores da educação no estado, os disparos em massa foram feitos ao menos em duas ocasiões, nos dias 28 de maio e 3 de junho, e partiram do mesmo número usado pela Seed para comunicados.
O material não tem a assinatura da pasta ou do governo estadual, mas, em nota à RPC-TV, a Seed admitiu que havia feito o vídeo “para alertar os pais”, conforme reportagem exibida pela emissora nesta quinta (6).
Procurada pela Folha nesta sexta, a secretaria disse apenas que “está apurando os fatos”. “Ressalta-se que a pasta zela pela transparência”, acrescentou.
A Folha questionou a pasta sobre o custo da produção do vídeo, o número de pessoas que o receberam e o motivo do envio sem assinatura. A reportagem também perguntou sobre a utilização de dados pessoais -telefones de pais e responsáveis- para envio do material, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
O deputado estadual Requião Filho (PT) protocolou um requerimento na Alep (Assembleia Legislativa do Paraná) para convocar representantes do governo estadual a dar explicações sobre o episódio. “Não é um vídeo institucional. É um vídeo político, ideológico”, disse o deputado.
O conteúdo ataca o sindicato e fala de manifestações “partidárias e violentas” quem colocariam “seu filho em risco”.
“Este é um recado para você, pai, para você, mãe, para você que se preocupa dia e noite com o seu filho. Esta é a hora para ficar ainda mais alerta. A APP-Sindicato anunciou uma greve e está espalhando desinformação entre professores e alunos. Manifestações repletas de violência são possíveis de acontecer, um cenário que coloca o seu filho em risco”, inicia o narrador.
“Tenho certeza que você concorda que o lugar de estudante é na escola, jamais nas ruas, exposto ao caos e aos perigos de manifestações partidárias. Nossos adolescentes precisam estar seguros, protegidos, ao lado dos professores. Lugar de professor também é na escola, não existe motivo que justifique a paralisação. A greve é injusta com os alunos, prejudica o ano letivo e ameaça o período de férias”, continua o vídeo.
Presidente da APP-Sindicato, a professora Walkiria Olegário Mazeto disse que a entidade reagiu ao vídeo com “indignação e preocupação”.
“Num país polarizado politicamente, como vivemos, um conteúdo que criminaliza a luta dos movimentos pode construir na população um ódio a todo tipo de luta dos trabalhadores”, afirmou ela.
“O vídeo foi disparado uma semana antes do início da nossa greve. O tom e os termos usados criminalizam todos os movimentos, sejam eles sindicais, sociais, populares ou estudantis”, acrescentou.
Na terça-feira (4), o governo estadual, através da PGE (Procuradoria Geral do Estado), chegou a pedir a prisão de Walkiria por supostamente desobedecer a uma liminar que tratava da greve. No pedido, a procuradora do Estado Mariana Carvalho Waihrich menciona protesto encabeçado pela APP-Sindicato na Alep e que terminou em confusão.
O ato tinha relação a votação do projeto de lei do governador Ratinho Junior (PSD) que permite que a gestão administrativa de escolas seja feita por empresas. A multidão que participava da manifestação forçou a entrada no prédio do Legislativo e foi recebida com bombas de gás lacrimogêneo.
Cinco pessoas tiveram ferimentos leves, incluindo dois policiais militares que faziam a segurança do local. Waihrich chamou a mobilização dos professores de “atos antidemocráticos e terrorismo”.
O projeto de lei foi aprovado por ampla maioria na Assembleia Legislativa e sancionado ainda na noite de terça pelo governador.
CATARINA SCORTECCI / Folhapress