SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cidade de São Paulo não tem nesta quinta-feira (8) mais endereços sem energia elétrica por problemas relacionados ao apagão de sexta-feira (3), quando uma tempestade atingiu o estado, de acordo com a Enel. Segundo a companhia, todos os imóveis impactados na capital tiveram o serviço restabelecido.
O prazo para solucionar o problema era terça-feira passada.
Contudo, 1.300 endereços em Cotia e Embu seguem às escuras nesta quinta, seis dias após o início do apagão que deixou 2,1 milhões de clientes da Enel no escuro.
Em paralelo, a empresa diz que atua para normalizar cerca de 30 mil registros de falta de luz que ocorreram a partir de sexta, em todas as cidades onde tem a concessão, mas que não estão relacionados ao apagão.
“A Enel Distribuição São Paulo restabeleceu na manhã dessa quinta-feira, 09/11, o fornecimento de energia a praticamente todos os clientes impactados na última sexta-feira (3) após a forte tempestade com rajadas de vento de mais de 100 km/h”, reforçou a empresa.
No entanto, há relatos de clientes que afirmam ainda ter problemas no abastecimento. É o caso do engenheiro civil Claudio André, 58, que mora em um condomínio de oito casas, na rua José Geraldo Rodrigues Alckmin, no Alto da Boa Vista, em Santo Amaro.
“Na sexta (3), durante o temporal houve um curto-circuito e uma explosão no transformador que fica em um poste na frente do condomínio. Desde então estamos sem energia”, afirma.
André diz que na segunda (6) uma equipe da Enel foi ao local, realizou uma inspeção, mas não resolveu o problema.
“Disseram que por ser no transformador outra equipe é a responsável. Abrimos vários chamados, sempre dizem que vão enviar equipes, marcam horário, a gente espera, mas ninguém aparece”, conta.
Ainda de acordo com o engenheiro, o condomínio tem três fases de energia, por isso, algumas luzes funcionam, mas os equipamentos mais potentes, não.
“Os equipamentos que puxam mais corrente ou que estão em 220, como chuveiros elétricos, aquecedores, máquina de lavar, de secar roupa, internet, não funcionam. Estamos todos sem geladeira e água quente, por exemplo. Tem gente que teve de procurar espaço coworking para trabalhar, lavar roupa na casa da mãe e vários outros transtornos. Tem duas crianças recém-nascidas aqui, o que deixa tudo ainda mais complicado para essas famílias”, explica.
A Enel respondeu que iria enviar uma equipe ao local. A energia voltou no condomínio por volta das 15h20, após a ida da equipe.
Segundo a companhia, foram reconstruídos 100 quilômetros de rede desde a sexta e 95% das ocorrências teriam sido causadas por queda de árvores.
Questionado em entrevista coletiva, na quarta, sobre a rapidez no atendimento, Max Xavier Lins, diretor presidente da Enel SP, disse que a empresa havia se preparado para uma tempestade menor na sexta.
“Quando a gente se prepara para uma tempestade de 55 km/h e vem uma tempestade de 104 ou 105 km/h não é como se tivéssemos duas chuvas 50 km/h. A intensidade é exponencial”, disse o executivo.
Ele afirmou que a companhia tinha 300 equipes de manutenção mobilizadas na sexta, pois já havia uma expectativa de queda de árvores. Lins diz que o número de equipes subiu para 900 e agora há 1.200 nas ruas -em cada uma, há em média sete funcionários.
O executivo afirmou que agora há uma “parte pequena” da população ainda afetada pela ventania, e que isso ocorre porque o trabalho para rodar a energia nesses locais é mais complexo. São fios de baixa tensão, segundo o executivo, e cada uma abastece porções menores do território.
“Precisamos ‘pinçar’ cada um desses locais”, disse Lins. Segundo o executivo, 95% das ocorrências de queda de energia na sexta-feira ocorreram por queda de árvores.
Já os casos de apagão posteriores à ventania têm diversos motivos, e nem todos estão relacionados a chuva e mau tempo, segundo Lins. “Gostaria de tratar esses dois números de forma separada”, disse.
DEMORA EM RELIGAÇÃO GERA REVOLTA
A falta de energia provocou uma série de protestos na capital paulista e na Grande São Paulo. Na manhã desta quarta-feira, moradores de Sapopemba faziam um protesto pela volta da energia na avenida Custódio de Sá e Faria, segundo a Polícia Militar.
Outro protesto ocorreu na noite de terça na Vila Leopoldina, na zona oeste. Moradores de um condomínio da rua Carlos Weber, que estava há mais de quatro dias sem luz, fecharam uma parte da via com galhos de árvores e gritaram palavras de ordem por volta das 19h. A falta de energia também afetou estabelecimentos comerciais nas ruas Brentano e Nanuque por mais de 96 horas, de acordo com moradores.
Segundo Sandra Brait, 56, proprietária de uma lavanderia vizinha aos imóveis afetados, a luz só voltou no local por volta das 9h desta quarta, ou seja, o bairro está entre os locais em que a promessa da Enel de retorno da energia foi descumprida.
CONCESSIONÁRIA É ALVO DE PREFEITURA, PROMOTORIA E PARLAMENTARES
Após a tempestade, a concessionária de energia elétrica tornou-se alvo de vários procedimentos em esferas do Executivo, Legislativo e Judiciário.
Nesta quarta, a Prefeitura de São Paulo informou que vai processar a empresa por causa da falta de energia. Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a Procuradoria-Geral do Município entrará com ação civil pública por descumprimento de acordo da empresa com a capital paulista e de outras normas legais.
Já o Ministério Público de São Paulo propôs que a Enel pague uma indenização aos donos dos 2,1 milhões de imóveis atendidos pela concessionária no estado e que ficaram sem luz.
O presidente da Enel Distribuição SP foi convocado nesta quarta para depor em uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa de São Paulo. O presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, também foi convocado. Os deputados estaduais devem questioná-los sobre a redução no quadro de funcionários da empresa.
Em nota, a Enel afirma que prestará todas as informações necessárias às autoridades. “A companhia acrescenta que mantém uma relação de transparência com seus clientes e todos os seus públicos e está fortemente comprometida em oferecer um serviço cada vez melhor à população”, declarou.
FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress