SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após revelar a existência de um chat no qual autoridades dos Estados Unidos discutiam planos militares, a revista Atlantic publicou, nesta quarta-feira (26), detalhes do que seriam essas conversas por meio de prints, que incluem mensagens do secretário de Defesa, Pete Hegseth, afirmando o horário de uma operação para assassinar um rebelde houthis no Iêmen.
De acordo com Jeffrey Goldberg e Shane Harris, que assinam o texto, a revista havia resolvido ocultar informações muito específicas que pudessem colocar em risco a segurança de funcionários americanos. No entanto, declarações de membros do governo Trump os fizeram repensar a decisão.
Embora tenham admitido o vazamento, revelado na segunda-feira (24), a gestão optou por afirmar, ao longo de terça (25), que não havia material confidencial no “Houthi PC small group” (pequeno grupo Houthi PC).
“Há um claro interesse público em divulgar o tipo de informação que os conselheiros de Trump incluíram em canais de comunicação não seguros, especialmente porque figuras de alto escalão do governo estão tentando minimizar a importância das mensagens compartilhadas”, afirmaram os autores.
O chat, abrigado no Signal, tinha 18 pessoas, segundo a publicação incluindo Steve Witkoff, enviado de Trump para o Oriente Médio; Susie Wiles, chefe de gabinete da Casa Branca; e o próprio Goldberg, editor-chefe da revista, que teria sido incluído acidentalmente.
Conhecido por seu alto nível de segurança, o aplicativo de mensagens costuma ser utilizado por jornalistas e políticos. Conversas sobre assuntos tão delicados em uma plataforma como essa, porém, deixaram políticos e ex-servidores americanos atônitos funcionários de alto escalão para a segurança nacional dos EUA têm sistemas próprios para comunicar informações secretas, e dados a respeito de alvos são considerados cruciais antes de uma campanha militar.
Membros da gestão Trump correram para minimizar o escândalo. “Não havia material confidencial que fosse compartilhado naquele grupo do Signal”, disse o diretor de inteligência nacional, Tulsi Gabbard, em uma audiência no Senado. “Ninguém estava enviando planos de guerra por mensagem de texto”, afirmou Hegseth.
Mas de acordo com o texto publicado nesta quarta, no final da manhã do dia 15 de março, o secretário de Defesa escreveu o que seria uma “atualização da equipe”, em suas palavras. “O clima está favorável. Acabei de confirmar com o Centcom que estamos prontos para o lançamento da missão”, afirmou, em referência ao Comando Central no Oriente Médio do Exército dos EUA.
Em seguida, ele dá detalhes dos horários e armas utilizadas nos bombardeios no Iêmen, onde os rebeldes houthis estão baseados o que se concretizaria em seguida:
– 1215et: F-18s LANÇADOS (1º pacote de ataques)
– 1345: Janela de Ataque ‘Baseado em Gatilho’ dos F-18s começa (O Terrorista Alvo está em sua Localização Conhecida, então DEVE SER PONTUAL também, Drones de Ataque Lançados (MQ-9s)
– 1410: Mais F-18s LANÇADOS (2º pacote de ataques)
– 1415: Drones de Ataque no Alvo (É QUANDO AS PRIMEIRAS BOMBAS VÃO CAIR DEFINITIVAMENTE, dependendo de alvos anteriores ‘Baseados em Gatilho’)
– 1536 Início do 2º Ataque dos F-18s também, primeiros Tomahawks lançados de navios.
– MAIS POR VIR (de acordo com a linha do tempo)
– Estamos atualmente seguros em OPSEC
– Boa sorte para nossos Guerreiros.
Horas depois, o conselheiro de segurança nacional, Mike Waltz, confirmou ao grupo o assassinato do principal especialista em mísseis dos houthis. “Tínhamos uma identificação positiva dele entrando no prédio de sua namorada e agora ele desabou”, escreveu.
Após a publicação mais recente, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, que também estava no grupo, tentou minimizar o vazamento. “Está muito claro que Goldberg exagerou no que tinha”, afirmou o político na rede social X.
Waltz também voltou a tentar subestimar o caso nesta quarta. “Sem localizações. Sem fontes e métodos. Sem planos de guerra. Parceiros estrangeiros já haviam sido notificados de que os ataques eram iminentes”, escreveu no X. Na terça, em uma entrevista à Fox News, ele havia dito que assumiria “total responsabilidade”, já que havia criado o grupo.
Alina Habba, ex-advogada de Trump e sua atual conselheira, usou o mesmo tom ao falar com jornalistas na Casa Branca, além de ter defendido o uso do Signal para comunicações oficiais de alto nível. “Olha, é o que é. No fim das contas, isso é, na minha opinião, algo com o qual estão fazendo um grande alarde por nada”, afirmou. “Estamos ao lado de Mike Waltz; ele está fazendo um trabalho tremendo. Acho que isso é uma distração.”
O Exército dos EUA se recusou a oferecer detalhes básicos sobre a ofensiva no Iêmen, incluindo quantos ataques foram realizados, quais líderes foram alvejados ou mortos e até mesmo se a operação tem um nome.
Redação / Folhapress