RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O secretário estadual de Transportes do Rio de Janeiro, Washington Reis (MDB), usou dias de trabalho na pasta para visitar obras em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele trabalha para tentar eleger o sobrinho Netinho Reis (MDB) como prefeito de Caxias, reduto eleitoral da família. O atual prefeito, Wilson Reis (MDB), é tio de Washington.
O secretário do governador Cláudio Castro (PL) usou 19 dias de agosto para visitar obras de pavimentação, canalização e iluminação em Caxias, sem relação com a pasta de transportes.
Na secretaria, sua agenda pública em agosto teve apenas oito dias de compromissos, metade deles entrevistas a emissoras de rádio e televisão.
Washington tirou férias da secretaria em setembro. Neste mês, visitou obras em Caxias em pelo menos 16 dias. As férias terminam em 7 de outubro, dia seguinte ao domingo de votação.
Durante a licença, o chefe de gabinete Rogério Sacchi é quem responde pelo expediente da pasta.
Todas as visitas a obras são registradas em vídeos publicados nas redes sociais do secretário e também enviados em listas de transmissão do WhatsApp.
No dia 5 de agosto, Washington publicou quatro vídeos acompanhando trabalhos da prefeitura em Duque de Caxias um às 8h20, outro às 10h30, mais um às 14h40 e um novo às 15h45. A agenda como secretário marcava despachos internos.
No dia 13 de agosto, a lista de compromissos registrava uma reunião com o presidente do Detro (Departamento de Transportes Rodoviários). Uma foto do encontro foi publicada nas redes.
No mesmo dia, Washington visitou a construção de um viaduto às 8h30, acompanhou obras da canalização de um canal às 14h30 e fez um vídeo caminhando por uma rua que recebera nova pavimentação e iluminação em LED às 18h.
Procurado por telefonema e mensagens, Washington Reis não respondeu.
Em nota, a Secretaria de Transportes do estado disse que “os ocupantes dos cargos de secretários de estado, presidentes de autarquias ou fundações mantidas pelo poder público estão isentos de controle diário de horário e frequência, conforme decreto”.
“É possível conciliar todas as atribuições e responsabilidades relativas à função com atividades externas de diferentes naturezas”, diz a nota. A pasta argumenta ainda que o secretário pode consultar e assinar projetos remotamente e que “conta com um corpo técnico que o subsidia todo o tempo”.
O governo estadual atravessa crise nos transportes, especialmente com a SuperVia, concessionária que administra os trens urbanos.
O serviço de trens está mantido por meio de uma liminar obtida pelo governo estadual. A SuperVia afirma que corre risco de falir e diz ter direito de receber pagamentos do governo do estado. Do outro lado, Washington Reis chegou a dizer que poderia reestatizar o serviço.
O caso tramita na Vara Empresarial. A SuperVia e o governo do estado têm até o fim do mês para comprovar ao juízo o encerramento das negociações.
No metrô, o Tribunal de Contas do Estado aprovou somente neste mês a retomada das obras da estação da Gávea. A construção foi parada em 2015 por suspeita de faturamento. O subterrâneo está desde 2018 inundado de água para evitar danos estruturais em prédios do entorno.
Washington Reis assumiu a secretaria em janeiro de 2023. Era prefeito de Duque de Caxias até abril de 2022, quando renunciou para ocupar a vaga de vice-governador na chapa de Castro, mesmo inelegível por uma condenação por crime ambiental em 2016.
O tio Wilson Miguel Reis (MDB), então vice-prefeito, tomou posse em Caxias, mas Washington seguiu mantendo influência na prefeitura. Ele participa de eventos de inauguração e faz discursos como realizador.
Em agosto de 2022, a segunda turma do STF (Supremo Tribunal Federal) manteve condenação de Washington por danos ambientais em unidade de conservação e parcelamento irregular do solo. Ele foi substituído por Thiago Pampolha (MDB), atual vice-governador.
Em setembro de 2022, Washington foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal, durante investigação de desvios na saúde por meio de cooperativas de trabalho.
Voltou a ser alvo de busca e apreensão na investigação da falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19 em torno do ex-presidente Bolsonaro, já indiciado nesse caso.
Segundo a PF, partiu de Duque de Caxias a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19. João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de governo de Caxias, teria inserido dados fraudulentos no sistema do SUS.
Na casa de Washington, agentes encontraram R$ 160 mil, além de dólares e euros.
Em nota divulgada em suas redes sociais, Washington ligou a a operação à polarização política.
No mesmo mês da busca e apreensão, Washington levou Bolsonaro a Duque de Caxias para um ato no calçadão da cidade. Ele, Bolsonaro, Netinho Reis e Alexandre Ramagem (PL), candidato a prefeito no Rio, fizeram carreata pelas ruas.
YURI EIRAS / Folhapress