Selo oficial do Detran tenta diminuir estresse de autistas no trânsito

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um simples adesivo no carro indicando a presença de uma pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista) a bordo pode contribuir para uma melhor comunicação no trânsito. Foi o que aconteceu quando a gerente comercial Sarita Melo, 30, dirigia pela marginal Tietê e viu um carro envolvido em um acidente.

O automóvel levava a identificação veicular de autismo. Sarita, que é mãe de Elisa, 5, autista, reconheceu na hora o selo e parou para prestar ajuda.

“Estacionei o carro quando vi o adesivo e percebi que ali estavam sozinhas mãe e filha. Meu cuidado foi de acolher, pedir um cuidado extra, pois a criança poderia sofrer crises diante do trauma. Os policiais e socorristas poderiam não entender as necessidades daquela família”, diz.

Lançada no último dia 2, a identificação veicular gratuita, idealizada pelas secretarias de Gestão e Governo Digital e dos Direitos da Pessoa com Deficiência, com apoio do Detran-SP e da Prodesp, teve 5.030 downloads até esta quinta-feira (24) no mesmo portal onde são feitos os pedidos para emissão da CipTEA (Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista).

No Estado de São Paulo, a estimativa é que existam 460 mil pessoas com TEA, das quais mais de 45 mil possuam carteirinhas da CipTEA. Com o adesivo, a ideia é também conscientizar motoristas para que não buzinem, impedindo assim o desconforto de autistas nas ruas e avenidas.

Para Sarita, o adesivo funcionará também como forma de conscientização. “Às vezes é preciso parar em lugar inapropriado porque aquela criança ou adulto [com TEA] não está querendo colocar o cinto de segurança, por exemplo. Aas pessoas ao redor, vendo o adesivo, poderão entender que há motivo para aquela situação.”

Mãe também de uma criança autista, a estilista Izabella Locattelli, 30, destaca que a sinalização permite à família atípica transitar com menos som de buzina e estacionar com mais tranquilidade. “É uma iniciativa importantíssima, já que, em se tratando de deficiências ocultas, as pessoas têm pouca informação.”

Izabella afirma que, desde que passou a usar o adesivo, sente que as pessoas demonstram mais paciência com seu automóvel no trânsito.

“Na semana passada, precisei parar em frente a um estabelecimento, mas havia dois cones bloqueando a vaga. Um rapaz que trabalhava no local apontou para a identificação no carro, e na mesma hora o segurança desobstruiu a passagem”, conta.

Para o vice-presidente do Detran-SP, José Hott, a identificação veicular é mais uma medida em busca de um ambiente de paz no trânsito.

“Assim como as placas, o semáforo, o veículo passa a ter um destaque. O objetivo é que a sociedade, de uma forma gentil, tenha a percepção que aquele carro transporta uma pessoa com autismo e evite buzinar. Um sinal de compaixão, empatia e de uma convivência harmônica e pacífica no trânsito.”

A mestre e doutora em neurociências pela Unifesp/EPM, Tatiana Mesquita e Silva, afirma que é comum ver crianças autistas taparem os ouvidos, se esconderem ou terem medo de alguns sons e objetos.

“Muitas vezes esses comportamentos acontecem devido à hipersensibilidade auditiva. Em alguns casos, estímulos auditivos considerados normais, estímulos imprevisíveis -como o som de uma buzina- ou até mesmo estímulos inaudíveis podem gerar sofrimento, angústia e dor física”, diz.

“Como há diversas informações que as pessoas desconhecem, é muito importante que a conscientização sobre o autismo seja feita todos os dias e de todas as formas”, acrescenta a especialista.

COMO BAIXAR O SELO

O usuário pode cadastrar seu veículo no portal da CipTEA para obter a identificação. No site, basta clicar em “Cadastro de Veículo” e inserir placa e Renavam.

Quem tem a carteirinha CipTEA já pode baixar e imprimir a identificação veicular, mas a iniciativa vale também para os novos pedidos, mediante a validação dos cadastros das placas.

A CipTEA facilita a identificação da pessoa com TEA nos serviços públicos e privados em todo o estado de São Paulo, além de auxiliar na garantia dos direitos previstos em lei, como atendimento preferencial.

É permitido cadastrar apenas um veículo por beneficiário. Vale ressaltar que a identificação veicular não dá benefícios no trânsito aos usuários.

HAVOLENE VALINHOS / Folhapress

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