SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tema que voltou a dominar a discussão entre os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo nos últimos dias, a segurança pública é vista como um campo minado que deve protagonizar a campanha eleitoral de 2024, segundo estrategistas ouvidos pela reportagem.
Depois de sofrer uma tentativa de assalto no sábado (9) no centro da capital paulista e gravar um vídeo mostrando sua boca ferida, a deputada federal Tabata Amaral recebeu provocações do rival Ricardo Salles (PL) e solidariedade do também adversário Guilherme Boulos (PSOL). Ela deve disputar a prefeitura pelo PSB.
Um dia antes, uma tentativa de roubo a uma repórter da TV Globo na avenida Paulista, transmitida ao vivo no programa Encontro, também mobilizou comentários dos pré-candidatos.
“Nunca me senti tão insegura na minha cidade. Essa não é a São Paulo em que eu quero criar meus filhos. Precisamos ter coragem de dar um basta”, disse Tabata no vídeo.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que concorrerá à reeleição, chegou a ensaiar um post para responder à deputada, mas desistiu quando Salles e Boulos entraram no circuito. A avaliação de seus aliados foi a de que o episódio havia se tornado um bate-boca eleitoral.
Na mensagem, Nunes iria lamentar o ocorrido, mencionar que esse problema assola as capitais em todo o país, além de se comprometer a cobrar autoridades e seguir trabalhando para conter os furtos na cidade, segundo um aliado disse à reportagem.
Ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), Salles classificou Tabata como esquerdista e fez referência ao apoio da deputada a Lula (PT) no ano passado.
“Interessante ver os candidatos esquerdistas reclamando dos assaltos em SP. Justamente eles que sempre defenderam bandidos e xingaram a polícia. Faz o L agora, para de fingimento e não enche a paciência”, publicou Salles, que ainda tenta viabilizar sua candidatura.
“Lamentável um ‘político’ transformar mais um caso de violência na cidade em debate ideológico. Que vergonha”, rebateu ela também no X.
Na visão de pré-candidatos como Nunes e Salles, além do deputado Kim Kataguiri (União Brasil) e Marina Helena (Novo), o tema da segurança favorece os postulantes da centro-direita, enquanto expõe contradições e despreparo entre os nomes da centro-esquerda.
Já interlocutores de Boulos e de Tabata, com a ressalva de que esta última se classifica como uma candidata de centro, afirmam pensar o contrário que a crise de segurança atual prejudica mais o prefeito, que tem que responder pelos casos de roubos.
Por essa razão, em ambas as pré-campanhas, a orientação é explorar o tema e não se esquivar em vez de deixar a direita reinar sozinha.
Da mesma forma que Tabata, Boulos mencionou o problema da segurança em São Paulo em sua publicação no sábado. “Minha solidariedade à deputada Tabata Amaral, que vivenciou hoje o drama que tem afetado milhares de paulistanos. A cidade de São Paulo vive um momento crítico, com falta de comando e um completo caos na segurança pública.”
Apesar de a segurança pública ser atribuição direta do governo do estado, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Nunes na disputa municipal, uma opinião compartilhada entre a maioria dos pré-candidatos é a de que a cobrança da população recai também sobre a prefeitura e o governo federal, já que todos os níveis de governo têm ações que impactam o combate à criminalidade.
Nesse sentido, aliados de Nunes admitem que o prefeito é alvo dos demais quando o assunto é a insegurança, mas afirmam que a estratégia, em vez de jogar o problema para o Palácio dos Bandeirantes, será apresentar medidas da gestão, como investimentos na GCM (Guarda Civil Metropolitana), ações de recuperação urbana no centro e aumento para os policiais que atuam na Operação Delegada na cracolândia.
Outro argumento do prefeito é o de que a parceria com o governo Tarcísio, com quem ele tem mais interlocução do que os adversários, é fundamental para reduzir os roubos na capital.
Pesquisas internas da equipe de Nunes identificam um apelo da população pelo endurecimento de ações contra criminosos e, por isso, no entorno do prefeito, a leitura é a de que os candidatos à esquerda dele, como Boulos e Tabata, têm mais a perder do que ele nesse terreno.
Um sinal da atenção de Nunes à questão da segurança foi o aceno do prefeito ao delegado Osvaldo Nico, secretário-executivo da secretaria estadual de Segurança Pública, chamando-o de vice-prefeito durante um evento na sexta-feira (8). Num arranjo abençoado por Tarcísio, Nico é cotado para formar chapa com Nunes.
Outros que prometem surfar a onda linha-dura são Salles, Kim e Marina, que colocam a segurança como principal tema da campanha e se inspiram na política de tolerância zero do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani. A pré-candidata do Novo propõe até armar os agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Para esse campo político, a defesa dos direitos humanos protagonizada pela esquerda a desabilita perante o eleitor para defender medidas de enfrentamento à violência.
“A segurança é um calcanhar de Aquiles para a esquerda, porque eles nunca a trataram como prioridade e vão na contramão do anseio da população pelo endurecimento da lei penal”, afirma Kim, ressaltando ter aprovado na Câmara um projeto para aumentar as penas para furto e outros crimes sem os votos de Tabata e Boulos, que se abstiveram.
Nessa mesma linha, auxiliares do prefeito avaliam que Tabata deu um tiro no pé ao politizar a tentativa de assalto, dando margem para que seus próprios eleitores cobrem maior alinhamento com a pauta da segurança.
Já estrategistas da deputada afirmam que ela acertou no tom e deu voz a um sentimento de indignação que é compartilhado pelos moradores da cidade. Aliados de Tabata dizem ser evidente que ela não atua na defesa de bandidos como os adversários querem fazer parecer mesma ponderação da pré-campanha de Boulos.
Interlocutores do psolista afirmam querer mostrar que não há contradição entre defender os direitos humanos e o aumento do policiamento, desmistificando o que chamam de espantalho criado pela direita campo que, para eles, se esconde no discurso popular da linha-dura porque não tem medidas de fato efetivas para apresentar.
Ainda na visão do grupo de Boulos, Nunes, como atual gestor, é quem sai fustigado no debate da segurança. O deputado, por sua vez, defende que a prefeitura amplie a fiscalização do comércio irregular de celulares, aumente o efetivo da GCM e requalifique o centro com moradia e comércio.
CAROLINA LINHARES / Folhapress